Diesel segue nas alturas e sufoca caminhoneiros no Porto de Santos: "Sem luz no fim do túnel"

Semanas após o corte do ICMS sobre os combustíveis, não há redução significativa no preço do diesel

Por: Ágata Luz  -  19/07/22  -  17:04
Atualizado em 19/07/22 - 23:14
Sebastião, que atua como caminhoneiro há 50 anos, diz que categoria vive pior cenário das últimas décadas
Sebastião, que atua como caminhoneiro há 50 anos, diz que categoria vive pior cenário das últimas décadas   Foto: Matheus Tagé/AT

Três semanas após o anúncio do corte do ICMS sobre os combustíveis, adotado pelos estados brasileiros para diminuir o preço nas bombas, não há redução significativa no preço do diesel e o custo do abastecimento segue sufocando o bolso dos caminhoneiros que trabalham no Porto de Santos.


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Um levantamento nacional da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que o preço médio do diesel caiu 1,18% nas últimas quatro semanas, depois de uma elevação de 49% entre dezembro de 2021 e junho deste ano.


Atualmente, os caminhoneiros desembolsam, em média, R$ 7,48 por litro no País. Um valor que prejudica o trabalho de profissionais do volante como Sebastião Moreira da Silva, de 68 anos e que atua como autônomo no Porto de Santos. “Não fez diferença nenhuma (redução do ICMS). Se continuar desse jeito, a gente vai pagar para trabalhar”.


Há 50 anos na profissão, ele diz que a categoria vive o pior momento. “Está piorando mês a mês e a gente não vê luz no fim do túnel. Estou quase no fim da carreira. Se não fosse por isso, eu abandonava”, desabafa o caminhoneiro, que reclama dos últimos reajustes no diesel e da elevação dos custos de manutenção. “Eu colocava R$ 1,9 mil para encher o tanque, agora são R$ 2,4 mil. Já um pneu que hoje custa R$ 3 mil, antes era R$ 1,8 mil. Tudo aumentou”.


Os problemas também são sentidos pelo caminhoneiro autônomo Adelson Silva, de 43 anos, morador de Guarujá. “O diesel continua no mesmo preço e a gente não vê um cenário de melhora, é daí para pior. Além disso, se estoura o pneu ou dá qualquer outro problema na manutenção do caminhão, pagamos para trabalhar. A gente fica à mercê do governo”.


O caminhoneiro autônomo Adelson Silva diz que categoria chega a pagar para traballhar
O caminhoneiro autônomo Adelson Silva diz que categoria chega a pagar para traballhar   Foto: Matheus Tagé/AT

Por outro lado, o preço da gasolina teve queda de 17,86% nas últimas quatro semanas, despencando de R$ 7,39 para R$ 6,07 o litro. O diretor do Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista (Sindisan), José Carlos Ornellas Priante, explica que isso ocorre devido à alíquota do ICMS aplicada.


“O ICMS na gasolina e outros derivados do petróleo era alto, por isso houve redução forte no preço. Em compensação, São Paulo já cobrava o mínimo no diesel, que é 13%. Então, não mudou nenhum centavo. Esse corte foi para os estados que estavam abusando em cima do ICMS do diesel”.


Como saída diante do alto preço do combustível, o representante do Sindisan diz que as empresas repassam os valores aos clientes. “Infelizmente, temos que repassar. Caso contrário, o custo fica maior do que se recebe e a conta não fecha. O sindicato não instrui o repasse de um valor mínimo, mas no último reajuste que teve, em junho, o impacto no valor do frete foi de 3%”.


O presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), Luciano Santos, diz que o corte do ICMS “não teve impacto nenhum”, mas o sindicato é a favor de medidas que reduzam impostos em geral. “Qualquer redução de impostos que possa amenizar os impactos dos constantes aumentos dos combustíveis é um alento”.


Apesar de intitular o preço do combustível como “um grande vilão para o custo operacional”, o presidente do Sindicam afirma que são necessárias mudanças estruturais no setor, como incentivos fiscais para renovação de frota, pontos de parada para descanso, fim da política de Paridade de Preço Internacional (PPI) e fiscalização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) “para certificar que o piso mínimo de frete, pagamento do vale-pedágio e estadias estão sendo pagos conforme as leis vigentes”.


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