Conexão Japão: Ira em Quioto

Nesta edição da coluna, Yukio Spinosa fala do caso no qual 34 funcionários do Kyoto Animation Studio perderam suas vidas num ataque incendiário

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  23/08/19  -  20:14

Além do calor úmido e do canto das cigarras, o verão do primeiro ano da era Reiwa fica marcado por uma grande tragédia na antiga capital do Japão. Trinta e quatro funcionários do Kyoto Animation Studio perderam suas vidas num ataque incendiário, investigado pela polícia, e que só agora, um mês depois, começa a ter suas razões compreendidas. 


Na manhã do dia 18 de julho, um homem de 41 anos levou facas, gasolina em tubos esborrifadores e um isqueiro ao prédio de três andares localizado no distrito de Fushimi, em Quioto. Aos gritos de “morram, ladrões!”, o incendiário causou comoção no mundo dos animês, destruindo um dos cinco prédios do aclamado estúdio de filmes sobre colegiais e temas ligados à vida escolar, com um toque de erotismo. 


Foi um dos mais mortíferos ataques da história do país, atrás do incêndio no prédio Myojo 56, no Kabukichô, subdivisão do distrito de Shijuku, Tóquio, em primeiro de setembro de 2001, que fez 44 mortes e foi atribuído ao crime organizado.


Após um mês de investigações, a polícia da província levantou que o assassino Shinji Aoba não era alguém sem relação alguma com os estúdios, como a mídia primeiramente afirmou. Confessando sua autoria, Aoba afirmou: “eles roubaram minha novela”. O perpetuador está preso e em tratamento de severas queimaduras por todo o corpo.


De acordo com uma fonte ligada às investigações e citada pela Agência Reuters, ele submeteu múltiplos trabalhos aos concursos abertos para autores amadores e profissionais, sem nunca ter sido premiado. Ele acredita que elementos de suas estórias tenham sido utilizados em filmes sobre os dias escolares, um dos temas mais populares.


Até mesmo o primeiro-ministro declarou estar aterrorizado com o caso. Dúvidas sobre a real situação de prevenção a ataques terroristas, quando o país está prestes a sediar os próximos jogos olímpicos de Verão, estiveram entre os desdobramentos da cobertura da imprensa. 


O governo considera, até mesmo, incentivos fiscais com redução tributária para empresas que doarem à Kyoto Animation, informa a agência Kyodo. Este é o nível da comoção dos cidadãos. As vítimas fatais e feridos ainda não foram publicamente identificados. De acordo com a polícia de Kyoto, alguns dos corpos sofreram grau de queimadura que impede sua identificação.


De fato, uma das primeiras séries da produtora é uma comédia romântica intitulada Full Metal Panic. Fica claro que a equipe de Hideaki e Yoko Hatta, fundadores do estúdio, demonstra certa “falta de criatividade” no nome da obra, que lembra um pouco o título do filme de Stanley Kubrick Full Metal Jacket, sobre o opressivo treinamento da divisão militar Marine Corps, o corpo de fuzileiros navais dos Estados Unidos. Inicialmente os Hatta negaram que Aoba tivesse submetido trabalhos a seus concursos.


O autor do incêndio deve continuar preso até ser julgado. E pode ser condenado à pena de morte ou à prisão perpétua, de acordo com a lei penal do Japão. Ele já foi preso por assalto a uma loja de conveniência em Ibaraki, em 2012, e tem registros de doenças psiquiátricas. Segundo especialistas como Takayuki Harada, professor de Psicologia da Universidade de Tsukuba, citado pelo site NNY 360, “os registros criminais e sua atual situação de desemprego são fatores de riscos de atividade criminal maiores que sua condição psiquiátrica”.


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