Operação ilegal de câmbio levanta suspeita de lavagem de dinheiro do tráfico em Santos
Irmãos sócios de agência de viagem foram soltos após pagarem fiança de R$ 10.450,00 cada
A apreensão de mais R$ 5,5 milhões em espécie, após operação de câmbio irregular em uma agência de viagens em Santos, trouxe à tona um esquema de lavagem de dinheiro com suposta origem no tráfico de drogas. A Polícia Federal (PF) prendeu uma mulher e quatro homens em flagrante na quarta-feira (2). Entre os autuados estão os dois sócios da Lopestur, com sede na Avenida Marechal Floriano Peixoto, 103, no Gonzaga.
Por meio do seu Núcleo de Inteligência, a PF em Santos soube que alguém levaria vultosa quantia em dinheiro para a casa de alto padrão da Avenida General San Martin, 157, na Ponta da Praia, que passa por reforma. O local passou a ser vigiado e os agentes viram o empreiteiro Marcus Rogério Quintella Squillante dar ordens aos pedreiros. Em dado momento, ele entrou em um Hyundai HB20 e foi seguido à distância.
O destino de Squillante foi a Lopestur. Ele saiu do carro carregando uma sacola, entrou na agência e voltou momentos após com uma caixa de papelão. Os policiais federais pediram para o suspeito abrir a caixa e verificaram que nela havia grande volume de reais. Segundo o acusado, ele trocou o dinheiro no estabelecimento por cerca de US$ 150 mil. Questionado sobre o comprovante da operação de câmbio, alegou não ter recebido.
Dentro do HB20 foram apreendidos R$ 795 mil. Na sequência, os agentes entraram na casa de câmbio, onde estavam os sócios e irmãos Alexandre de Oliveira Lopes e Evaristo Lopes Neto. Os US$ 150 mil dólares recém-trocados foram achados debaixo de um carro Tiguan estacionado na Rua Particular Santos Cruz. Uma porta interna da Lopestur dá acesso a esta rua, onde foi abordado o policial militar aposentado Valter Fausto Narciso.
Perto dos dólares, em uma bolsa de viagem, havia mais R$ 497.900,00. Narciso disse que trouxe esta quantia de São Paulo para trocá-la por aproximadamente US$ 100 mil para um grupo de chineses. Depois, levaria os dólares para as mesmas pessoas. Pelo transporte do dinheiro, o policial aposentado informou que ganharia R$ 1 mil. Os quatro homens receberam voz de prisão, porque não comprovaram origem lícita dos valores.
Lavagem de dinheiro
O empreiteiro apontou Ana Raffaela Santos Generozo como quem lhe entregou os dólares. Segundo ele, o dinheiro se destinaria aos pagamentos de operários e de materiais usados na obra da casa da Avenida General San Martin. Os agentes se dirigiram ao imóvel e lá estava a mulher. Enquanto a residência era examinada, ela jogou um celular em uma lixeira na rua, mas os federais recuperaram o aparelho e o apreenderam.
Ana Raffaela é companheira de um homem suspeito de ligação com o tráfico de drogas e que já foi investigado por uso de documento falso e associação criminosa, segundo os agentes federais. A mulher alegou ser apenas a responsável pela reforma da casa da Ponta da Praia, apontando outro homem como o seu proprietário. Porém, os indícios são os de que o dono do imóvel não passe de laranja do companheiro da Ana.
Dentro da residência em reforma havia R$ 37.800,00 em uma dispensa. Mais US$ 150 mil foram achados em um quarto que estava trancado. Os agentes encontraram no HB20 de Squillante as chaves de dois automóveis dos modelos Chevrolet Zafira e Nissan March. Ambos estavam na garagem da casa. No primeiro carro havia as quantias de R$ 190 mil e R$ 305 mil. A maior soma foi descoberta em um compartimento secreto.
A quantia de US$ 430 mil foi achada escondida no painel do Nissan. Ana ou Squillante não comprovaram a origem desses vários e elevados valores. Eles sequer deram alguma explicação convincente sobre a procedência dos reais e dólares. O delegado da PF Vilton Gomes de Souza os autuou em flagrante por lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro nacional.
As penas desses delitos somadas variam de quatro a 14 anos de reclusão. O destino de Ana foi a cadeia feminina anexa ao 2º DP de São Vicente, enquanto Squillante foi recolhido à Penitenciária Dr. Geraldo de Andrade Vieira, mais conhecida por P-II de São Vicente. Os sócios da Lopestur e o PM aposentado foram autuados pelo crime contra o sistema financeiro nacional, punível com reclusão de um a quatro anos.
Os donos agência de viagem pagaram cada um fiança de R$ 10.450,00 e responderão em liberdade pelo crime. Os irmãos Lopes foram assistidos pelo advogado José Luiz Macedo. Ele afirmou que os clientes não têm relação com os demais autuados e comprovarão a origem lícita dos valores apreendidos com eles. A fiança de Valter Narciso foi arbitrada em R$ 522,00, sendo também paga.