Conexão Japão: Honestidade à prova

Nesta edição da coluna, Yukio Spinosa fala sobre o chefe do Comitê Olímpico do Japão (COJ), Tsunekazu Takeda, que deixou o cargo após ser investigado

Por: Yukio Spinoza - De Nagoia  -  22/03/19  -  22:31

Na última terça-feira (19), o chefe do Comitê Olímpico do Japão (COJ), Tsunekazu Takeda, anunciou o fim de sua atuação no cargo, que ocupava desde 2001. O ex-praticante de esportes equestres e neto do imperador Meiji está sob investigação de autoridades francesas desde que surgiram notícias que sua assinatura constava em documentos que comprovam pagamentos de mais de US$ 2 milhões à empresa de consultoria singapurense Black Tidings, às vésperas da votação do Comitê Olímpico Internacional (COI) em setembro de 2013, em Buenos Aires. Na ocasião, Tóquio foi escolhida para sediar os jogos, em detrimento de Madri e Istambul.


O judiciário francês desconfia que a consultoria repassou partedo valor ao senegalês Papa Massata Diack, um dos filhos de um influente membro do comitê na África, que pode ter, mediante suborno, orientado outros membros daquele continente a votarem na capital japonesa.


Interpelado pelos jornalistas, durante a entrevista coletiva de terça, Takeda aparentava nervosismo e apresentou respostas prontas. Após um repórter perguntar se sua saída não seria parte do reconhecimento de sua culpa, o ex-chefe do comitê repetiu a resposta de duas perguntas atrás, dizendo “ser mais apropriado deixar o COJ para líderes jovens, enquanto esperamos os jogos olímpicos e as paraolimpíadas de Tóquio, que serão o início de uma nova era”.


De modo geral, os japoneses são um povo honesto. Uma carteira ou telefone celular extraviado é retornado ao dono, em quase 100% dos casos. A maior prova da integridade dos cidadãos veio à tona após o tsunami de 2011, no Nordeste, quando milhares de cofres com poupanças familiares foram encontrados e encaminhados à polícia, que procurou e devolveu-os aos donos. 


A moral é uma disciplinada ensinada nas escolas, com raízes no “bushidô”, um código de ética originado na época feudal, cultivada pela classe samurai, os guerreiros dos clãs. Passados mil anos, esse código foi disseminado por todo o povo através da religião xintoísta e educação moldada por um regime militar de mais de dois séculos. 


Um fato da história do Japão que é de conhecimento mundial é que sempre houve muitos suicídios como a única forma de não sujar o nome da família, em casos de fraqueza de caráter e desvios de conduta. 


Porém, no dia a dia, atual a omissão de informações ao consumidor está presente no comércio, como acontece em todos países do mundo, principalmente em lojas de telefonia celular. O serviço se tornou tão sujo a ponto da operadoras contratarem estrangeiros para executá-lo. Em outros ramos, como venda de carros usados e imóveis, posso afirmar que existem vendedores que mentem todos os dias, da hora que acordam, até dormir. 


Prestes a iniciar uma nova era, o povo japonês quer saber se o representante maior dos esportes do país realmente se envolveu num esquema de corrupção ou está sendo acusado injustamente. A questão envolve também o judiciário japonês. Há a desconfiança de que as cortes locais favoreçam o gentio do país, tanto é que em investigações em Tóquio concluíram, em 2016, logo após as notícias dos pagamentos surgirem na mídia internacional, que não houve ilegalidade nas ações do ex-chefe do COJ.


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