Vacina contra covid-19 e gripe deve ser testada em humanos em abril de 2023, diz Dimas Covas

Presidente do Instituto Butantan planeja estudos clínicos do imunizante na próxima temporada de gripe

Por: Daniel Gois  -  31/03/22  -  16:28
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, planeja estudos clínicos de vacina contra covid-19 e gripe em abril de 2023
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, planeja estudos clínicos de vacina contra covid-19 e gripe em abril de 2023   Foto: Divulgação/Instituto Butantan

A vacina conjunta para covid-19 e gripe, desenvolvida pelo Instituto Butantan, deve ter o início de seus estudos clínicos (testes em humanos) em abril de 2023, na próxima temporada de gripe. A afirmação foi feita pelo presidente do Butantan, Dimas Covas, em entrevista para A Tribuna. Ele também falou sobre o desenvolvimento da ButanVac, que será usada como dose de reforço contra a covid-19, e do imunizante contra a chikungunya.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


O Instituto Butantan entregou, na última sexta-feira, a segunda parte das obras da nova fábrica de vacinas, que terá capacidade para até 100 milhões de doses por ano. Quais serão as próximas etapas? Quais imunizantes serão fabricadas neste novo espaço?


"É uma fábrica extremamente moderna em termos de produção de vacinas. Ela pode produzir a vacina para covid, da raiva, hepatite A, zika. É uma fábrica multipropósito. É uma fábrica totalmente automatizada, fazendo parte da indústria 4.0. Tudo é controlado digitalmente. A interferência humana é muito pequena. Ela tem uma grande área de biossegurança, para você poder manipular vírus patogênicos. Isso vai dar uma grande contribuição para o Brasil, tornando-o mais independente em termos de produção de vacinas. "


A vacina para a chikungunya também está inclusa nesta fábrica?


"A (vacina da) chikungunya é em outra fábrica que já existe e desenvolve a vacina da dengue. É uma fábrica construída há 1 ano e meio. "


O senhor assumiu a presidência do Instituto Butantan em 2017. Na sua avaliação, quais foram os principais avanços conquistados e os maiores desafios enfrentados nesses últimos cinco anos?


"O (Instituto) Butantan hoje é um outro Butantan. É uma instituição de importância mundial, que manda vacinas para outros países e tem a maior fábrica de produção da vacina da gripe no Hemisfério Sul. O Butantan se remodelou e se reinventou nos últimos anos. Enfrentou a crise da pandemia de uma forma muito eficiente. O Butantan foi uma instituição que contribuiu de forma decisiva para o enfrentamento da pandemia no Brasil. "


Como está o processo de aprovação da vacina Coronavac, junto à Anvisa, para imunização de crianças com idade a partir de 3 anos? Houve algum avanço?


"Todo o dossiê foi submetido à Anvisa há algum tempo (mais de 15 dias). Estamos aguardando o pronunciamento da Anvisa. Esperamos que isso ocorra. É a única vacina que foi submetida para essa faixa etária, em especial. É uma vacina extremamente segura e que tem uma alta efetividade. Tem todos os requisitos para que essa vacina seja aprovada pela Anvisa. Esperamos que isso ocorra o mais rapidamente, porque existe a necessidade de ampliar essa vacinação. "


A respeito da Butanvac, quando você acha que ela chegará ao braço dos brasileiros? Por que o ensaio clínico do imunizante teve de ser remodelado?


"Ela deveria ter avançado mais rapidamente no estudo clínico porque assim foi previsto lá no meio de 2021. Era um estudo comparativo: você comparava pessoas que tomavam e pessoas que não tomavam. Esse desenho foi possível ser feito com 320 voluntários, mas a vacinação do Estado de São Paulo avançou muito rapidamente. Aí já não havia mais a possibilidade de inclusão de voluntários. Isso levou à necessidade de reformular o estudo clínico. Ele está desenhado agora para usar essa vacina como reforço e não mais ser um estudo comparativo. Isso trouxe um retardo na velocidade de análise dessa vacina. Existem mais dois países fazendo análises e estudos clínicos, que é a Tailândia e o Vietnã. Até o final desse ano, reunindo todos os resultados, é possível que a gente tenha essa vacina disponível para uso. Esperamos que no próximo ano isso já seja possível. "


Essa mudança se deu por uma coisa positiva, que é o avanço da vacinação no Estado...


