Lockdown na China afeta logística brasileira e prejudica importações e exportações nos portos

Restrições de circulação que afetam o Porto de Xangai represam contêineres e encarecem o frete

Por: Bruno Rios  -  23/04/22  -  14:12
O Porto de Xangai é um dos principais em atividade no mundo
O Porto de Xangai é um dos principais em atividade no mundo   Foto: Divulgação

O lockdown em vigor desde março em Xangai, na China, agrava um cenário já problemático no transporte de cargas em todo o mundo. Devido às restrições de circulação impostas pelas autoridades chinesas para tentar conter a covid-19, atrasos no envio de mercadorias, represamento de contêineres, aumento do frete e menor oferta de navios são apontados por entidades e especialistas — e o Brasil não fica de fora desse problema.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Em comunicado, o diretor-executivo do Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), Claudio Loureiro de Souza, explica que Xangai e outras cidades chinesas enfrentam restrições, com rigorosa testagem de trabalhadores, incluindo motoristas de caminhão. Isso faz mercadorias se acumularem nos portos.


“Na semana passada, uma das principais empresas de transporte marítimo internacional avisou aos clientes que as medidas de bloqueio poderiam restringir os serviços de transporte em até 30%. Diante desse cenário, algumas empresas portuárias anunciaram que estão começando a utilizar o modelo de trabalho em ciclo fechado, em que os trabalhadores dormem no local de trabalho para evitar o risco de infecções externas.”


Segundo a Centronave, a China já vive um gargalo logístico interno e vê atrasos no transporte marítimo. Afinal, Xangai é sede de alguns dos mais importantes terminais de contêineres do mundo. “Outras preocupações são os contêineres acumulados e o possível congestionamento na armazenagem de mercadorias assim que o lockdown for encerrado.”


Desde o ano passado, produtores de todo o mundo enfrentam falta de contêineres e atrasos nos prazos de exportação e importação. No Brasil, os setores de algodão e carne tiveram perdas significativas. Com o novo lockdown, é impossível o setor logístico brasileiro escapar dos efeitos negativos, diz o advogado Larry Carvalho, especializado em Logística, Direito Marítimo e Agronegócios.


“O lockdown atual em Xangai é bem superior ao que vimos anteriormente. Hoje, há uma quantidade enorme de navios na região (de Xangai), o que resulta em represamento de cargas, contêineres não carregados e embarcações paradas. Com menos navios à disposição, o frete fica mais caro. Uma situação delicada e que vai impactar o Brasil, em especial devido ao encarecimento do frete.”


Para o economista Igor Lucena, também doutor em Relações Internacionais, o lockdown chinês afetará até as exportações brasileiras. “Produtos perecíveis que têm como destino a China podem se perder no caminho.”


Como resolver?
Carvalho alerta que o cenário logístico global demorará para voltar à normalidade. “Os portos, quando retomarem atividades, estarão com fila de 300 navios aguardando atracação. Quando acaba um lockdown, nunca volta o fluxo normal, pois as embarcações que chegaram à China com as restrições já em vigor ficarão na fila de espera até que as outras sejam atendidas.”


Lucena traça um paralelo da realidade atual chinesa com Santos. “O Porto de Xangai é muito forte. Seria como se, no Brasil, você levasse a movimentação prevista para o Porto de Santos a um porto menor, que não tem capacidade de escoamento igual. A China precisa investir em outros portos.”


Logo A Tribuna