Pandemia vai afetar logística portuária, alertam especialistas
Impactos do coronavírus no comércio exterior e nas operações dos terminais marítimos foram analisados
Os próximos quatro ou cinco meses serão de incertezas no setor portuário. Os impactos do coronavírus já são sentidos, mas ainda não é possível saber a extensão do problema. O que já é claro são os transtornos logísticos, com a possibilidade de falta de contêineres no mercado, as mudanças nas relações de trabalho e o risco de desemprego no cais santista.
O alerta é do presidente da Federação Nacional das Agências de Navegação Marítima (Fenamar), Marcelo Neri, e do advogado especialista em comércio exterior e professor universitário Rodrigo Zanethi. Os dois participaram do Fórum Porto & Mar, programa de entrevistas transmitido às segundas-feiras, na página do Facebook do Grupo Tribuna.
“A logística sente logo de cara uma crise. Quando a crise está chegando, o transporte já sentiu. Foi o que aconteceu em outros casos, mas ainda não conseguimos colocar tudo em números o que está acontecendo agora”, destacou Neri.
Por outro lado, o executivo aponta que, na Europa, 370 mil contêineres deixam de ser movimentados a cada semana por conta do coronavírus. Por consequência, deve haver um desbalanceamento da oferta de caixas metálicas no Brasil em curto prazo.
“Isso deve afetar a questão do mercado, de falta ou da oferta de contêineres onde não precisa. Esse movimento ainda não vemos com exatidão aqui porque a crise na Europa ainda está se formando. Então não dá para saber o quanto isso vai se refletir em termos logísticos na vida real”, afirmou Marcelo Neri.
Segundo o presidente da Fenamar, armadores recomendam que autoridades, agentes de navegação marítima ou qualquer pessoa que entrar em embarcações evitem ambientes confinados. “Todos devem ser recebidos no convés e está proibido servir qualquer comida ou bebida a bordo. Esta já é uma orientação”.
Os dois executivos não consideram necessário o fechamento de complexos portuários brasileiros. Mas destacam a importância da colaboração da população, além de cautela e prudência por parte dos trabalhadores do setor.
Zanethi destaca que a queda de 20% na produção industrial da China e a redução de 13,9% nas vendas externas do país asiático trarão impactos em todo o mundo. O advogado ainda aponta reflexos na redução do transporte de contêineres, principalmente no que se refere aos produtos importados.
“Isso vai afetar o comércio também. As pessoas vão parar de gastar, não vão sair de casa”, afirmou. “A recuperação chinesa ajuda, mas a Europa ainda preocupa muito. A China é o start da cadeia global de valor, mas isso passa pela Europa”.
Empregos
Com a recomendação do Ministério da Saúde para que as pessoas permaneçam em casa e evitem aglomerações, diversas empresas passaram a adotar o home office. Para Neri e Zanethi, esta nova diretriz representa uma nova etapa na relação de trabalho.
No entanto, em funções operacionais, ainda é cedo para saber os impactos da medida, principalmente se houver uma queda acentuada nos embarques e desembarques. “Não sabemos o quanto as empresas poderão segurar e quanta gordura elas terão para queimar”, afirmou Neri.
Zanethi concorda e aponta, também, o risco de impactos em toda a cadeia de transportes. “As comissárias de despacho já vêm em queda e, sem atividade marítima, eles vão sentir muito, assim como toda a cadeia de comércio exterior. É, realmente, muito preocupante”.