União Brasil ainda não definiu se será oposição no Congresso, diz Luciano Bivar

Futuro presidente do partido disse que espera as "nuvens da política" para definir de qual lado estará

Por: Estadão Conteúdo  -  08/10/21  -  19:22
 Nem governo, nem oposição, diz presidente de mega partido
Nem governo, nem oposição, diz presidente de mega partido   Foto: Arquivo/Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Nem governo, nem oposição. É assim que nasce o novo maior partido do País, o União Brasil, fruto da fusão do PSL e do DEM. Em entrevista ao Estadão após as duas siglas entrarem em acordo, o futuro presidente do mega partido, deputado Luciano Bivar (PSL-PE), disse ser preciso esperar as "nuvens da política" para definir de qual lado estará no Congresso. De saída, a sigla reunirá uma bancada de 82 deputados e quatro senadores.


"A gente anteceder qualquer coisa agora é prematuro. Vamos caminhar e vamos sentir como as nuvens da política se movimentam", disse o parlamentar pernambucano, numa referência à máxima do ex-governador mineiro Magalhães Pinto: "Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Você olha de novo e ela já mudou."


Segundo Bivar, mesmo sem definir uma posição de como vai atuar no Congresso, o União Brasil terá candidato próprio nas eleições presidenciais de 2022 e quer uma alternativa ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Questionado se esse nome será o ex-juiz Sérgio Moro, que tem sido assediado por integrantes do seu partido, o dirigente pediu cautela. "O Sérgio Moro é um quadro que qualquer partido gostaria de tê-lo, mas eu preciso conversar com toda a cúpula do União Brasil, que hoje representa os principais players do DEM e do PSL", afirmou.Atualmente, já são três pré-candidatos a presidente pelo União Brasil: o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o apresentador José Luiz Datena (PSL-SP).


União Brasil nasce com a maior bancada na Câmara. Vai ser oposição ou base de Bolsonaro no Congresso?


O União Brasil nasceu ontem (quarta-feira) de fato. A gente anteceder qualquer coisa agora é prematuro. Vamos caminhar e vamos sentir como as nuvens da política se movimentam.


O sr. espera uma debandada dos deputados bolsonaristas do PSL?


Meu desejo é que todos fiquem no partido, mas isso é de cada um e cada um vai saber nessa trajetória política o que é melhor para ele. O meu desejo, como membro do partido União Brasil, é que todos permanecessem no partido.


Como está a relação do sr. com Bolsonaro? Ele saiu do partido no fim de 2019, mas ensaiou uma volta ao PSL.


Ele é meu presidente, sou brasileiro. Politicamente estamos em partidos diferentes, embora ele esteja sem partido. Eu sou muito partidarista. Todos nós somos partidaristas, o PSL e o DEM. Por isso resolvemos em cima, sob um guarda chuva, nos juntarmos. É diferente a gente tratar partidos que tenham linhas diferentes ou que tenham objetivos personalísticos. A gente está dentro de um regime partidário e o que norteia isso é justamente a comunhão de ideias.


O sr. acredita que a terceira via terá chance em 2022?


Eu posso te garantir que vai haver realmente uma opção para 55% de brasileiros que ainda não têm em quem votar. Vamos apresentar uma opção. O União Brasil vai em busca de outros partidos para que a gente promova essa união.


O União Brasil está tentando atrair políticos de outros partidos?


Nesse momento tem muitos deputados que já sinalizaram, estão esperando realmente a janela para migrarem. Eu acredito que a gente vai ter um número bem representativo de deputados que vão enfileirar-se no nosso partido.


O deputado Junior Bozzella, vice-presidente do PSL, tem dito que o ex-juiz Sérgio Moro é a verdadeira terceira via. Ele tem espaço no partido?


