Atrás em pesquisas, Le Pen atrai votos com novo discurso e foco na economia

Assim, pela primeira vez, Marine Le Pen leva um partido de extrema direita ao 2º turno com verdadeira chance de vencer

Por: Estadão Conteúdo  -  23/04/22  -  08:31
Le Pen faz novo discurso para chegar ao poder na França
Le Pen faz novo discurso para chegar ao poder na França   Foto: Divulgação

Primeiro ela mudou o nome do partido, fundado por seu pai. A Frente Nacional virou Reunião Nacional (RN), em 2018. Depois, foi mudando sua atitude, seus gestos, sua imagem e seu material de campanha. Assim, pela primeira vez, Marine Le Pen leva um partido de extrema direita ao segundo turno com verdadeira chance de chegar ao poder.


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Por trás da nova imagem de uma mulher moderna, sorridente, que posa com filhotes de gato, está a sua sobrinha Nolwenn Olivier. Ao contrário de sua prima Marion Maréchal, que, além de tirar o sobrenome Le Pen, apoiou o candidato Éric Zemmour no primeiro turno, Nolwenn é a responsável por seu guarda-roupa mais luminoso, sua atitude mais serena e seus posts nas redes sociais


Aparentemente, suas fotos com gatos e alguns passos de dança ajudaram a melhorar sua imagem entre os jovens. Seus eleitores estão majoritariamente entre 18 e 24 anos - 59% deles votam nela, segundo pesquisa do grupo BVA.


Com três filhos e divorciada, Le Pen se declara uma "solteira descomplexada". A revista Elle, nesta semana, destacou na capa: "Marine Le Pen no Eliseu? Para nós, é não!", justificando a escolha editorial dizendo que "é uma mulher que não defende os direitos das mulheres".


Marine, de 53 anos, que entrou para o partido de seu pai quando tinha 18, tenta pela terceira vez a presidência - e pela segunda chega ao segundo turno. Em 2017, teve 33,9% dos votos, ante 66,1% de Mácron.


Moderação


No seu folheto de campanha - entregue a todos os eleitores pelo correio, junto com as cédulas, alguns dias antes da votação -, ela trazia, no primeiro turno, apenas o seu nome: "Marine, mulher de Estado". No folheto do segundo turno, nem nome nem sobrenome, apenas a frase: "Para todos os franceses".


"Ela vem progressivamente mudando esta imagem, tentando se afastar ao máximo da imagem do seu pai, Jean-Marie Le Pen. Enquanto ele encarna o ódio, ela quer encarnar o amor. Ele posava com seus dobermanns, como símbolo de agressividade. Ela posa com gatinhos, filhotes, que são fofos. É uma estratégia de inversão", afirma o diretor do programa Ipsos Flair, do instituto de pesquisas Ipsos, Yves Bardon.


Para a historiadora Maud Chirio, o processo de "desdemonização" de Le Pen foi abraçado por muitos setores da mídia e da política Além disso, a chegada de Zemmour no cenário eleitoral a colocou como uma candidata mais ao centro. "Hoje, o RN é uma força muito mais integrada no sistema político", disse. "O processo de desdemonização do RN também aconteceu no campo progressista." Segundo ela, isso justifica o fato de muita gente de esquerda hoje dizer "Nem Macron nem Le Pen", como se eles fossem equivalentes. "Não são", garante Chirio.


O professor da Sciences Po e especialista em defesa e relações internacionais William Leday concorda. "Primeiro, houve uma banalização das ideias de extrema direita, iniciadas pela própria direita dominante. Recordamos os desabafos de Nicolas Sarkozy, como candidato e presidente, sobre a questão da segurança, que ele correlacionou com as migrações que produziram uma liberação do discurso racista", disse Chirio. "Parte das pautas e do vocabulário da extrema direita foram abraçados pela centro-direita."


Normalização


Muitos franceses são radicalmente contra a extrema direita, mas não conseguem votar em Macron, segundo ela, por não terem vivenciado a experiência de ter um país liderado pela extrema direita. "A semântica política reflete tanto as ideias quanto a intenção. Há uma atenuação de certas posições, em particular na Europa, onde Le Pen já não propõe sair do euro.


"Voto Le Pen porque ela é francesa. Eu sou francesa, com um espírito completamente francês, o que quer dizer livre, a liberdade antes de tudo. A gente ama todo mundo, os sul-americanos sabem bem, os argentinos, os bolivianos, a gente tem ótimas relações", disse a septuagenária Anne Lavenier, eleitora de Marine. "Ontem, falei com um tuareg, um argelino que vota em Le Pen há 40 anos. Ele mesmo disse que é feio ter duas nacionalidades. É como ter um pé entre duas cadeiras, pois há um risco que quebrar e cair."


Sobre a xenofobia do programa de Le Pen, ela rebate: "No seu país, você não pode ter alguém que te cospe na cara. É isso o que acontece aqui. Nós, franceses, somos mal vistos. Se somos católicos, então, é pior ainda", disse Lavenier.


Identidade


Um outro cabo eleitoral de Le Pen se aproxima: "Eu sou judeu, negro e sobretudo francês. Voto em Marine Le Pen porque ela é a única capaz de unir todos os franceses, de todas as origens", disse Christian Degbegni, de 58 anos, que tem origens no Benin e na Etiópia, mas apenas uma cidadania: a francesa. "Acho que ela faz uma boa política. Somos pelo fim da imigração selvagem e descontrolada e pela prioridade nacional. Porque a imigração selvagem causa delinquência."


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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