Viver Bem: Exigência exagerada de alegria traz à tona positividade tóxica

De repente, fomos atingidos por uma onda de beijos de luz, otimismo e namastê que vem tornando quase crime a decepção por conta de um dia ruim, o sentimento de frustração ou aquela vontade de xingar depois de um momento de estresse. 

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A exigência de tanta alegria trouxe à tona o termo positividade tóxica e a necessidade de reconhecer e lidar com os sentimentos considerados negativos. No fim, especialistas garantem que é importante saber enfrentar situações ruins da melhor forma possível, mas ciente que elas existem, já que ignorá-las pode ser perigoso. 

“Principalmente nas redes sociais, começou uma enxurrada dizendo que devemos ser sempre felizes e estarmos com pessoas felizes. Mas essa não é a realidade da vida”, afirma a psicóloga Adriana Severine. Todos passamos por momentos difíceis que nos trazem tristeza, preocupação, nervosismo e é preciso saber aceitar que esses sentimentos fazem parte da vida de todo ser humano. 

“A forma como lidamos com essas situações é que conta”, ensina a psicóloga. Isso porque só vivendo essas situações e sentimentos que é possível buscar novas e melhores saídas e alternativas. “Vivemos sempre sujeitos a mudanças, boas e ruins, e é a forma como agimos que faz toda a diferença. Não adianta ficar apenas sentado esperando que só aconteçam boas coisas, pois a vida é muito mais dinâmica e essa postura só nos deixará frustrados e infelizes”. 

Segundo Adriana, pensar positivo é algo valioso, mas ao extremo e sem medida pode levar o indivíduo a ignorar os problemas, criando a falsa sensação que eles se resolvem sozinhos. “Ou a fugir de antigos amigos e familiares que estão passando por um problema difícil por não querer uma carga de negatividade, esquecendo que podemos ser empáticos, ouvir e até mesmo ajudar outras pessoas”, diz. Em casos extremos, essa busca por good vibes eternas pode nos tornar mais egoístas. 

E é nessa busca equivocada que se pode esbarrar na positividade tóxica. Segundo Adriana Drulla, mestre em Psicologia Positiva e especialista em Autocompaixão e Parentalidade Consciente, a positividade tóxica é quando acreditamos que deveríamos estar sempre bem e acabamos governados pela ditadura da felicidade. 

“A pessoa passa a se culpar por não ser sempre otimista e estar sempre feliz, o que gera mais negatividade, naturalmente. Nosso corpo e nossa mente respondem pior ao estresse quando negamos o que estamos sentindo. É impossível estarmos bem quando estamos em guerra com nós mesmos”, afirma Adriana. 

Quando conseguimos aceitar nossos momentos difíceis, entendendo que fazem parte da nossa natureza, podemos nos apoiar durante esses momentos com gentileza, como fazemos com um grande amigo, por exemplo. 

Validar somente o que é positivo e excluir o negativo é reprimir emoções como raiva e tristeza, que fazem parte do dia a dia, explica Samira Brito, psicóloga de relacionamentos. Isso faz com que, num próximo momento, essas emoções venham de forma mais intensa. “Na tentativa de sempre reprimi-las, escondê-las para pensar sempre positivo, o indivíduo explode”. 

Assim, aconselha Samira, é possível encontrar uma medida a partir do momento que se entende que todas as emoções sentidas são válidas. “Nós precisamos aprender a sentir tristeza, para entender o que é alegria. Precisamos da raiva, para entendermos o que é estar calmo. É necessário sentirmos todas as emoções e aprendermos a lidar com elas de maneira a não nos prejudicarmos, entendendo a naturalidade de tudo isso”.

Como encontrar o equilíbrio:

O ideal é toda vez que houver uma situação difícil analisá-la de forma aberta: veja as possibilidades de solução, os melhores caminhos e como agir. 

Entenda que a ação é importante. A falta dela pode significar excessos. Pode-se não fazer nada porque há a certeza que tudo dará certo no final ou de que não adianta porque, de qualquer forma, dará tudo errado. 

Perceba que as emoções fazem parte de nós. Aliás, o termo 'emoção negativa' nem é o mais adequado, uma vez que todas as emoções são fundamentais.

Experimente

Achar a dose certa entre pessimismo e otimismo inclui encontrar a calma necessáriapara que possamos analisar o nosso diálogo interno de forma realista. Para isso, tanto os pessimistas quanto os otimistas podem fazer um exercício de 4 passos.

1 - Imagine, e se possível escreva, o pior cenário possível em relação a uma situação. 

2 - Imagine e escreva o melhor cenário possível sobre essa mesma situação.

3 - Agora, descreva o cenário como de fato ele está se apresentando. Não recorra ao futuro, nem ao passado. Simplesmente descreva as coisas como estão. 

4 - Compare e aponte o que é diferente nos dois primeiros cenários. A partir do cenário realista, construa um plano para lidar com a situação.

Dica de filme: Divertidamente 

Vencedor do Oscar e sucesso de crítica e público, o filme "Divertida Mente", da Pixar, pode dar uma ajudinha na hora de entender a importância das emoções. O filme se passa dentro da cabeça da garotinha Riley. Lá, as personagens Alegria, Tristeza, Raiva, Nojinho e Medo, têm a tarefa de organizar a central de comando. Ou seja, os sentimentos que influenciam as decisões da menina. Entre risos, problemas e a tendência a acreditarmos que a Alegria é quem deve sempre estar à frente, aprendemos bastante sobre >as emoções.