Eu sou um porta-voz hoje do novo partido, todos nós temos que conversar tudo. O Sérgio Moro é um quadro que qualquer partido gostaria de ter, mas eu preciso conversar com toda a cúpula do União Brasil, que hoje representa os principais players do DEM e do PSL. Hoje as decisões não saem mais unilaterais, tudo isso que acontece agora, no momento mais cedo que imaginamos vamos analisar, conversar e aliar. O que nós queremos é aglutinar a maior quantidade possível de brasileiros que defendem a democracia, as instituições e o Estado de Direito.


Se a eleição fosse hoje, quem seria o candidato do partido, Datena, Pacheco ou Mandetta?


São três excelentes quadros. Gostamos de todos dos três. Agora, o próprio Datena ainda não definiu se seria candidato a presidente ou a outro cargo qualquer. O Mandetta também é outro quadro inigualável, mas também não vi dele impor a candidatura. Pacheco, por sua vez, também não vi. Então é uma coisa pessoal, de antes eles decidirem se querem ser candidatos. Precede o partido dizer: 'meu candidato é esse ou aquele'. Não é fácil, ser candidato tem um pouco de sacerdócio, principalmente a presidente da República.


Como será a divisão dos diretórios do União Brasil? A conta de que o PSL ficará com 17 diretórios e o DEM com 10 está certa?


O que menos importa agora é o número. O que importa são comprometimentos pretéritos e morais. Isso haveremos de preservar lado a lado.


Rio e São Paulo ficarão com o PSL?


Não tem nada a ver. Hoje somos um partido só, União Brasil, nada é feito sem consenso. Não tem nada imperativo de que tal Estado é de A ou de B. É uma comunhão de interesses para dar a melhor ferramenta para a democracia. Os dois partidos estão juntos para dar a todos nós, a sociedade brasileira, uma opção de reformas, uma opção de efetivamente unir o Brasil.


Em quais Estados pretendem ter candidatura a governador no ano que vem?


Eu não conversei ainda. Tudo vai ser muito em conjunto a partir de agora. Temos as peculiaridades de cada Estado, é natural que o União Brasil vai querer ter candidato em todos os Estados, mas que sejam candidatos que realmente representem o nosso programa e que tenham competitividade, não queremos ter candidato em determinada região só para marcar presença. Para isso vamos ter conversas com outros partidos que pensam da mesma forma que nós e que possam oferecer à sociedade uma opção para melhor gerir e administrar as cidades ou Estados.


Como estão as conversas para filiar Geraldo Alckmin em SP?


Hoje a comissão diretiva do União Brasil vai começar a mapear os Estados. Eu tenho absoluta certeza que em um pequeníssimo espaço de tempo cada Estado a gente vai montar provisoriamente diretórios até formar o mais breve possível o novo diretório geral do partido. É um assunto (eleição em São Paulo) que vai ser discutido em conjunto.


E em Minas, Romeu Zema vai se filiar ao União Brasil?


O governador Zema é um exemplo de político correto. É um quadro que qualquer partido gostaria de ter nas suas fileiras.


O sr. preside o PSL desde a fundação, em 1994, com pequenas interrupções nesse período. Vai presidir o União Brasil até quando? Já existe um prazo?


Existe uma comissão instituidora, que tem um prazo acordado pelo PSL e pelo DEM até maio de 2023, mas nada impede depois da gente fazer uma grande assembleia e incluir todos os nomes. Essa comissão instituidora só decide com os dois partidos juntos, é uma coisa absolutamente compartilhada. Então há um sentimento muito identificado nos nossos programas, na nossa forma de fazer política e caminhar juntos. Me sinto hoje muito confortável, mais seguro com essa fusão junto com o DEM.


Por que o sr. diz se sentir mais seguro?


Porque tem mais mentes inteligentes, mais mentes brilhantes, não que o PSL não tenha, para compartilhar as decisões. É um desprendimento muito grande dos próprios parlamentares dos dois partidos acordarem de forma unânime essa fusão. Só traz para nós que formamos a executiva dessa comissão instituidora mais responsabilidade ainda.


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