Conexão Portugal: No pós-pandemia, imigrantes voltam em peso

Mesmo que a maioria tenha sido em locais isolados, o número de infectados em Portugal continua a crescer

Por: Luiz Plácido - De Coimbra  -  09/07/20  -  20:53

O tempo de isolamento e fechamento do país, durante o pico da pandemia de covid-19, começa a cobrar o seu preço. A pandemia tirou o emprego de milhares de pessoas, atrasou as contas e empurrou muita gente para a pobreza. Sem esperança numa retomada a curto prazo e sem saber como será o futuro, muitos imigrantes desistiram de tentar uma vida nova e tentam agora retornar aos milhares para seus países de origem.


Segundo o Consulado do Brasil, entre março e maio, foram repatriados mais de 2 mil brasileiros em situação de extrema vulnerabilidade. “Recebemos um número muito expressivo de pedidos de ajuda durante o surto. A população que ainda estava em fase de legalização foi afetada de forma muito violenta”, afirmou Eduardo Hosannah, cônsul-geral adjunto do Brasil em Portugal. 


Alguns ainda insistem e tentam uma sobrevida, mas dependem essencialmente da caridade e de associações solidárias para comer, pagar o aluguel ou, por vezes, terem onde dormir. A população de rua, principalmente na cidade do Porto, cresceu e já é visível para quem anda pela “Invicta” (como moradores costumam se referir à cidade). 


O sociólogo e professor João Peixoto, em entrevista para o Jornal de Notícias, afirmou que a população mais afetada foi a recém-chegada, “que conta com poucos apoios no país de origem, e que não tem uma reserva grande de dinheiro, com pouca possibilidade de recorrer à ajuda pública devido à falta de documentação, pela chegada há pouco tempo no país”. 


Vale lembrar que todos os serviços de legalização ficaram fechados durante meses, atrasando todo o processo de documentação dos estrangeiros recém-chegados e, somado a isso, no caso dos brasileiros, teve o agravante da desvalorização do real e o aumento do euro, que serviu também como fator determinante para um retorno precoce de muitos conterrâneos. 


“Perante situações de desemprego imediato, sem contrato (muitos são trabalhadores precários, recebendo como independentes), sem possibilidade de recorrer ao lay-off e sem poupanças acumuladas, o retorno passou a ser a única saída, porque a possibilidade de reemigrar para outro país, como aconteceu na crise anterior, não existe agora. O vírus afetou o mundo inteiro”, afirmou Peixoto.


E muito se engana quem pensa que o pior já passou. A tendência é que o desemprego ainda aumente e afete não só os imigrantes, mas também os portugueses. No Algarve, por exemplo, região que depende do verão para sobreviver, o desemprego já aumentou em 200%. Foram quase 28 mil demissões, principalmente no setor hoteleiro e de bares e discotecas. 


O impasse com a Inglaterra, que barrou Portugal como destino turístico dos ingleses, aumentou ainda mais a angústia do setor, que vê um arranque tímido do verão deste ano – muito pelo temor que as pessoas ainda têm da doença.
Balanço


Mesmo que a maioria tenha sido em locais isolados, o número de infectados em Portugal continua a crescer. Na última terça-feira, foram registrados em 24 horas mais 287 novos casos de covid-19 no país, aumentando o total  para 44.416. Em relação ao número de mortos, foram detectados mais nove mortes por covid-19, aumentando o número de vítimas fatais para 1.629. 


O boletim informa ainda que existem 511 pessoas internadas, das quais 76 se encontram nos cuidados intensivos. Desde o início de junho, quando o número de doentes internados atingiu o menor patamar durante a pandemia, com 366 doentes, os números voltaram a crescer e a oscilar, mas sem chegar perto da mínima registrada. O número de recuperados também cresceu.


Foram 279 pessoas que se curaram da doença no último dia 10, aumentando para 29.445 os casos de recuperação em Portugal. Os dados são da Direção Geral da Saúde (DGS).


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