Acusado de tentar matar a tiros dupla de policiais civis é solto em São Vicente

Juiz afirma que não há indícios suficientes para autorizar o julgamento

Por: Eduardo Velozo Fuccia & Da Redação &  -  31/12/19  -  17:36
Drone foi usado pela defesa para filmar local do suposto confronto
Drone foi usado pela defesa para filmar local do suposto confronto   Foto: Divulgação/ Polícia Civil

Após ficar 175 dias preso acusado de tentar matar a tiros dois policiais civis em São Vicente, Julival Raimundo dos Santos Júnior, de 44 anos, foi colocado em liberdade. O juiz Rodrigo Barbosa Sales, da 3ª Vara Criminal, reconheceu que não há indícios suficientes para autorizar o julgamento popular do réu e expediu o seu alvará de soltura.


Segundo denúncia do Ministério Público (MP), a dupla tentativa de homicídio aconteceu na manhã de 26 de junho de 2019, na Avenida Minas Gerais (Linha Vermelha), perto do Morro do Voturuá. Os policiais foram recebidos a tiros, revidaram os disparos e balearam o acusado, que foi preso em flagrante. Outros três homens fugiram pela mata.


O promotor Fábio Perez Fernandez disse que o local do tiroteio é conhecido ponto de tráfico de drogas. Segundo ele, o réu não conseguiu matar os policiais porque errou os alvos e os investigadores reagiram. Por isso, ele denunciou Julival por porte ilegal de arma e tentativa de homicídio duplamente qualificado – contra agentes de segurança no exercício da função e para assegurar a execução e a impunidade de outro crime (tráfico).


Julival negou ser o dono da arma que os policiais afirmaram ser dele. Também refutou a condição de traficante, alegando que estava no local para adquirir entorpecente, porque é usuário. Sem antecedentes criminais e com ocupação lícita, declarou ainda que realizou um saque bancário momentos antes do suposto tiroteio para a aquisição da droga.


Perícias e drone


Os advogados Francisco Martori Sobrinho e Micheli Potenza Bucardi juntaram ao processo o comprovante do saque. Emitido por caixa eletrônico, o documento prova a condição de trabalhador do réu, porque o dinheiro retirado foi proveniente de empréstimo consignado ao 13º salário de Julival.


“A perícia oficial confirmou, de modo irrefutável, que apenas os investigadores dispararam e uma das balas acertou a coxa direita do meu cliente por trás, ou seja, enquanto fugia desarmado e não em uma situação de confronto. O laudo do exame residuográfico feito nas mãos do acusado foi negativo para vestígios típicos de quem efetua disparo de arma de fogo”, acrescentou Martori.


Com a câmera de um drone, a defesa também fotografou o local do suposto confronto e demonstrou que a dinâmica dos fatos não correspondeu ao relato dos agentes públicos, conforme o juiz reconheceu em sua decisão. Os depoimentos dos policiais em juízo conflitaram com as fotos, não esclarecendo com exatidão o local do suposto tiroteio.


Também não ficou clara a rota de fuga do réu e onde ele caiu baleado e foi achado o revólver calibre 38 que portaria, segundo a versão dos investigadores. Após a fase de produção de provas, o próprio MP, agora representado pelo promotor André Luiz dos Santos, admitiu a falta de “elementos suficientes” para o réu ir a júri.


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