Conexão França: O forró daqui é melhor que o seu?

Na edição da coluna, Diana Gonzalez fala sobre a força do ritmo musical brasileiro na Europa

Por: Diana Gonzales - De Paris  -  15/05/19  -  01:56

Se você identificou a referência deste título, parabéns! Você atesta ter bons conhecimentos em cultura... brasileira! Se você não associou esta frase a uma famosa música de forró de Os 3 do Nordeste, saiba que tem muito europeu que não só conhece a letra em questão, como passa muitas noites arrastando o pé com este som. Aliás, o grupo paraibano que deu origem a esta música tocou no mês passado durante o Ai Que Bom, festival de forró que acontece anualmente em Paris. 


E engana-se quem pensa que o festival se trata de uma festa da comunidade brasileira dedicada exclusivamente aos expatriados. Segundo o organizador do festival, Thiago Lima, apenas 10% dos participantes são brasileiros. A grande maioria dos forrozeiros é francesa, algo em torno de 40%, e o restante, de outras nacionalidades (a maioria, são europeus), que foram até Paris para “bater coxa”.


Além das três noites de festa, a nona edição do Ai Que Bom teve 50 horas de aulas de danças brasileiras – forró, coco, frevo, axé e samba de gafieira – e de percussão.


A cada ano, o forró ganha mais espaço na Europa. O Ai Que Bom já conta com edições em Barcelona e Bruxelas. Já chegou a ter festa para 1.000 pessoas em só uma noite e já viu passar em suas pistas de dança forrozeiros de 25 países.


O forró pé de serra tem, de fato, conquistado os europeus: só neste ano, estão previstos mais de 50 festivais dedicados exclusivamente ao forró, espalhados em mais de dez países do Velho Continente. Berlim, Munich, Roma, Lisboa, Amsterdam, Praga, Londres e Oslo são algumas das cidades do circuito. Aliás, o festival de Londres é organizado por um conterrâneo, o cubatense Carlos André. 


Na França, além da capital, estão previstos ao longo de 2019 festivais em outras nove cidades. Neste fim de semana, será a vez de Lille, no Norte da França, com o festival


Vamo que Vamo. 


Segundo o organizador do <FI10>Vamo que Vamo</FI>, Cacau Moutinho, o festival recebe cerca 400 pessoas por <FI10>soirée</FI> (festa noturna) e, em média, 250 inscritos para os workshops de dança. Cacau estima que 85% dos participantes sejam europeus. Cacau, que também é professor de forró, começou a dar aula em 2008 com três alunos. Hoje, tem 80.


O “fôrrô”, como os franceses pronunciam, ainda não tem o status da salsa ou do samba, internacionalmente conhecidos. Mas, assim que são apresentados ao estilo, os franceses sentem aquela paixão à primeira vista. 


Uma das características que fazem com que o forró ganhe tantos adeptos é o fato de ser uma dança, a princípio, fácil. Diferente do samba, em que os movimentos são bem complexos, o ritmo da sanfona permite que, com “dois pra lá dois pra cá”, alguém que nunca tenha dançado adquira a base para se divertir no salão. 


Outro fator que também contribui para essa “química” entre os franceses e o forró é a própria sonoridade. O nosso baião de Luiz Gonzaga é a versão brasileira do accordéon francês, muito usada em bailes populares e músicas tradicionais, como as da cantora Edith Piaf. Além disso, o simples fato do forró ser brasileiro já justifica esse amor dos franceses pelo estilo. Os franceses AMAM a nossa cultura ! 


Fora as datas dos festivais, existem as soirées regulares em cada cidade. Durante o verão parisiense, é possível até encontrar festas de forró de segunda à segunda. Algumas oficiais e outras sauvageons (festas improvisadas em lugares públicos). Neste esquema, já forrozei em frente à Pirâmide do Louvre e no terraço do Palais de Tokio, com fundo para a Torre Eiffel. 


Nesses locais, os franceses também são maioria. Já cheguei a ir em festas onde eu era a única brasileira! E olha que aprendi muitos passos com eles! Lembro, na primeira vez em que fui a uma soirée de forró, de ter ficado impressionada com a técnica deles e com a dedicação para se aperfeiçoarem como dançarinos. Aliás, a professora precursora do forró em Paris é a Marion Lima, uma francesa apaixonada pela cultura brasileira e uma das principais responsáveis por difundir o forró em Paris. 


De pai pra filho e do sertão pra Europa, fato é que a zabumba e a sanfona têm contribuído para o desenvolvimento da nossa cultura no exterior. Graças ao forró, muitos franceses decidem aprender o nosso idioma e visitar o Brasil para conhecer nossas tradições culturais. Dá-lhe forró!


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