Cenário eleitoral para o sucessor de Doria em São Paulo segue indefinido

Disputa para ver quem comandará o Estado a partir do Palácio dos Bandeirantes conta com várias possibilidades

Por: Sandro Thadeu  -  09/05/21  -  19:05
  Desde abril de 1964, o Palácio dos Bandeirantes é a sede do Governo de São Paulo; desde então, 16 nomes comandaram o Estado, sendo alguns deles em mais de um mandato, como Laudo Natel e Geraldo Alckmin
Desde abril de 1964, o Palácio dos Bandeirantes é a sede do Governo de São Paulo; desde então, 16 nomes comandaram o Estado, sendo alguns deles em mais de um mandato, como Laudo Natel e Geraldo Alckmin   Foto: Divulgação/Governo do Estado

Se na próxima disputa para o Palácio do Planalto há uma tendência de briga entre Jair Bolsonaro (sem partido) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o mesmo não se pode dizer sobre a sucessão do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).


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Em terras paulistas, a primeira dúvida é quem será o candidato tucano. Diante da possibilidade do atual chefe do Executivo paulista concorrer à Presidência da República, o vice Rodrigo Garcia (DEM) assumiria o cargo em 2022 e teria a chance de disputar a reeleição.


O presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, garantiu que a agremiação terá uma candidatura própria e que Garcia será muito bem-vindo. “Os governadores no exercício do cargo sempre tiveram a prerrogativa da candidatura, da mesma forma que senadores e prefeitos. Esse é o modelo utilizado pelo partido de forma natural”, justificou.


Movimentações


Um possível efeito colateral dessa futura migração de Garcia ao PSDB é a desfiliação de um dos fundadores da legenda: Geraldo Alckmin, que comandou o Estado por quatro mandatos.


O ex-governador tem a ideia de concorrer novamente ao Palácio dos Bandeirantes e já está sendo sondado por várias siglas. Um dos convites partiu do PSL, comandado em São Paulo pelo deputado federal Júnior Bozzella.


“Nosso candidato seria o senador Major Olímpio, que infelizmente morreu neste ano. Isso nos obrigou a recalcular a rota. Estamos dialogando com o Alckmin e com algumas figuras do entorno dele”, afirmou. A sigla também está em conversas com o deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei (Patriota).


O nome que se consolidou como o principal opositor de Doria é o ex-governador Márcio França (PSB), que pretende concorrer ao Palácio dos Bandeirantes novamente. Coordenador do partido na Baixada Santista, o deputado estadual Caio França (PSB) disse que Alckmin foi convidado publicamente a ingressar na sigla.


Na avaliação dele, uma nova dobradinha Geraldo-Márcio, como no pleito de 2014, ou vice-versa, será positiva.


“Precisamos de uma gestão com compromisso social, foco na geração de emprego e renda e que reveja todos os aumentos de impostos”.


Opiniões


O diretor do Ibespe - Instituto de Planejamento Estratégico, Marcelo Di Giuseppe, entende que Alckmin, pela postura equilibrada e histórico, tem maior potencial de votos.Outro fator mencionado pelo especialista é que, neste momento, a maioria da população paulista culpa Doria pelo aumento do desemprego e pela perda de renda.


Ele citou ainda que França chega fortalecido ao pleito de 2022. “A união entre os dois novamente seria algo interessante, conforme notamos nas pesquisas”, apontou.


Para o advogado e professor de Ciências Políticas da Universidade Metodista Tunico Vieira, se Alckmin não for o candidato do PSDB, há chances reais de outra sigla chegar ao comando do Estado.


“Pelo histórico e pelo que está em jogo, eu acho muito difícil o Alckmin e o Márcio França não saírem acordados nessa disputa desde o primeiro momento para ganhar a eleição”, opinou.


Papel de Bolsonaro é questionado


As possibilidades de Jair Bolsonaro apoiar uma candidatura ao Governo do Estado com chances reais de vitória ou de um outsider surpreender dividem a opinião de especialistas consultados por A Tribuna.


O advogado e professor de Ciências Políticas da Universidade Metodista, Tunico Vieira, entende que é muito difícil “furar" a máquina dominada pelo PSDB há anos no Estado. “Os prefeitos do Interior são próximos ao Palácio dos Bandeirantes e quem sabe movimentar esse jogo político passou por lá”.


Na avaliação do professor do Insper e cientista político Leandro Consentino, as chances de vitória de um candidato bolsonarista raiz são pequenas. Por isso, o presidente precisa escolher alguém que dialogue com um público maior e angarie votos dos antipetistas. “Fala-se no Paulo Skaf (presidente da Fiesp), que pode se firmar como um bolsonarista envergonhado, com críticas ao PT e ao PSDB, mas sem as ideias radicais do presidente”.


O diretor do Ibespe - Instituto de Planejamento Estratégico, Marcelo Di Giuseppe, diz que monitoramentos feitos pela empresa colocam Bolsonaro com, no mínimo, 30% das intenções de voto em São Paulo.


Possíveis nomes


Nas últimas semanas, o presidente falou no nome do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, ao Governo do Estado. Um fiel seguidor do chefe da Nação cotado para a briga pelo PTB é o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL). A mudança de sigla já está apalavrada, segundo o coordenador do PTB na Baixada Santista, Marcel Farias.


O Novo deverá lançar um processo seletivo para escolher um filiado para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Na sigla, o deputado federal Vinicius Point deseja disputar o cargo. O Patriota também cogita lançar o nome do deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei, ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) e defensor de ideias liberais.


Lula pode impulsionar candidatura


O coordenador do PT na Baixada Santista, Alfredo Martins, afirmou que uma eventual candidatura de Lula à Presidência da República impulsionará a sigla em São Paulo e eleva a chance de o partido estar de novo no 2º turno em disputa pelo Governo do Estado, o que não ocorre desde 2002.


Segundo Martins, o ex-ministro da Educação e ex-prefeito da Capital, Fernando Haddad, tem o apoio e entusiasmo da militância. “Se ele aceitar o desafio, dificilmente teremos disputa interna”.


Outro nome da esquerda que deverá concorrer ao Palácio dos Bandeirantes é Guilherme Boulos (PSOL). O fato de ele ter chegado ao 2º turno na disputa pela Prefeitura de São Paulo o colocou em evidência. Não há outro integrante da sigla que se apresente publicamente para concorrer a governador.


“O Boulos é pré-candidato ao Governo do Estado e tem todas as condições internas de garantir que ele será o nome confirmado na convenção partidária de 2022”, destacou Everton Vieira, que integra a Executiva estadual do PSOL.


O vice-presidente paulista do PDT, Antonio Neto, afirmou que o partido pretende lançar um nome para o Governo do Estado. O mais cotado para esse desafio é o atual prefeito de Barueri, Rubens Furlan, que está em seu 6º mandato à frente da Cidade. “O Furlan é experiente e tem competência para disputar o Governo. Tudo passará pela decisão da direção nacional e os acordos para a futura candidatura do Ciro Gomes a presidente”.


Resistência


O cientista político e professor do Insper Leandro Consentino acredita que o conservadorismo dos municípios do Interior impede a consolidação de uma candidatura forte de esquerda. “O Haddad surge como o principal nome desse segmento por ter um currículo mais experimentado e pela lealdade ao Lula”, destacou.


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