Terminais do Porto de Santos temem falta de mão de obra voltada à alta tecnologia

Concorrência mundial por profissionais acende alerta às empresas

Por: Matheus Müller  -  17/06/21  -  12:03
Atualizado em 17/06/21 - 12:12
  Em novo cenário, operadores de guindaste passarão a trabalhar de maneira remota
Em novo cenário, operadores de guindaste passarão a trabalhar de maneira remota   Foto: Carlos Nogueira/AT

Empresas de tecnologia com atuação em Santos e nos demais portos do País demonstram preocupação em relação à falta de profissionais capacitados em programação de sistemas, tecnologia da informação e automação, o que pode prejudicar o desenvolvimento das atividades do setor no curto e longo prazo. Tais conhecimentos são considerados essenciais para o crescimento produtivo dos portos.


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O alerta ocorreu no segundo painel do 1º Encontro Porto & Mar 2021, evento realizado nesta quarta-feira (16), no auditório do Grupo Tribuna, que também contou com a participação de 500 espectadores inscritos para acompanhar pela plataforma Zoom.


De acordo com a gerente de Sistemas da operadora portuária Santos Brasil, Adriana Augusto, além de serem poucos os profissionais qualificados, o mercado mundial é concorrente e acaba absorvendo boa parte dessa mão de obra, que tem a possibilidade do trabalho remoto. “Em três meses, perdi três ou quatro profissionais. Estão audaciosos (os concorrentes). Os valores oferecidos a essas pessoas (funcionários) acabam sendo até irrecusáveis. Acho que, lá na frente, ainda vamos sentir isso (baixo número de profissionais). Até a gente ter mão de obra suficiente vai ser bem complexo (estruturar a tecnologia e automação)”, diz a gestora.


Adriana prevê “ter que ensinar as crianças a programar para que se tenha uma geração pronta para 2030”. Ao mesmo tempo, a gerente da Santos Brasil observa que as empresas podem ajudar nesse processo ao capacitar estagiários, criar processos de formação interna.


Características e informação


O gerente de Tecnologia da Informação (TI) da operadora portuária DP World Santos, Elder Coppi, entende que o profissional, de agora em diante, terá como diferenciais “a resolução de problemas complexos, liderança, trabalho em equipe, criatividade”, pois, segundo ele, é o comportamento humano que o distingue de um robô.


Coppi acredita, ainda, na mudança de metodologia aplicada para o ensinamento desses futuros portuários. Ele diz não acreditar mais no modelo de educação que estipula quatro anos em universidades, com passagem em uma empresa, complemento com MBA ou outra graduação.


“O que vejo cada vez mais são profissionais quase híbridos, com cinco formações e diferentes skills”


“Acho que, em países mais avançados, isso está mudando, porque muita coisa já está na internet. Muita fórmula, regra, isso você busca na internet, não precisa buscar em uma sala de aula por quatro ou cinco anos. O que vejo cada vez mais são profissionais quase híbridos, com cinco formações e diferentes skills (habilidades), e acho que a diferença não vai ser mais simplesmente técnica, mas comportamental”, afirmou Coppi.


O especialista em Sistemas da Informação da Santos Brasil, Marcelo Rosa, reforça: existem profissionais capacitados para desempenhar as funções e desenvolver projetos no País, inclusive de automação, mas estes precisam de investimentos.


Tecnologias e automações prometem transformar empregos


Os investimentos em tecnologia e automação tendem a aumentar a eficiência dos portos e, consequentemente, mudar o cenário de atuação no setor, com mais empregos voltados às áreas de programação, tecnologia e programação.


“Os trabalhos de 2030 serão diferentes dos de agora, que ainda estarão lá, de forma diferente”, disse Abert Bos, diretor do STC International, instituição educacional e de pesquisa com sede em Roterdã, na Holanda, e que tem operação mundial para as indústrias de navegação, logística, transporte e processo.


Bos citou o trabalho do operador de guindaste, que hoje precisa comandar a máquina ‘in loco’ e, em breve, poderá operar de maneira remota, com maior agilidade e segurança.


“As pessoas têm medo de que, se usarmos novas tecnologias ou técnicas, isso levará ao desemprego. Mas foi provado, no passado, que isso (investimentos) está apenas criando empregos. Se continuarmos com a revolução agora, nos tornando mais inteligentes, ficando mais digitalizados, então haverá 58 milhões de novos empregos nos próximos anos”, disse.


Capacitação e treinamento


Bos destaca que, em um porto, existem diferentes tipos de funções e para níveis de educação distintos, do técnico aos profissionais com especialização, inclusive com mestrado. “A combinação desses dois faz com que você obtenha uma força de trabalho criativa”. E acrescenta: “Treinando as pessoas e usando a mais recente tecnologia, estamos convencidos de que não será mais o maior porto que irá sobreviver, mas o porto mais inteligente”.


O diretor da STC reforça que essa condição de porto mais inteligente não está ligada somente à implemen-tação da automação, mas ao investimento nas pessoas. “Temos que investir em infraestrutura, mas também em capital humano. Temos que treinar as pessoas para nos tornarmos mais produtivos e ganhar a competitividade de que precisamos para ser um porto mais inteligente ou até mesmo ser um porto melhor”, explica.


Amarras


Embora o processo de automação e investimentos seja visto como um caminho sem volta para o ganho em eficiência e competitividade, a burocracia brasileira ainda causa amarras, como na geração de informação às autoridades públicas.


O engenheiro de computação e professor da Fatec Ricardo Pupo questiona: “Se estamos tão debruçados, tão comprometidos resolvendo problemas especificamente do Brasil, que não podem ser exportados, como vamos trabalhar em inovações que podem efetivamente ser exportadas e gerar valor para o País?”


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