Conta de luz ficará bem mais 'salgada' a partir de agosto

Só a bandeira tarifária, um dos componentes do cálculo do valor total, pode subir 21%

Por: Júnior Batista  -  25/07/21  -  10:11
 Só a bandeira tarifária, um dos componentes do cálculo do valor total, pode subir 21%
Só a bandeira tarifária, um dos componentes do cálculo do valor total, pode subir 21%   Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Arquivo/Agência Brasil

A conta de luz vai subir a partir de agosto se confirmada a recomendação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Até o fim do mês está aberta uma consulta pública para reajustar a bandeira vermelha patamar 2, que está em vigor, de R$ 9,49 cada 100 kWh consumidos, para R$ 11,50 – aumento de 21,18%.


Além da subida da bandeira tarifária, Elektro e CPFL, as distribuidoras de energia que atendem a região, terão a revisão anual de suas tarifas nos próximos meses, o que vai pesar ainda mais na conta de luz.


O reajuste da bandeira vermelha causaria impacto de 84% sobre a taxa original, de R$ 6,24 neste ano. Em 2022, o consumidor teria outro reajuste de pelo menos 5%, diz a Aneel.


De acordo com a agência, o reajuste é necessário para evitar o rombo já estimado em R$ 2 bilhões nos custos de produção de energia extra, comprada pelo Governo das termelétricas.


Essa energia custa mais caro porque é considerada nobre. A sua geração é a partir de combustíveis fósseis. Uma dessas fontes é a termelétrica Euzébio Rocha, de Cubatão.


Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o Subsistema Sudeste Centro-Oeste está com 27% de sua capacidade. Ele é responsável por mais da metade da capacidade de geração de energia do País. As duas regiões abrigam as principais hidrelétricas existentes no Brasil.


O sistema energético do País depende delas porque sua matriz tem 65% de energia gerada pelas hidrelétricas, 20% de termelétricas, 9% de eólicas e 1% de solar. Os dados são do Sistema Integrado Nacional. Essa participação era de 90% em 2001.


Segundo o professor do Departamento de Engenharia de Energia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e sócio da MRTS Consultoria, Dorel Soares Ramos, diversificar a matriz energética é a chave para diminuir esse problema.


Distribuidoras


A Elektro, que atende Bertioga, Guarujá, Vila Caiçara (Praia Grande), Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, tem seu reajuste anual de tarifas em 27 de agosto. A CPFL Piratininga (Santos, São Vicente, Praia Grande, Cubatão e Vicente de Carvalho) faz reajuste em outubro. Ambas dizem que os aumentos ainda não foram definidos.


Sistema Tarifário

O sistema de bandeiras foi criado em 2015, para sinalizar a alta dos custos de geração. A tarifa vai da verde, quando os reservatórios das hidrelétricas estão cheios, até a vermelha, se os lagos estiverem com níveis baixos. Antes do sistema de bandeiras, o custo do acionamento extra das térmicas era repassado somente no ajuste anual das tarifas, o que acarretava na cobrança de juros, penalizando o consumidor. Esse gasto com as térmicas é estimado em R$ 13 bilhões, segundo o Ministério de Minas e Energia.


Custo da luz gera inflação e castiga os mais pobres


Economistas sinalizam que as classes mais pobres serão as mais afetadas pelo aumento do custo da energia, que afeta preços de produtos, principalmente os itens básicos. Eles explicam que os reservatórios somente devem voltar a patamares aceitáveis em novembro, quando as chuvas de verão começarem.


A inflação sentirá ainda mais pressão desses custos e isso deve retardar a retomada econômica, porque fará as classes C, D e E, principalmente, perderem poder de compra. Isso significa menos dinheiro gasto na economia nacional.


De acordo com o economista do FGV-Ibre, André Braz, os negócios serão pressionados e vão aumentar preços. Com o reajuste, a prestação de serviços vai se tornar mais cara. E esse preço, uma vez reajustado, não voltará a patamares anteriores à crise hídrica.


“Esse aumento afeta importantes setores, serviços que dependem muito de energia, como salões de beleza, consultórios médicos, indústrias que usam energia na produção de bens movimentando máquinas, o setor automobilístico e a construção civil”, diz Braz.


A situação, no entanto, ficará mais complicada porque os reajustes serão repassados ao consumidor. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), o preço da energia elétrica aumentou 14,61% no acumulado de 12 meses. De janeiro a junho, na comparação com o mesmo período do ano passado, o aumento foi de 7,19%.


Investimentos


Segundo o economista e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Felipe Queiroz, a lentidão de investimentos fez piorar a situação em crises hídricas. Ele afirma que, desde 2014, com o plano de investimentos da Belo Monte, não há uma estratégia. “Não houve um planejamento grande. Não se acompanhou o tamanho da necessidade do nosso País. O gasto público aumentou, mas sem movimento para alterar a matriz energética”, afirma Felipe Queiroz.


Renováveis


O professor de Engenharia de Energia da Politécnica da USP, Dorel Soares Ramos, diz que à medida que a energia renovável for aumentada, haverá menos dependência energética. No entanto, afirma que as hidrelétricas e termelétricas não são dispensáveis. “Para que o sistema opere de maneira segura, é necessário um equilíbrio e as termelétricas têm papel importante para fornecer energia em momentos de crise e seca”.


Segundo ele, até 2030, o sistema terá 50% de matriz hidrelétrica. Se confirmada essa previsão, a participação de fontes renováveis, como eólica e solar, vai aumentar para cerca de 30%. O Ministério de Minas e Energia afirma que, com relação a um risco de desabastecimento, “cabe ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) avaliar periodicamente as condições de atendimento ao Sistema Elétrico Brasileiro, e as informações atualizadas são publicadas nas Notas Informativas das reuniões”.


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