Especialistas da Baixada Santista explicam os riscos da nova supervariante Délmicron

Vírus pode estar no País e não ter sido detectado; verão trará riscos à população

Por: Jean Marcel  -  29/12/21  -  07:13
Especialistas revelam que mutação já pode estar no Brasil, mas a baixa testagem não contribui para as descobertas
Especialistas revelam que mutação já pode estar no Brasil, mas a baixa testagem não contribui para as descobertas   Foto: Freepik

A Délmicron, nova supervariante da covid-19identificada em alguns países, pode já estar no País, mas ainda não ter sido identificada: "É preciso esperar mais relatos para confirmação. Nos Estados Unidos e Europa há um maior respeito pela pesquisa, qualquer mínimo sinal de algo diferente eles já correm para tentar descobrir o que está acontecendo, diferente daqui", diz a médica Elizabeth Dotti, infectologista da Baixada Santista.


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Segundo ela, dependendo do tipo de combinação que a supervariante possa ter como característica, o efeito pode ser devastador.


"Seria uma mistura perfeita para um cenário assustador. Algo tipo Fukushima, no Japão (quando houve vazamento nuclear em 2011 e quase 20 mil pessoas morreram). Uma somatória de características das duas cepas é possível, pois é uma mutação, e o resultado é imprevisível", explica.


A médica ressalta, no entanto, que a favor do Brasil está o fato de termos um número grande de pessoas vacinadas, mesmo em comparação com Estados Unidos ou países da Europa.


Ainda é cedo

O médico infectologista Ricardo Focaccia acredita que o momento é ainda um pouco especulativo. "Creio que é cedo para conhecermos qual a importância dessas variantes associadas. Ela é o que a OMS (Organização Mundial da Saúde) classifica como Variante de Interesse e não Variante de Preocupação".


"Há muitas outras que não conseguiram se disseminar e causar doença mais grave. Seria melhor se a Ômicron prevalecesse, porque é mais benigna. Poderia ser o começo do fim da pandemia", afirma Focaccia.


Previsível

Para o infectologista Marcos Caseiro, os casos de recombinação são até previsíveis. "Quando um vírus permanece no corpo de uma pessoa infectada por um tempo, e ela entra em contato com um novo vírus, ele insere o seu RNA no anterior gerando a recombinação. E ela (mutação) normalmente é uma incógnita, pois existe a imprevisibilidade, já que suas características podem ser diferentes", explica.


Caseiro diz que caso semelhante acontece com o HIV, o vírus da Aids. "O infectado tem o vírus presente no organismo por tempo prolongado e é comum esse tipo de recombinação. O influenza também já existe e possivelmente todos temos, pois é o vírus da gripe".


O infectologista ressalta que o contato com um novo vírus, portanto, pode produzir a recombinação e gerar características novas, mas, segundo ele, "todas as recombinações tentam 'fugir' da vacina, atuando de forma que ela possa não funcionar", conta.


No Brasil, segundo o especialista, menos de 2% do coronavírus teve seu DNA sequenciado. "Diferente de países como Estados Unidos, França, Inglaterra ou mesmo a África do Sul. E o sequenciamento é o único jeito de identificar essas variantes". Caseiro diz que, por isso, é até possível que a Délmicron ou mesmo outras variantes possam já estar no País.


Perigo à vista

"Em janeiro é muito provável que tenhamos um aumento significativo de casos. A população flutuante durante a temporada de verão vai contribuir muito para isso", alerta o Caseiro.


De acordo com ele, jovens podem ser vetores e não apresentarem sintomas ou terem alguns mais leves, mas podem conduzir o vírus a pessoas imunossuprimidas ou em grupos de maior risco. "Vacina, máscara e distanciamento social ainda são a melhor forma de evitar a propagação de qualquer variante", finaliza o médico.


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