Quarentena aumenta casos e registros de violência doméstica contra mulheres
Houve um aumento de quase 9% no número de ligações para o canal que recebe denúncias de violência contra a mulher e 18% na quantidade de registros
Em tempos de quarentena recomendada para conter a propagação do coronavírus, houve um aumento de quase 9% no número de ligações para o canal que recebe denúncias de violência contra a mulher e 18% na quantidade de registros.
Segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a média diária entre os dias 1º e 16 de março foi de 3.045 ligações recebidas e 829 denúncias registradas, contra 3.303 ligações recebidas e 978 denúncias registradas entre 17 e 25 deste mês.
ATribuna.com.br entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública para obter dados da região e do estado, assim como o endereço de todas as unidades de Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). O Governo do Estado, por sua vez, limitou-se a dizer que “o atendimento segue funcionando regularmente em todo estado, e foram adotadas as medidas sanitárias necessárias para garantir proteção de agentes de segurança e cidadãos”.
A Reportagem ligou insistentemente em diversas unidades da DDM na Baixada Santista, inclusive para conversar com as delegadas responsáveis e saber se houve aumento no registro das ocorrências, mas só em São Vicente atenderam o telefone. Segundo uma fonte, que prefere não se identificar, as equipes estão reduzidas por conta do coronavírus.
Faltam números
Segundo a advogada de Direto de Família Renata Maria Silveira Toledo, especialista em Proteção e Direto das Mulheres, o maior problema relacionado ao assunto é justamente não termos números que representem o que realmente acontece no dia a dia.
“Precisamos começar a entender a abrangência da violência doméstica. A grande questão é que as pessoas não enxergam a violência psicológica e ela é o começo de tudo”, diz Renata.
Segundo ela, o aumento no número de casos vai acontecer justamente porque as pessoas estão presas dentro de casa, o que aumenta a pressão psicológica.
“Muitas vezes, a vítima nem tem para onde ir e fica cada vez mais encurralada. Ela mesma não enxerga que está nessa situação. Na minha opinião, a violência física é o último estágio. É importante ter o apoio da família nos primeiros sinais de que tem algo errado”.
Comunicação
Segundo a psicóloga especialista em sexualidade e mestre em saúde coletiva Aparecida Favoreto, este é o momento ideal para praticar a comunicação não violenta. “Uma das causas de conflitos nessa época é a forma como as pessoas se comunicam. Falar de forma crítica e julgadora faz com que elas se afastem ou se irritem”.
A titular da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, Cristiane Britto, diz que é preciso atenção pelo fato do principal agressor ser o companheiro.
“Temos de trabalhar com ações emergenciais e tomar medidas para que as vítimas sejam atendidas e acolhidas pela rede de proteção à mulher”.
Denuncie
Nem é preciso sair de casa para denunciar. O Ligue 180 e Disque 100 são canais telefônicos gratuitos e confidenciais para fazer denúncias e obter informações. Eles funcionam 24h todos os dias, inclusive finais de semanas e feriados.
>> Unidades da Delegacia de Defesa da Mulher:
- Guarujá (Rua Washington, 227, Vila Maia): à noite, fim de semana e feriados, o atendimento é realizado na Delegacia de Polícia Sede de Guarujá (Av. Puglisi, 656, Centro)
- Santos (Rua Assis Correa, 50, Gonzaga)
- São Vicente (Rua Djalma Dutra, 132, Centro)
- Cubatão (Av. Brasil, 384, Jardim Casqueiro)
- Praia Grande (Av. Dr. Roberto de Almeida Vinhas, 11.084, Vila Tupi)
- Mongaguá (Av. São Paulo, 851, Vila São Paulo)
- Peruíbe (Rua Ministro Genésio de Almeida Moura, 76, Centro)
* Bertioga e Itanhaém não têm delegacias específicas para atendimento de mulheres