Conheça histórias de quem construiu a vida no Porto de Santos

Trabalhadores se orgulham ao falar da relação com um setor que ajudou a formar milhares de famílias

Por: Lyne Santos  -  02/02/22  -  09:21
  Foto: Arquivo/Carlos Nogueira/AT

Com a expectativa de gerar mais de 20 mil empregos até 2030, o Porto de Santos faz parte da história de milhares de moradores da Baixada Santista e de pessoas vindas de outras regiões em busca de oportunidades de carreira. Para muitos, ingressar no setor portuário é mais do que ter acesso à carteira assinada: significa honrar o legado de algum parente ou amigo. Para todos, fazer parte dessa “família” é motivo de orgulho e certeza de um futuro promissor. Conheça um pouco de quem encontrou no Porto o caminho para crescer.


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Danilo Pereira Santos da Silva, 35 anos, morador de Guarujá. Líder de operação reach stacker e front loader no Tecon Santos, da Santos Brasil
Danilo Pereira Santos da Silva, 35 anos, morador de Guarujá. Líder de operação reach stacker e front loader no Tecon Santos, da Santos Brasil   Foto: Divulgação

"Minha história no Porto começa com meu pai. Químico de formação, ele atuava no Polo de Cubatão, mas a empresa fechou as portas. Desempregado, teve que se reinventar. Em 2005, ele entrou na Santos Brasil como motorista de carreta (OCT). Depois, passou a líder de OCT e, mais para frente, atuou com empilhadeira de vazios (front loader). Já eu era adolescente e queria jogar futebol. Não deu certo. O uniforme que passei a vestir, em casa, era o do meu pai e pensava que um dia também estaria no Porto. Espelhado nele, observando o crescimento do setor portuário e pensando no futuro, falei que gostaria de fazer alguns cursos e não parei mais: conferência e vistoria de contêiner, empilhadeira de pequeno, médio e grande portes e informática, pois sabia que no Porto o trabalho não era feito com papel e caneta. Graças a isso, em 2022 eu completo 15 anos de Santos Brasil. Fui efetivado em agosto de 2007, no processo seletivo para apropriador de pátio. Entrei na empresa também para honrar a história do meu pai. Ele fez grandes amizades em vários setores e se aposentou há dois anos com homenagens. Orgulho! Chegamos a trabalhar juntos, em áreas diferentes, e sempre procurei fazer o meu melhor. Depois de quatro anos da minha entrada na companhia, concorri a uma vaga de empilhadeiras de vazios. Fiz o teste e passei. Operei por oito anos. Depois, surgiu a oportunidade para operar máquinas de cheios (reach stackers). Passei. Ao longo do tempo, sempre gostei de me envolver com as ações da empresa. Sou voluntário do Programa Formare desde 2018 e faço palestras sobre segurança na operação, conduta e alta performance aos jovens aprendizes. Também sou presidente da Cipa e CPATP, além de embaixador do Tecon, tudo por indicação dos funcionários. Na carreira, hoje sou líder das operações de empilhadeiras de vazios e reach stacker. Tive minha quarta promoção e nunca parei de estudar. Com incentivo do meu pai, Moisés, e da minha esposa, Lilian, me formei e fiz pós-graduação em Logística. Comecei a estudar projetos de melhoria contínua e, em maio, me formarei. Tenho orgulho da minha trajetória e de respeitar o legado do meu pai. O Porto de Santos é minha vida".

Danilo Pereira Santos da Silva, 35 anos, morador de Guarujá. Líder de operação reach stacker e front loader no Tecon Santos, da Santos Brasil


Sandro Olímpio da Silva, 49 anos. Estivador há 27 anos, sendo cinco como cadastrado e 22 como registrado
Sandro Olímpio da Silva, 49 anos. Estivador há 27 anos, sendo cinco como cadastrado e 22 como registrado   Foto: Arquivo pessoal

