Conexão Austrália: Um pouco de cinema, futebol e conservação

Na edição da coluna, Fabiana Marinelo fala sobre a relação dos australianos com a arte e a manutenção do que é público

Por: Fabiana Marinelo - De Sidney  -  21/06/19  -  19:48

Nas duas últimas semanas fui a eventos aqui em Sydney e alguns aspectos chamaram minha atenção, entre eles, o comportamento das pessoas e a relação delas com o que é público. Na coluna desta semana vou abordar um pouco sobre várias temas e fazer uma espécie de miscellaneous, palavra muito usada em inglês (e pouco em português: miscelânea) para dividir as experiências e as impressões sobre Sydney.


O primeiro tema diz respeito à participação de filmes brasileiros no Festival de Cinema de Sydney. O evento é muito consagrado no mundo e reúne todos os anos em junho mais de 250 obras de diversas partes do planeta. Foram 12 dias de sessões de cinema, palestras, debates, festas e encontros com artistas. Neste ano, alguns filmes brasileiros participaram, entre eles, o documentário Democracia em Vertigem, de Petra Costa, sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff; o lindíssimo faroeste brasileiro Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles; e Meu Nome é Daniel,sobre a história de superação de Daniel de Castro Gonçalves. Mas o mais aclamado por aqui foi o filme Mariguella, dirigido por Wagner Moura, sobre Carlos Marighella, líder comunista que lutou contra a ditadura militar brasileira. Moura também integrou o júri do evento e foi recebido como popstar, principalmente por conta de sua atuação na série Narcos. O filme foi bastante recomendado pelos críticos de cinema locais e as salas onde Mariguella foi apresentado ficaram lotadas.


O mais interessante do Festival, além do fato de atrair um público supereclético e trazer filmes de temas diversos, é a atmosfera de arte que invade a cidade. Os filmes podiam ser vistos em diferentes locais. Eu fui ao State Theater, um prédio da década de 1929, considerado símbolo do império inglês. O que mais impressiona, e aqui é a hora de falar de conservação do patrimônio e do bem público, é o cuidado com o prédio. O State Theather está no coração de Sydney em um dos bairros mais badalados da cidade e recebe diariamente espetáculos de arte. Por dentro e por fora tudo está extremamente conservado, o que torna o local um dos pontos turísticos de Sydney. Mas é interessante destacar que em vários pontos da cidade há pequenas salas de cinema e teatro, bem conservadas e com público frequente.


Mudando de assunto, do cinema para o futebol (não o nosso, mas o australiano), outro evento bem diferente da atmosfera do Brasil é um jogo de rugby (aqui chamado de footy – jogo que lembra o futebol americano, com a diferença que os jogadores não usam proteção). Além da vibração ser totalmente diferente da que é assistir Corinthians x Santos na Vila Belmiro, chama a atenção aqui o fato das torcidas adversárias sentarem lado a lado. A rivalidade existe, mas ninguém sai dando socos e pontapés porque o outro time marcou um gol (pelo menos no jogo que fui assistir). O mais legal é que o rugby é um esporte para a família.


Os preços dos ingressos e os horários dos jogos são acessíveis. Alguns clubes distribuem ingressos para as escolas e o estádio fica lotado de crianças e adolescentes.


Além do comportamento da torcida, mais uma vez me chamou a atenção a conservação do estádio. O jogo que eu fui foi realizado na arena ANZ, uma das principais da Austrália. O estádio foi construído para os Jogos Olímpicos de Sydney em 2000. O prédio monumental está em perfeitas condições e todo fim de semana abriga algum evento esportivo ou musical. A impressão que tive dos dois eventos é a participação e incentivo do governo ao esporte e à cultura. A cidade de Sydney investe milhões por ano nestes setores e a população é convidada a usufruir e a manter estes locais vivos e conservados.


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