Secretário nacional de Portos fala sobre a desestatização do Porto de Santos

Diogo Piloni comentou esse e outros assuntos em entrevista exclusiva

Por: Ágata Luz  -  06/03/22  -  13:23
Atualizado em 06/03/22 - 13:26
Diogo Piloni: “O mundo inteiro está olhando para a desestatização do Porto de Santos”
Diogo Piloni: “O mundo inteiro está olhando para a desestatização do Porto de Santos”   Foto: Matheus Tagé/AT

Em meio aos desafios do universo portuário em 2022, o secretário nacional de Portos e Transportes Aquaviários, Diogo Piloni, mantém o otimismo em relação ao futuro do Porto de Santos. Em entrevista exclusiva para A Tribuna durante visita técnica às obras do novo terminal de celulose da Eldorado Brasil na última quinta-feira, ele falou sobre os avanços do maior complexo portuário do país e o andamento do processo de desestatização, que deve ser concluído no último trimestre deste ano.


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Mesmo com a desestatização do Porto de Santos ainda em processo de audiência e consulta públicas, o Governo Federal já está sendo procurado por empresas interessadas na administração do complexo portuário? Já foram feitas propostas de companhias brasileiras ou do exterior?


Tivemos várias (propostas). Não é só o Brasil, o mundo inteiro está olhando para a desestatização de Santos. Muitos fundos de investimentos, operadores de portos e terminais mundo afora e aqui no Brasil. Santos é o projeto em que a gente tem, talvez, a maior segurança de que não haverá surpresa. A expectativa é de grande participação (no leilão). Por ser um projeto que vem depois da Codesa (Companhia de Docas do Espírito Santo), que é o primeiro da série, pela capacidade de geração de receita do negócio e por ser um ativo estratégico para qualquer grande investidor do mundo, a expectativa é de termos bids (lances) e propostas bem interessantes no segundo semestre, que é quando a gente irá fazer o leilão.


O senhor adiantou que uma segunda audiência pública sobre a desestatização do porto santista deve acontecer dentro do prazo de consulta pública. Já há uma data para o evento?


A data ainda não está fechada, mas nós temos até o dia 16 de março, que é o fim da consulta pública. Provavelmente aconteça nos últimos dias. Talvez na segunda (dia 14) ou na terça-feira (dia 15) a gente deva ter a segunda audiência.


Em coletiva de imprensa, o senhor disse que o Governo Federal se prepara para o pior cenário diante dos impactos no setor portuário pelo conflito internacional entre a Rússia e a Ucrânia. O processo de desesta-tização também pode sofrer algum atraso?


Não há nenhuma chance de a gente ter qualquer postergação por este motivo. Nem por outro. A gente está muito firme no cronograma que foi estabelecido há algum tempo. Temos seguido com firmeza para poder fazer o leilão este ano e deixar esse legado para a infraestrutura nacional.


No pacote de obras da privatização, a ligação seca entre Santos e Guarujá está prevista com um túnel submerso. Porém, o Governo do Estado defende a construção de uma ponte. Um projeto exclui o outro?


A gente entende que não tem sentido haver uma proliferação de projetos se o problema se revolve com o túnel sem qualquer risco à operação do Porto, algo que a gente não pode dizer do projeto de travessia pela ponte. Pela responsabilidade que nós temos com o principal ativo portuário do País, a solução é pelo túnel. Essa decisão está tomada. Não foi uma nem duas nem três vezes que a gente colocou que a solução do Porto de Santos, do Governo Federal e do Ministério da Infraestrutura é o túnel. Ele irá resolver um problema que vai além da questão operacional, atende as melhorias de mobilidade urbana, vai atender a expectativa dos cidadãos santista e de Guarujá para melhorar a qualidade de vida. Estamos muito positivos e fechados que a proposta de solução é via túnel e é ela que será implantada.


Como está o andamento da desestatização da Codesa, que começou antes do processo da Santos Port Authority (SPA)?


O leilão acontecerá no dia 30 de março com grandes expectativas de participação. Todos estão convidados para ir assistir presencialmente na B3 (Bolsa da Valores em São Paulo) ou remotamente. Nós temos um mecanismo de medir temperatura no interesse privado, que é o data room, onde todos os privados que vão apresentar proposta têm acesso às informações e diligências que foram feitas. Nós temos quase uma centena de dúvidas e de levantamento de informações no data room, que está muito movimentado. Então, no dia 30, estaremos todos lá para comemorar a primeira desestatização de porto da história. E com certeza não será a última.


A movimentação de cargas no Porto de Santos cresceu 16% em janeiro deste ano, se comparada com o mesmo mês de 2021. O governo espera mais um ano de recorde, independentemente de privatização, e trabalha com alguma expectativa de movimentação?


O ano começou muito bem, com 16% de aumento da movimentação de cargas em relação a 2021 e a expectativa é muito boa com Santos e com tudo que a gente tem feito. Estamos fazendo um trabalho de base que não é de hoje, é de alguns anos. Um trabalho que busca investir em capacidade portuária. O Porto de Santos, em especial, não cresceu mais porque não tinha infraestrutura, não tinha capacidade. Agora, cada vez mais é dotado de capacidade, porque do ponto de vista de proximidade com as zonas produtoras, de hinterlândia do Porto, nós temos uma hinterlândia enorme e o produto só vai escoar por outro porto quando não tem alternativa e capacidade. Então, tem muita carga que a gente está trazendo de volta para o Porto de Santos, proporcionando custos menores para a cadeia. Esse é o caminho natural para carga. A gente só não atende se não for competente, aqui no Porto, em fazer as mudanças e transformações que a gente tem feito.


O processo eleitoral deste ano pode interferir no planejamento dos portos brasileiros com a possível saída do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que deve ser candidato ao Governo de São Paulo?


Entendo que não há impacto nos projetos e na continuidade do trabalho, até porque são projetos muito maduros, não são projetos personalizados, não são do ministro Tarcísio. É um projeto do Governo Federal, que está coeso para que a gente desenvolva tanto as desestatizações quanto os arrendamentos. O olhar sobre Santos é sempre prioritário, então não vejo nenhuma possibilidade de que a carteira tenha algum impacto com o cenário eleitoral.


O senhor pode se tornar ministro da Infraestrutura nos próximos meses?


Não há nenhuma possibilidade. Nós temos candidatos muito mais preparados para isso, inclusive dentro do Ministério da Infraestrutura. O que eu posso afiançar é que a escolha se voltará à continuidade do projeto.


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