Morte de Marisa Letícia e luto de Lula foram ironizados por procuradores do MPF, diz reportagem

Membros da força-tarefa da Operação Lava Jato chegaram a insinuar que falecimento de ex-primeira era "eliminação de testemunha" e desconfiaram de aneurisma

Por: De A Tribuna On-line  -  27/08/19  -  12:57
Atualizado em 27/08/19 - 13:01
Procuradores ironizaram morte de Marisa e disseram que Lula fez discurso político em morte de neto
Procuradores ironizaram morte de Marisa e disseram que Lula fez discurso político em morte de neto   Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Membros da força-tarefa da Operação Lava Jato, no Paraná, trataram com ironia a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia e o luto do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É o que aponta a reportagem, publicada nesta terça-feira (27), pelo The Intercept Brasil, em parceria com o UOL.


O conteúdo da matéria foi extraído de mensagens de chats privados no aplicativo Telegram enviados por fonte anônima ao  The Intercept Brasil.


A ex-primeira dama morreu em 3 de fevereiro de 2017, após quase duas semanas internada no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, vítima de um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVC). Segundo a publicação, na véspera do falecimento de Marisa Letícia, a procuradora da República Laura Tessler, do Ministério Público Federal (MPF), sugeriu que o ex-presidente faria uso político da perda da mulher.


"Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização", disse Laura.


A mesma procuradora teria ironizado uma informação divulgada pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, em 4 de fevereiro de 2017, de que a ex-primeira dama vivia em agonia permanente após a busca e apreensão na casa dela, dos filhos e da condução coercitiva de Lula, determinada pelo juiz Sergio Moro.


 "Ridículo... Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão... ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula. Só falta dizer que a Lava Jato implantou 10 anos atrás um aneurisma na cabeça da mulher... milhares de pessoas morrem de AVC no mundo... isso faz parte do mundo real e ponto", disse a integrante da força-tarefa. 


De acordo com a reportagem, o procurador Januário Paludo, que também integra a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, colocou sob suspeita as circunstâncias da morte de Marisa Letícia. Em abril passado, em entrevista ao jornal El País e à Folha de S.Paulo, Lula disse que "Marisa morreu por conta do que fizeram com ela e com os filhos dela".


"A propósito, sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem. E a segunda morte em sequência", disse Paludo. O procurador já havia levantado a questão em outra conversa, quando a ex-primeira dama foi internada devido ao AVC.


"Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal", afirmou Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa. Paludo respondeu: "Estão eliminando as testemunhas".


Morte de irmão e neto de Lula


A morte do irmão de Lula, Vavá, e do neto Arthur também foram alvos de críticas e especulações dos procuradores da Operação Lava Jato, apontou a reportagem.


Em 29 de janeiro, o procurador Athayde Ribeiro Costa compartilhou a notícia de que Vavá havia morrido. "Ele vai pedir para ir ao enterro. Se for, será um tumulto imenso", analisou Deltan Dallagnol.


Nas conversas, os membros da força-tarefa debateram as consequências de uma eventual saída de Lula e a legalidade da liberação provisória. Os integrantes se dividiram em relação a questão entre o direito do ex-presidente em ir ao enterro do irmão e o fato de que o ex-presidente não é um "preso comum".


"A militância vai abraçá-lo e não o deixaram voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta , vai dar ruim!!", disse Orlando Martello. Já Diogo Castor disse que "todos presos em regime fechado tem este direito".


Januário Paludo encaminhou uma manifestação que seria entregue à juíza responsável por avaliar o pedido de liberação do ex-presidente. No parecer, a força-tarefa da Lava Jato pediu pelo indeferimento da saída solicitada pela defesa de Lula. Minutos depois, os procuradores tiveram acesso a parecer da Polícia Federal que disse não ter condições de atender ao pedido de Lula. O relatório levou em consideração três situações de risco.


No chat, Antônio Carlos Welter concordou com a PF, mas disse acreditar que Lula tinha o direito de ir ao enterro do irmão. Januário Paludo, então, teria respondido: "O safado só queria passear e o Welter com pena".


Em 1º de março, após a divulgação da informação da morte do neto do petista, Arthur, a procuradora Jerusa Viecili alertou para uma "nova novela ida ao velório". Após autorização judicial, Lula foi ao enterro do neto em uma aeronave cedida pelo governo do Paraná.


Deltan Dallagnol divulgou aos colegas a notícia sobre um contato telefônico feito entre Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes em que o ex-presidente teria se emocionado. "Estratégia para se 'humanizar', como se isso fosse possível no caso dele rsrs", respondeu o procurador Roberson Pozzobon.


A procuradora Monique Cheker, que atua no núcleo da força-tarefa do Rio de Janeiro, disse que o ex-presidente teria feito "discurso político (travestido de despedida) em pleno enterro do neto". Lula afirmou que Arthur havia sofrido bullying na escola por ser seu neto e prometeu provar que não havia cometido irregularidades.


Procurada pela reportagem, a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba disse que não poderia se manifestar sem ter acesso integral às conversas. 


*com informações do UOL


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