Alta do gás de cozinha castiga consumidor da Baixada Santista: 'Pesa muito para baixa renda'

Preço médio do GLP subiu até 25%, segundo a ANP

Por: Júnior Batista  -  22/03/22  -  15:54
Atualizado em 22/03/22 - 21:04
De acordo com os cálculos da ANP, Cubatão tem o botijão de gás de 13 quilos mais caro da Baixada Santista
De acordo com os cálculos da ANP, Cubatão tem o botijão de gás de 13 quilos mais caro da Baixada Santista   Foto: Matheus Tagé/AT

O botijão de gás de 13 quilos já é vendido a pelo menos R$ 130 em Santos, segundo apurou A Tribuna, nesta segunda-feira (21), em revendas. No último dia 10, a Petrobras aumentou o preço do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) em 16,1%, passando de R$ 3,86 para R$ 4,48 por quilo nas distribuidoras.


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Segundo dados coletados pela Reportagem junto à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre maio de 2021 e o último dia 13, os aumentos variam de 18% a até 25%, em média, nas cidades em que há medição pelo órgão: Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Praia Grande, Santos e São Vicente.


Praia Grande teve o maior índice de aumento: 25,26% na média do preço cobrado pelo botijão - em maio custava R$ 82,01 e agora chega a R$ 102,73. Itanhaém teve o segundo maior reajuste, com 19,72% – de R$ 90 para R$ 107,75, em média.


A menor variação de preço foi registrada em Cubatão: 18,15% (de R$ 93,43 para R$ 110,39). Porém, a cidade é que possui o maior preço médio do botijão de 13 kg na região.


De acordo com a Petrobras, o aumento do gás segue a elevação dos patamares internacionais de preços de petróleo, impactados pela oferta limitada. “Mantemos nosso monitoramento contínuo do mercado nesse momento desafiador e de alta volatilidade”, informou a estatal na época do reajuste.


Comerciantes que dependem do gás de cozinha sentiram o baque do aumento. Proprietária do restaurante Maria Rosa, no Centro de Santos, Solange Shimizu, diz que não sabe ainda até quando vai conseguir manter o preço cobrado dos clientes pelo almoço self-service.


“Na semana passada eu comprei o botijão (45 kg) por R$ 377. Antes, eu pagava R$ 345. Aumentou muito rápido”, conta ela. Um destes cilindros dura pouco menos de cinco dias. No fim do mês, caso compre quatro, a diferença no valor chega a R$ 128.


“E o problema é que não foi só o gás que aumentou. Ele acompanhou uma alta de outros preços que vem acontecendo faz muito tempo”, completa.


Proprietário do Tokyo, restaurante de comida japonesa no Centro de Santos, Nilton Bispo dos Santos afirma que também sentiu o aumento dos preços do gás. Ele também utiliza um cilindro de 45 kg.


Para economizar, ele mudou a forma de cozinhar e não ter que repassar o aumento para o preço do almoço por quilo. “Nós temos uma forma de utilizar esse cilindro, liberando mais ou menos gás para os fornos. Estamos liberando menos e reorganizando os pratos para economizar gás”, conta.


Drama Social
O economista e coordenador do Índice de Preços no Consumidor (IPC) do FGV-Ibre, André Braz, afirma que o frete tem um efeito elevado no preço do gás de cozinha, inclusive de grande impacto social.


Segundo ele, há diferenças acentuadas entre o que é cobrado diretamente na distribuidora, por caminhões que passam pelos bairros e pelo poder paralelo em algumas regiões. “O gás pesa muito para a baixa renda. Quanto menos a família ganha, maior o peso do gás no orçamento. Esses efeitos tornaram o gás um desafio”.


Por esse motivo, segundo ele, há programas sociais, como o vale-gás, que tentam mitigar esses efeitos no bolso de quem ganha menos. No mês que vem, será pago o Auxílio Gás do Governo Federal.


Sancionado em novembro, o vale é pago junto ao Auxílio Brasil, o novo Bolsa Família. O pagamento do benefício é bimestral e o valor corresponde a 50% da média do preço do botijão (R$ 52).


De acordo com Braz, programas do vale-gás são uma situação válida, porém, não resolvem o problema por serem medidas eleitoreiras.


“Ter atenção às contas públicas é importante. O uso desse dinheiro em programas sociais é válido, desde que tenha contrapartida para essa despesa e isso muitas vezes não acontece”.


Ele alerta ainda para a incerteza com a invasão da Ucrânia. “Os embargos podem continuar mesmo no pós-guerra, obrigando os países a reverem seus acordos comerciais, sustentando o preço do barril em patamares mais altos em relação a antes da guerra”.


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