Operação ilegal de câmbio levanta suspeita de lavagem de dinheiro do tráfico em Santos

Irmãos sócios de agência de viagem foram soltos após pagarem fiança de R$ 10.450,00 cada

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  04/12/20  -  10:10
 Entre os autuados estão os dois sócios da Lopestur, com sede no Gonzaga
Entre os autuados estão os dois sócios da Lopestur, com sede no Gonzaga   Foto: Matheus Tagé/AT

A apreensão de mais R$ 5,5 milhões em espécie, após operação de câmbio irregular em uma agência de viagens em Santos, trouxe à tona um esquema de lavagem de dinheiro com suposta origem no tráfico de drogas. A Polícia Federal (PF) prendeu uma mulher e quatro homens em flagrante na quarta-feira (2). Entre os autuados estão os dois sócios da Lopestur, com sede na Avenida Marechal Floriano Peixoto, 103, no Gonzaga.


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Por meio do seu Núcleo de Inteligência, a PF em Santos soube que alguém levaria vultosa quantia em dinheiro para a casa de alto padrão da Avenida General San Martin, 157, na Ponta da Praia, que passa por reforma. O local passou a ser vigiado e os agentes viram o empreiteiro Marcus Rogério Quintella Squillante dar ordens aos pedreiros. Em dado momento, ele entrou em um Hyundai HB20 e foi seguido à distância.


O destino de Squillante foi a Lopestur. Ele saiu do carro carregando uma sacola, entrou na agência e voltou momentos após com uma caixa de papelão. Os policiais federais pediram para o suspeito abrir a caixa e verificaram que nela havia grande volume de reais. Segundo o acusado, ele trocou o dinheiro no estabelecimento por cerca de US$ 150 mil. Questionado sobre o comprovante da operação de câmbio, alegou não ter recebido.


Dentro do HB20 foram apreendidos R$ 795 mil. Na sequência, os agentes entraram na casa de câmbio, onde estavam os sócios e irmãos Alexandre de Oliveira Lopes e Evaristo Lopes Neto. Os US$ 150 mil dólares recém-trocados foram achados debaixo de um carro Tiguan estacionado na Rua Particular Santos Cruz. Uma porta interna da Lopestur dá acesso a esta rua, onde foi abordado o policial militar aposentado Valter Fausto Narciso.


Perto dos dólares, em uma bolsa de viagem, havia mais R$ 497.900,00. Narciso disse que trouxe esta quantia de São Paulo para trocá-la por aproximadamente US$ 100 mil para um grupo de chineses. Depois, levaria os dólares para as mesmas pessoas. Pelo transporte do dinheiro, o policial aposentado informou que ganharia R$ 1 mil. Os quatro homens receberam voz de prisão, porque não comprovaram origem lícita dos valores.


Lavagem de dinheiro


O empreiteiro apontou Ana Raffaela Santos Generozo como quem lhe entregou os dólares. Segundo ele, o dinheiro se destinaria aos pagamentos de operários e de materiais usados na obra da casa da Avenida General San Martin. Os agentes se dirigiram ao imóvel e lá estava a mulher. Enquanto a residência era examinada, ela jogou um celular em uma lixeira na rua, mas os federais recuperaram o aparelho e o apreenderam.


Ana Raffaela é companheira de um homem suspeito de ligação com o tráfico de drogas e que já foi investigado por uso de documento falso e associação criminosa, segundo os agentes federais. A mulher alegou ser apenas a responsável pela reforma da casa da Ponta da Praia, apontando outro homem como o seu proprietário. Porém, os indícios são os de que o dono do imóvel não passe de laranja do companheiro da Ana.


Casa localizada na Avenida General San Martin. Dinheiro foi encontrado no local
Casa localizada na Avenida General San Martin. Dinheiro foi encontrado no local   Foto: Silvio Luiz/AT

Dentro da residência em reforma havia R$ 37.800,00 em uma dispensa. Mais US$ 150 mil foram achados em um quarto que estava trancado. Os agentes encontraram no HB20 de Squillante as chaves de dois automóveis dos modelos Chevrolet Zafira e Nissan March. Ambos estavam na garagem da casa. No primeiro carro havia as quantias de R$ 190 mil e R$ 305 mil. A maior soma foi descoberta em um compartimento secreto.


A quantia de US$ 430 mil foi achada escondida no painel do Nissan. Ana ou Squillante não comprovaram a origem desses vários e elevados valores. Eles sequer deram alguma explicação convincente sobre a procedência dos reais e dólares. O delegado da PF Vilton Gomes de Souza os autuou em flagrante por lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro nacional.


As penas desses delitos somadas variam de quatro a 14 anos de reclusão. O destino de Ana foi a cadeia feminina anexa ao 2º DP de São Vicente, enquanto Squillante foi recolhido à Penitenciária Dr. Geraldo de Andrade Vieira, mais conhecida por P-II de São Vicente. Os sócios da Lopestur e o PM aposentado foram autuados pelo crime contra o sistema financeiro nacional, punível com reclusão de um a quatro anos.


Os donos agência de viagem pagaram cada um fiança de R$ 10.450,00 e responderão em liberdade pelo crime. Os irmãos Lopes foram assistidos pelo advogado José Luiz Macedo. Ele afirmou que os clientes não têm relação com os demais autuados e comprovarão a origem lícita dos valores apreendidos com eles. A fiança de Valter Narciso foi arbitrada em R$ 522,00, sendo também paga.


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