"Sim, felizmente. O fato de ter a disponibilidade de vacinas e ter avançado muito rapidamente na vacinação é extremamente positivo. É o que está segurando a pandemia. "


E em relação à vacina única para covid-19 e gripe, qual é o andamento? Quais são os próximos passos?


"Essa vacina está na fase de estudos pré-clínicos. É uma vacina totalmente desenvolvida no Butantan. Esperamos poder testar essa vacina, fazer o estudo clínico dela, na próxima temporada de gripe. Ela só poderá ser testada quando tivermos o vírus da gripe circulando e isso só vai acontecer no ano que vem, a partir de abril. "


Vacina contra chikungunya e ButanVac já estão sendo testadas em humanos
Vacina contra chikungunya e ButanVac já estão sendo testadas em humanos   Foto: Divulgação/Instituto Butantan

Como está o andamento da vacina contra a chikungunya?


"É uma parceria com outra empresa (Valneva). Ela já foi estudada clinicamente nos Estados Unidos, onde se fez um estudo de fase 3. O Butantan está conduzindo um estudo em crianças e adolescentes. Esperamos que, no próximo ano, os resultados desses estudos permitam a aprovação para uso. Temos uma fábrica em que já estamos aptos a produzir essa vacina. "


Como médico e pesquisador, o senhor acredita que esta redução no número de casos, óbitos e internações por covid-19 se manterá ou existe o risco de termos novamente um agravamento da situação, como tem se observado na Ásia e em alguns países da Europa?


"Tudo indica que a situação vai se manter, e o motivo principal é a vacinação, agora já com a quarta dose, que foi iniciada nos idosos. Somente a vacinação pode controlar as variantes. Outros países tiveram onda da variante BA.2, como Inglaterra e Estados Unidos. Aqui no Brasil ainda não temos essa onda. A variante BA.2 está presente, mas ainda não representa números importantes. Esperamos que se ela vir de fato a acontecer, que ela possa ser controlada pela alta porcentagem de pessoas vacinadas. "


O que se sabe sobre essa subvariante da Ômicron (BA.2)?


"É uma subvariante muito diferente da própria variante original, a BA.1. Ela preocupa porque é mais transmissível. A BA.1 já era muito transmissível, e a BA.2 é mais do que a BA.1. É isso que causou um alerta em outros países que tiveram pequenos surtos em relação a essa variante. Esperamos que aqui no Brasil isso não aconteça. "


Para você, pessoalmente falando, qual foi o momento mais crítico da pandemia?


"O momento mais crítico da pandemia foi em meados do ano passado, quando o Brasil bateu recordes de óbitos, ultrapassando 3 mil óbitos por dia. Foi um momento muito triste. Por outro lado, mesmo nesse momento, já tínhamos a possibilidade de estar com a vacinação mais adiantada. Houve sim alguma dificuldade, principalmente em relação à vacina do Butantan, uma resistência em aquisição por parte do Ministério (da Saúde). Isso causa uma tensão enorme em quem é responsável pela vacina. Pessoalmente, para mim, foram momentos muito difíceis. E outro momento foi da própria aprovação, lá no dia 17 de janeiro, da campanha de vacinação. Até esse momento, vivenciamos momentos de muita tensão, aguardando o pronunciamento da Anvisa e esperando que tudo ocorresse bem. Foi um momento de muita expectativa e tensão. "


Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de vacinas contra covid-19, gripe e chikungunya
Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de vacinas contra covid-19, gripe e chikungunya   Foto: Divulgação/Instituto Butantan

Logo A Tribuna