Conexão Irlanda: Onda de calor?

Nessa matéria, Camila Natalo fala sobre os efeitos do aquecimento global e explica por que a onda de calor na Europa quase não atinge a Irlanda

Por: Camila Natalo - De Dublin  -  31/07/19  -  21:09

Enquanto algumas pessoas, inclusive líderes globais, preferem ignorar o aquecimento global, as ondas de calor passam a acontecer com muito mais frequência devido às mudanças climáticas. Segundo Dann Mitchell, professor de Ciência Atmosférica da Universidade de Bristol, na Inglaterra, os cinco verões mais quentes da Europa desde o ano 1500 foram registrados a partir do início deste século, em 2002, 2003, 2010, 2016 e 2018. “Apesar de ondas de calor sempre terem acontecido no passado, a probabilidade de elas acontecerem agora é muito maior por causa dos efeitos do aquecimento global”, disse.


Ainda na semana passada, diversos países, como França, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda, acionaram o alerta vermelho em algumas cidades que tiveram as jornadas de trabalho alteradas e suspensões de atividades ao ar livre, tudo devido à grande onda de calor. 


Os recordes de temperatura mais alta também foram quebrados, inclusive o do Reino Unido: Na última quinta-feira (25), no Jardim Botânico de Cambridge, os termômetros marcaram 38,7°C. O último recorde era de 38,5°C, registrado em agosto de 2003, na cidade de Faversham, no distrito de Kent.


Porém, a mesma onda de calor que preocupa toda a Europa, e bate recordes no Reino Unido, apenas mantém o clima bom e quente, entre 19°C e, no máximo, 24°C, de acordo com os noticiários por aqui. Harm Luijkx, meteorologista do Met Éireann, afirmou que, embora a Irlanda ainda esteja aquecida nos próximos dias, a "influência do Atlântico" é a razão para o clima irlandês ser tipicamente mais frio que o do resto do Reino Unido e da Europa.


“O clima da Irlanda é influenciado pela nossa posição à beira do Atlântico. Massas de ar do Atlântico Sul fornecem ao país temperaturas mais baixas. Já no resto da Europa, o calor está vindo da terra, que é muito mais quente do que o ar vindo do mar. De certa forma, a posição da ilha na Irlanda significa que o mar funciona como um amortecedor para as correntes de ar quente vindas da Europa. O fato de sempre estarmos cercados por água faz com que a temperatura caia à medida que se move sobre o mar”, explicou.


“Portanto, a rajada de ar quente não está realmente chegando à Irlanda. Nossa atual onda de calor está sendo influenciada mais pelo ar do Atlântico”, acrescenta. E por quê está tão quente no Reino Unido então, se lá também é uma ilha? Segundo Lujikx, a porção de água que separa a Grã Bretanha da Europa é muito menor em relação à da Irlanda. “Por isso mesmo que o litoral Sul da Inglaterra será sempre mais quente que o resto do arquipélago, devido à proximidade com o resto do continente”, esclarece.


E embora possa parecer exagero, ainda mais vindo de uma brasileira, os 19°C na Irlanda dão uma sensação de, pelo menos, 26°C em diante. Tudo o que eu mais queria era poder vivenciar o calor na Irlanda e, como os leitores mais assíduos já sabem, uma das coisas de que eu mais sinto falta do Brasil (além da minha família, claro) é justamente do clima. Eis que temos duas semanas do “verdadeiro” verão e cá estou: me recuperando de uma garganta inflamada, com a rinite atacada de bônus. Sinais de que o corpo já se acostumou com o clima daqui, e que sofre com as mudanças drásticas de temperatura.  


Com tudo isso, duas coisas me veem a cabeça. Como meu corpo se comportará em uma visita ao Brasil no verão? E, a mais importante, o que você e eu estamos fazendo para diminuir concretamente os impactos do aquecimento global? Vamos repensar nossos atos, ler, nos envolver, espalhar o alerta e transformar cada pequena atitude em rotina. Como já diria o Capitão Planeta: “O poder é de vocês!”.


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