Polícia Civil vê com preocupação a violência contra mulheres durante a pandemia na Baixada Santista

Na região, oito cidades possuem delegacias especializadas para atender as vítimas

Por: Bruno Almeida  -  10/01/22  -  11:53
Atualizado em 10/01/22 - 15:52
Delegacia de Defesa da Mulher de Santos funciona 24 horas por dia
Delegacia de Defesa da Mulher de Santos funciona 24 horas por dia   Foto: Divulgação/Governo do Estado

"Foi assustador. Eu tinha medo de ele vir me matar, de fazer algo pior comigo, mas o pessoal da delegacia me deu segurança e apoio e eu fiz o Boletim de Ocorrência", conta K.A.S., uma moradora de Guarujá que não quis ter a identidade revelada.


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A vítima teve um relacionamento que durou menos de dois meses com um homem que a agrediu. Para a Polícia, a divulgação e a ampliação dos meios de denúncia são fundamentais para combater situações como a vivida pela vítima.


Nos primeiros dias de conversa, a mulher diz que ele parecia ser uma pessoa boa. Em pouco tempo, a situação começou a mudar. "Ele me agredia verbalmente, queria controlar o tempo que eu passava na casa dos meus familiares, ele não queria que eu saísse com nenhuma amiga. Queria controlar minhas roupas. Com isso, fui questionando e nós sempre acabávamos discutindo", lembra. Em alguns episódios, o agressor segurou e apertou o queixo da vítima enquanto a ameaçava.


Um mês após o relacionamento ter acabado, ela descobriu que estava grávida do agressor. "Aí piorou tudo de vez, pois ele achou que poderia mandar em mim e fazer o que ele quisesse. Mas, quando meu filho nasceu, me deu forças para eu procurar ajuda e denunciar". Após a denúncia na Delegacia da Mulher da cidade, a Justiça concedeu à vítima uma medida protetiva contra o homem.


Para a titular da Delegacia da Mulher de Santos, Karla Cristina Martins Pereira, atitudes como a desta vítima, que procurou pelas autoridades policiais, são acertadas.


Na Baixada Santista, oito dos nove municípios da região possuem delegacias específicas para denúncias de crimes contra a mulher (veja no quadro os horários de funcionamento e os endereços). Apenas Bertioga não tem uma delegacia especializada.


"Por sermos uma delegacia especializada, a gente vai dar um tratamento, um atendimento especial. Ela (a vítima) passa por uma triagem, relata os problemas. Geralmente aqui as funcionárias, na sua maioria, são mulheres, e a gente sabe que as vítimas se sentem mais à vontade em falar o que elas estão passando para uma outra mulher. É importante que todo município tenha, porque isso encoraja as vítimas", conta.


No entanto, caso não seja possível ir a uma delegacia especializada, "é muito importante a mulher denunciar. Na delegacia comum também terá procedimentos eficazes", afirma a delegada.


Pandemia

Segundo Karla, desde março de 2020 situações de violência contra a mulher têm preocupado ainda mais.


"A violência doméstica vem crescendo. Pelo momento de pandemia, as pessoas ficam mais tempo em casa e há muito convívio entre a vítima e o agressor". Para ela, crimes de lesão corporal, ameaça, injúria, e os crimes sexuais são os delitos cujas quantidades mais a surpreendem.


Um levantamento feito por A Tribuna com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) mostra que, desde o início da pandemia, 305 mulheres foram vítimas do crime de feminicídio - o assassinato de mulheres em violência doméstica ou em aversão ao gênero da vítima - em todo estado.


No mesmo período, 83.240 sofreram lesão corporal dolosa (quando há intenção), 18.598 foram vítimas de calúnia, difamação ou injúria, 92.928 sofreram ameaça, e 4.064 mulheres foram vítimas de estupro neste período. Segundo a delegada, os indicadores a deixam "sensibilizada, com a incidência da violência doméstica e do machismo".


Fora do convívio social por causa da pandemia, as vítimas ficaram mais vulneráveis, explica a titular da Delegacia da Mulher de Santos, Karla Cristina Martins Pereira. Para estas pessoas, que às vezes podem não conseguir ir a uma delegacia, ela recomenda um mecanismo criado para que as denúncias sejam feitas sem sair de casa.


"O Boletim de Ocorrência eletrônico, ela pode acessar de dentro de casa, sem levantar tanta suspeita". O registro pode ser feito pelo portal da Polícia Civil.


Outros meios de denúncia são o Disque 100, uma central de Direitos Humanos que também recebe denúncias anônimas, inclusive por terceiros e a Central de Atendimento à Mulher, pelo telefone 180, que recebe denúncias de mulheres vítimas de violência.


Delegacias estão espalhadas pela Baixada Santista
Delegacias estão espalhadas pela Baixada Santista   Foto: Lutti Afonso/AT

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