Meu avô é aposentado da estiva e começou a trabalhar no Porto de Santos em 1956. Meu pai e meu tio também foram senha da estiva, mas só meu pai deu continuidade. Em 1994, peguei a minha senha da estiva e tive bastante ajuda do meu pai para conquistar o registro, uma tradição do setor. Meu pai, por também fazer parte do bloco, me colocava em alguns trabalhos e isso fazia com que eu tivesse horas para concorrer ao registro. No final de 1999, fui contemplado com o registro, que é a carteira preta da estiva. Lembro até hoje quando minha mãe me contou que o meu pai disse: ‘agora estou tranquilo, o Sandro pegou a carteira da estiva’. Eu fui me aperfeiçoando e fazendo cursos. Hoje, mexo com empilhadeira, guincho, manuseio com meus companheiros diversos tipos de cargas nos porões dos navios, fazemos peação e despeação, acompanhamento de embarque e desembarque, carro, trator, descarga de adubo, embarque de soja, milho... Em 2011, tive a felicidade de ser convidado para fazer parte de uma chapa que concorreria à diretoria da estiva. Fui diretor de parede por dois anos, depois assumi a primeira secretaria do sindicato. Fui diretor social beneficente. Foi um aprendizado muito grande sobre legislação, Direito, algo importante. Em 2012, enquanto ainda atuava como diretor, pegamos a MP 595, que se tornou a Lei Federal 12.815, e fizemos parte das discussões e manifestações em Brasília, minimizando as perdas e garantindo direitos trabalhistas. Foi uma excelente experiência e aprendemos muito com toda a luta. Vejo a modernização do Porto como algo muito importante, porém nem sempre o que é exposto condiz com a realidade. Vejo que o trabalhador sofre com a falta de segurança e os equipamentos sem manutenção. Sempre enfrentamos essa situação e tivemos que aprender na raça. Hoje, estou de volta para as turmas, trabalhando no Porto de novo, porque enquanto estava como diretor não podia concorrer na escala. Esse é um trabalho que dignifica, muito produtivo e diversificado. Me traz muita alegria fazer parte da estiva, tenho muito orgulho de ser estivador, de ser trabalhador portuário. Eu e meus amigos estamos firmes e fortes, sempre enfrentando o dia a dia do Porto com muita honra”.

Sandro Olímpio da Silva, 49 anos. Estivador há 27 anos, sendo cinco como cadastrado e 22 como registrado


Ana Beatriz Marfório Neves, 26 anos. Inspetora de embarque na Copersucar
Ana Beatriz Marfório Neves, 26 anos. Inspetora de embarque na Copersucar   Foto: Arquivo pessoal

Iniciei minhas atividades no Terminal de Açúcar da Copersucar (TAC) em março de 2021, já na pandemia. Morar na cidade que tem o maior complexo portuário da América Latina foi importante para despertar esse desejo de fazer parte do setor. Além disso, meu pai teve sua carreira estruturada ao redor do Porto. Desde a infância, aprendi sempre o setor por meio dele, me inspirando a seguir o mesmo caminho. Antes do TAC, trabalhei em uma agência marítima, já focada em exportação de commodities. Porém, é a primeira vez que estou presencialmente na área do Porto e das operações. Meu maior objetivo é crescer e desenvolver minha essência profissional juntamente ao Porto, aprendendo sempre e agregando toda experiência e conhecimento que venho adquirindo como inspetora de embarque. Destaco que é muito importante ser uma mulher trabalhando no ‘coração’ das operações portuárias. Desde que as portas se abriram para que eu pudesse iniciar minha jornada no setor, é cada vez mais tangível a certeza de estar quebrando paradigmas. É de extrema importância enfatizar a igualdade de gêneros e a experiência de colaborar positivamente. Além disso, é profundamente significativo ter a percepção de que o trabalho em equipe não se trata apenas de alcançar um resultado material e palpável, mas ter o entendimento de que o nosso time é formado por pessoas absolutamente singulares, cada qual com sua bagagem profissional e de vida. Quando a natureza dos colaboradores é de abraçar um objetivo como um todo e agregar o fator ‘ser humano’ por meio de suas experiências, o entorno se desenvolve de forma que o crescimento pessoal e profissional se torna certeiro, assim como o fruto de um excelente desempenho no ambiente de trabalho. Um episódio ocorrido há alguns meses reforçou ainda mais essa satisfação de, sendo mulher, estar inserida em um setor majoritariamente masculino. O TAC havia recebido um navio de origem turca para embarcar açúcar e foi quando tive contato com outra mulher trabalhando na área. Ela era a imediata da embarcação (função que vem sucessivamente abaixo ao comandante). Ambas estavam trabalhando em conjunto com alguém do mesmo gênero pela primeira vez no setor, mesmo sendo de nacionalidades diferentes. A compreensão mútua de que a representatividade das mulheres vem crescendo em várias partes do mundo foi de grande significado. Além disso, o Porto de Santos é um titã na influência econômica do Brasil. Poder acompanhar isso de perto é uma oportunidade inexplicável".

Ana Beatriz Marfório Neves, 26 anos. Inspetora de embarque na Copersucar


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