No Porto de Santos, minoria das arrendatárias faz relatório ambiental

Estudo da Fatec Baixada Santista mostra que só 23 das 53 divulgam documentos de sustentabilidade

Por: Matheus Müller  -  08/08/21  -  08:33
 Ainda que o trabalho não seja obrigatório, as empresas que o fazem mostram preocupação com o meio ambiente em suas operações. Também denotam transparência, pois se trata de dados públicos.
Ainda que o trabalho não seja obrigatório, as empresas que o fazem mostram preocupação com o meio ambiente em suas operações. Também denotam transparência, pois se trata de dados públicos.   Foto: Alexsander Ferraz/AT

O meio ambiente tem ganhado força no cenário empresarial, seja pela responsabilidade diante das mudanças climáticas ou por estratégia. Afinal, ações sustentáveis agregam valor às empresas. Entre as arrendatárias de áreas do Porto de Santos, porém, menos da metade — 23 de 53 — divulgam relatórios de sustentabilidade.


O documento não é obrigatório, mas, segundo a professora doutora Janara de Camargo Matos, da disciplina Desenvolvimento Sustentável Portuário do curso de Gestão Portuária da Fatec Baixada Santista, a situação “tem que melhorar”, diante do baixo número de relatórios desenvolvidos.


Desde fevereiro, ela e o aluno Thiago de Oliveira Teixeira, do quarto ciclo (segundo ano) do curso, desenvolvem um trabalho científico para aprofundar a questão. Eles preveem concluir o estudo em dezembro.


“Quando a gente descobriu que 30 empresas não usavam (divulgavam) esse relatório, eu fiquei meio triste, porque é uma ferramenta que se consegue mostrar ao público, ainda mais quando é seguido um padrão, que se tem uma análise dos dados coletados: de emissões, geração de resíduos e uso de recursos naturais. Isso demonstra que a empresa tem uma preocupação com as questões ambientais”, lamenta Janara.


Teixeira diz que, quando começou a pesquisa pensou que “o Porto de Santos é o maior da América Latina. Então, a questão ambiental deve ser bem pautada por todas as empresas. Porém, quando me aprofundei, percebi que essa divulgação é bem precária”.


Análises e objetivos


As informações coletadas e divulgadas por essas empresas, segundo Janara, são essenciais para entender o comportamento do complexo portuário santista quanto à geração de poluentes. A análise dos relatórios é do período de 2015 a 2020. O objetivo é divulgar o resultado para ajudar a melhorar as operações portuárias.


“Esses relatórios demonstram para o público, stakeholders (partes interessadas) e demais interessados, porque ele é aberto a todos, como a empresa trabalha sua gestão ambiental. (...) São relatórios bem completos e com dados matemáticos, com quantidade de resíduos e emissões. Em cima disso, a empresa que tem o trabalho de levantar, guardar e analisar esses dados demonstra a intenção de melhorar”, ressalta a professora doutora.


 Objetivo do trabalho é ajudar a melhorar as operações no complexo portuário santista. Após identificar empresas que fazem ou não relatórios, próxima etapa do trabalho de Teixeira e Janara é avaliar padrões
Objetivo do trabalho é ajudar a melhorar as operações no complexo portuário santista. Após identificar empresas que fazem ou não relatórios, próxima etapa do trabalho de Teixeira e Janara é avaliar padrões   Foto: Matheus Tagé

Etapas


Janara explica que, após ter levantado relatórios em 23 empresas, começará uma segunda etapa. “É a qualitativa, na qual vamos ler todo o material, estudar o teor dos relatórios e identificar se a empresa usa um padrão internacional de escrita de relatório de sustentabilidade, o GRI (Global Reporting Initiative, ou Relatório de Iniciativa Global, em tradução livre).”


Segundo ela, a pesquisa também levantou se essas empresas têm certificações ISO 9001, 14001 e 18001 — de Gestão Integrada, ambiental, qualidade e segurança do trabalho. A ISO (Organização Internacional de Normalização, na sigla em inglês) desenvolve normas, testes e certificação.


“Descobrimos sete empresas que não possuem nenhum tipo de ISO nem divulgaram relatórios nesses últimos cinco anos. Seria outra parte da pesquisa tentar checar com as empresas como fazem a gestão ambiental. Pode ser que tenham um sistema próprio de gerir o meio ambiente, mas para entender teria que entrar fundo nas entrevistas.”


Trabalho é caro, mas tem interesse público


Gerar um relatório sobre sustentabilidade ou outros temas, segundo a professora Janara de Camargo Matos, tem custo alto para as empresas. Entretanto, essa ferramenta é vista como “sensacional” pela docente.


“Sabemos que nem todas as empresas têm esse olhar. Seria interessante que isso fosse mais divulgado, ainda mais agora que o grande público está começando a ter esse olhar para o meio ambiente, por ter preocupações ambientais.”


Ela explica que muitas pessoas desconhecem a existência desse material, que está acessível a todos e pode, inclusive, fomentar políticas públicas.


Confiança e transparência


A professora explica que não tem como comprovar a veracidade das informações dessas empresas. Entretanto, ressalta que, ao se enquadrarem no padrão GRI, já estão sob uma regulação ética. Outro fator sustenta os dados, de acordo com ela: é a autorregulação do mercado.


“Essas informações ela (a empresa) está mostrando para todos, inclusive para os concorrentes. Tem uma certa regulação do mercado, porque, se desmentir descaradamente, ele pode checar que não está falando a verdade.”


Começo


O trabalho científico foi proposto pela professora doutora Janara de Camargo Matos. Ela conta que já trabalhava, em aula, a questão da sustentabilidade nas empresas e teve a ideia de ampliar a pesquisa.


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