Especialistas do litoral de SP dizem que não há motivo para pânico com o fungo negro: 'Muito raro'

Na Índia, pacientes com covid-19 têm sofrido mucormicoses fatais; médicos falam sobre tratamentos e cuidados

Por: Matheus Müller  -  05/06/21  -  10:51
  O fungo está nos vegetais, no solo e, por lesões pode acabar se implantando no ser humano
O fungo está nos vegetais, no solo e, por lesões pode acabar se implantando no ser humano   Foto: Reprodução

Os fungos negro, branco e amarelo (mucormicoses) ganharam destaque no mundo diante do estrago que vêm causado na Índia, onde mais de 9 mil foram infectados e acima de 250 morreram. Os casos em pacientes de covid-19 assustam, mas, segundo médicos infectologistas, esse problema, que pode afetar quaisquer pessoas debilitadas e imunossuprimidas, tem tratamento e não deve gerar pânico.


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“Aqui no Brasil é muito raro, ocorre mais na zona rural. Essas micoses estão em áreas muito pobres, como na Índia. Esse fungo está nos vegetais, no solo e, por microtraumas (lesões), acaba se implantando no ser humano, causando lesões variadas, formando nódulos, feridas, e pontos negros”, diz o médico infectologista Roberto Focaccia. O fungo também pode ser aspirado.


Ele reforça que essas infecções tendem a afetar indivíduos com covid terminal, bem como pacientes com outras doenças — câncer, diabetes, HIV — expostos a condições precárias, sem saneamento e com falta de higiene. A médica infectologista Elisabeth Dotti ressalta que esses fungos estão em todos os lugares: no bolor dos pães e no ar condicionado, por exemplo.


“O quadro fúngico leva um tempo para se instalar e causar uma importante gravidade. Agora, tem jeito de se tratar. Dá para tratar por medicação oral ou medicação endovenosa (na veia). Tem um arsenal para tratar fungo. Na Índia, (a situação) está alarmante porque são muitos casos e porque está um turbilhão, mas não e assim, não é para ter esse pânico”, aponta Elisabeth.


Focaccia menciona, ainda, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia colocado um alerta de que essas micoses de implantação (como o fungo negro) estão entre as doenças negligenciadas em países pobres, “e isso é muito típico lá na Índia”.


A prevalência da infecção naquele país é 70 vezes maior do que a média global. Nos Estados Unidos, por exemplo, pesquisas apontam que a taxa anual de fungo negro é de 1,7 caso por milhão de pessoas.


Sintomas e necrose


Além das mortes, os casos de fungo negro na Índia chamaram a atenção pelo fato de poder causar necroses e levar a mutilações para impedir o avanço da infecção. Ela costuma afetar seios da face, pulmões e cérebro. Os sintomas dependem de onde o fungo está crescendo no corpo, mas podem incluir edema facial, febre, úlceras na pele e lesões pretas na boca.


Em relação ao fungo branco, também registrado na Índia, este pode afetar muitas partes do corpo, incluindo pulmões, unhas, pele, estômago, rins, cérebro e boca.


“A população não tem que se preocupar. O que tem ocorrido na covid-19, em cerca de 5% dos casos, são pacientes já em fase muito avançada da doença, indivíduos imunossuprimidos”, reforça Roberto Focaccia.


Ele afirma, inclusive, que outros tipos de fungos podem surgir devido à queda de imunidade, como candidíase, histoplasmose, criptococose, blastomicose e outros fungos de micose profunda.


“A maioria da população tem esses fungos no organismo. Eles não se curam, mas, se o sistema (imunológico) é rígido, não acontece nada. Agora, em indivíduos com câncer, aids terminal e covid, ele pode reativar. Por isso, a gente tem que ter cuidado com pacientes em forma muito avançada da doença.”


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