Carro de PM suspeito de atentado a Solange Freitas ‘escoltou’ moto do atirador, segundo a polícia
Segundo a polícia, veículo do policial circulou por um tempo razoável na área do atentado, na Linha Vermelha, em São Vicente
Atualizado em 18/11/20 - 21:14
Suspeito de envolvimento no atentado a tiros da candidata a prefeita de São Vicente, Solange Freitas (PSDB), um policial militar rodoviário teve a prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça e foi capturado na manhã desta quarta-feira (18), em Santos. Ele negou participação no crime e foi encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte de São Paulo. O seu nome não foi divulgado. As investigações prosseguem.
Policiais da 3ª Delegacia de Investigações sobre Homicídios apuraram que o Hyundai ix35 preto do policial rodoviário circulou por tempo razoável no perímetro do atentado. O crime aconteceu na Avenida Minas Gerais, mais conhecida por Linha Vermelha, na Vila São Jorge, em São Vicente, às 10h14 da última quarta-feira (11). O suspeito alegou que iria realizar “troca de óleo” do carro.
A análise de imagens de câmeras de segurança possibilitou verificar o automóvel do policial rodoviário acompanhando a scooter Honda PCX branca pilotada pelo autor dos disparos. Cinco tiros atingiram o vidro do passageiro do Volkswagen Tiguan ocupado por Solange Freitas e mais quatro pessoas de sua equipe de campanha. As vítimas escaparam ilesas porque o veículo é blindado.
De acordo com as filmagens, a impressão ou a suspeita, pelo menos, é a de que o Hyundai ix35 escoltava o veículo do atirador. Após a identificação do carro e do seu dono, o delegado Renato Mazagão Júnior requereu à Justiça a sua prisão temporária e teve o pedido deferido. Por se tratar de crime hediondo, o prazo dessa custódia cautelar pode ser renovado mais uma vez, por igual período, se for imprescindível às investigações.
O patrulheiro rodoviário não foi encontrado em sua casa, em Mongaguá, na manhã desta quarta-feira (18). A sua prisão ocorreu no quartel da Polícia Militar localizado na Avenida Coronel Joaquim Montenegro, na Ponta Praia, em Santos, onde ele compareceu para realizar exame médico. A Corregedoria da PM foi acionada pela Polícia Civil para participar do cumprimento da ordem de captura.
‘Réu confesso fake’
No último sábado (14) à noite, sem revelar detalhes, o delegado Manoel Gatto Neto, chefe da Polícia Civil na região, disse que as investigações estavam em ritmo adiantado. Esta declaração foi dada após a equipe da 3ª Delegacia de Homicídios, sob o comando do delegado Mazagão, desmascarar um homem que assumiu a autoria dos tiros no carro ocupado por Solange Freitas e assessores.
O curioso é que este suposto atirador se apresentou na Delegacia de São Vicente no próprio sábado à tarde, véspera do 1º turno das eleições, quando não poderia ser preso devido à legislação eleitoral. Também chamou a atenção o fato de várias pessoas tomarem conhecimento da apresentação espontânea deste homem antes mesmo de sua chegada à unidade policial ou logo após ele ingressar na repartição.
Conduzido à 3ª Delegacia de Homicídios para ser ouvido, o falso atirador confesso contou uma versão que não coincide com os fatos já apurados. Para os investigadores ficou evidente que o seu relato é mentiroso. Para reforçar a farsa, o piloto da Honda PCX tinha curativo no dedão do pé direito, conforme mostram as imagens de câmeras, mas o homem que assumiu a autoria do crime não apresentava lesão ou cicatriz neste dedo.
Em tese, o atirador fake cometeu o crime de auto-acusação falsa, previsto no Artigo 341 do Código Penal e punível com detenção de três meses a dois anos. Ele foi liberado após ser ouvido na presença do advogado José Cosmo de Almeida Júnior, com quem se apresentou na Delegacia de São Vicente. O mesmo defensor esteve na 3ª Delegacia de Homicídios para acompanhar o interrogatório do policial rodoviário.
A Tribuna entrou em contato telefônico com Cosmo, mas ele não quis se manifestar. Ele estava no Instituto Médico-Legal (IML) de Santos, onde o patrulheiro rodoviário era submetido a exame de corpo de delito. Esta providência é praxe aos investigados que têm prisão temporária decretada, antes de serem recolhidos à cadeia. A legislação ainda determina que todos os presos temporários fiquem separados dos demais detentos.
Solange Freitas soube pela Reportagem sobre a prisão do policial rodoviário. “Eu sempre confiei no trabalho da polícia. E estou muito feliz com o avanço das investigações. Tenho certeza que em breve o caso será esclarecido”, declarou a candidata, eleita para o segundo turno. O maior desafio da investigação, se o crime for de mando, é reunir provas que vinculem o executor ao autor ou autores intelectuais.