Conexão Irlanda: Brasileiros lideram protesto contra violência

Nesta edição da coluna, Camila Natalo fala sobre a ânsia e iniciativa de brasileiros em tentar mudar a situação atual em Dublin

Por: Camila Natalo - De Dublin  -  27/02/19  -  19:40

No último dia 20, a comunidade de brasileiros fez barulho nas redes sociais e na mídia irlandesa depois de um registro, aparentemente absurdo, mas que faz parte do cotidiano de muitos entregadores de comida que trabalham em Dublin.


Em uma rua movimentada, um grupo de jovens tacou ovos em entregadores da empresa Deliveroo e ainda danificaram e arremessaram as bicicletas contra os riders. Segundo testemunhas, se não tivessem tantos entregadores reunidos, poderia ter sido pior. “Eles batem mesmo, sem nenhuma razão. Já perseguiram mexicanos, africanos e, agora, os brasileiros”, disseram.


E se mesmo uma rua movimentada não intimidou o grupo, imaginem só o que acontece quando um bando se depara com um “alvo” sozinho. Esse foi o caso de Francisco Tertuliano de Oliveira Neto, que recebeu um pedido de entrega em um bairro mais afastado da região central e, ao chegar no endereço, verificou que o número da casa estava incorreto. Enquanto tentava contato com o restaurante, foi surpreendido por cerca de 11 jovens. 


Neto, como é conhecido, foi atingido várias vezes na cabeça com um taco de beisebol, tendo sua moto e seu dinheiro roubados. Depois, ele antecipou suas férias para o Brasil, para realizar os exames necessários, já que teve escoriações pelo corpo e um nariz quebrado.


O que alguns julgam como atos de xenofobia vai além. Após os recentes incidentes, o que começou como um evento marcado no Facebook, para protestar contra a violência sofrida pelos brasileiros que trabalham entregando comida, acabou se expandindo para um protesto contra a violência e impunidade em geral – após sugestões e depoimentos de pessoas de outras nacionalidades, inclusive irlandeses, e que não trabalham com delivery, mas já sofreram ou presenciaram ataques de adolescentes (meninos e, pasmem, meninas!).


Segundo reportagem do jornal Irish Examiner, em novembro de 2018, houve um aumento significativo no número de denúncias cometidas por juvenis no ano passado, segundo números da Garda. Esse crescimento inclui crimes violentos, como delitos sexuais, ameaças de assassinato, assaltos e agressão. Enquanto os jovens entre 12 e 17 anos representam apenas 8% da população irlandesa, os números mostram que essa faixa etária foi responsável por 35% de todas as ofensas sexuais relatadas, 35% dos roubos e 29% dos assaltos em 2017.


Talvez essa ânsia e iniciativa dos brasileiros em tentar mudar a situação atual em Dublin aconteça, justamente, por estarmos cansados de violência, por conhecermos e lidarmos com situações bem mais graves que essa em nosso país. Sabemos que isso é pouco perto do que já passamos e acreditamos que pode ser mais fácil e, principalmente, possível de se modificar. A semente de mudança foi plantada, resta saber qual efeito terá entre as autoridades daqui. Já é muito difícil viver longe de casa e, se existe uma lembrança que não desejamos recordar, é a da violência.


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