Conexão Japão: Naturalize-se

Nesta edição da coluna, Yukio Spinosa fala sobre o prestígio e reputação de quem tira a cidadania japonesa

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  17/05/19  -  21:26

Quase três décadas depois do início da emigração brasileira ao Japão, a cena é lugar-comum. Crianças brasileiras que não falam Português, não conhecem a culinária brasileira, não vivenciam a cultura do país de seus pais, mas, por outro lado, são fluentes em Japonês, andam, sentam-se, gesticulam e agradecem como japoneses e sentem-se fora de seu habitat quando deixam o arquipélago. Logo se tornarão adultos que não possuem cidadania japonesa, não participam das atividades da comunidade local, não fazem parte de nenhuma organização e não votam nas eleições.


Ou seja, não são japoneses e não se vêm como brasileiros. Na ausência de uma identidade própria bem definida, muitos se enveredam no caminho da delinquência e prejudicam a imagem dos compatriotas, já bastante associada ao roubo de peças de carro, assaltos a lojas de conveniência e desacato às autoridades policiais. Tudo isso poderia ter sido evitado se, há 20 anos, a naturalização tivesse sido estimulada e sugerida aos pais dos primeiros brasileiros nascidos neste país.


Professores, policiais e funcionários públicos nativos costumam encorajar os estrangeiros à naturalizarem-se, como uma forma de elogiar seu esforço no aprendizado do idioma local e na construção de sua estrutura dentro desta sociedade. Mas dentro do gueto brasileiro, a naturalização costuma ser desestimulada por ser trabalhosa, exigir o abandono à nacionalidade original e não oferecer vantagens, afinal, o visto de residência permanente proporciona ao estrangeiro a mesma credibilidade de um nativo.


A população brasileira no Japão teve seu pico em 2007, com 320 mil pessoas, e caiu para 120 mil em 2012, depois da crise econômica mundial e do terremoto seguido de tsunami em 2011. Atualmente apresentando novo crescimento, atingiu o patamar de 190 mil indivíduos em 2018. Dentro deste universo, aos que pretendem ficar por longo tempo, formar famílias e educar os filhos nas instituições públicas de ensino e encaminhá-los ao mercado de trabalho, a obtenção da cidadania japonesa é uma atitude importante. 


Na sociedade atual, o prestígio e a reputação valem tanto quanto poupança na conta bancária. Não é uma questão de procurar o que é mais vantajoso, mas uma forma de deixar claro que, agora, passamos a viver para esta sociedade, com tanto empenho quanto o que tínhamos para a sociedade anterior. 


Portanto, quem fixou residência, tem vida estável financeiramente, possui domínio do idioma, paga os impostos e não tem histórico criminal deve, a meu ver, iniciar o processo de naturalização o quanto antes, pensando no futuro de seus descendentes neste país meritocrático.


O primeiro passo é agendar, por telefone, uma visita ao escritório do Ministério da Justiça (Houmukyoku) da jurisdição de sua residência, para deliberar sobre a oficialização do pedido de naturalização que será enviado à Tóquio assim que todos os documentos forem entregues. Na primeira visita, haverá um teste de proficiência mínima na língua japonesa, leitura e escrita. A primeira etapa compreende a coleta e tradução de certidões de nascimento e casamento dos envolvidos e seus pais, comprovantes de renda e de pagamento de impostos.


Na segunda fase, devem ser entregues uma redação explicando porque o candidato deseja tornar-se um cidadão japonês e como pretende contribuir para a sociedade, um demonstrativo de sua situação financeira e histórico de suas atividades no Japão. Tudo será bem explicado pelo funcionário público. É uma decisão que moldará o futuro das próximas gerações, assim como os antepassados fizeram quando enviaram suas famílias ao Brasil.


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