Conexão Austrália: País vai às urnas na próxima semana

Nesta edição da coluna, Fabiana Marinelo fala sobre o clima em período eleitoral no país que é mais ameno, com pouca propaganda pelas ruas e debates menos acirrados nas redes sociais

Por: Fabiana Marinelo - De Sidney  -  10/05/19  -  21:33

Na próxima semana, os australianos vão às urnas para escolher o 46° parlamento do país. As eleições por aqui transcorrem de forma bem mais sutil, se comparadas ao Fla-Flu que foi o recente pleito presidencial do Brasil. É claro que existe torcida, resistência e debate (literalmente, os dois candidatos principais se enfrentam cara-a-cara na TV aberta), mas é tudo bem mais ameno, com pouca propaganda pelas ruas e debates menos acirrados nas redes sociais. As eleições são importantes, pois desta vez será escolhida quase a totalidade das cadeiras do Parlamento local.


O processo eleitoral por aqui é um pouco diferente do Brasil. A Austrália é uma democracia representativa, ou seja, os eleitores votam para eleger membros do parlamento, na Câmara dos Representantes (ou deputados) ou na Câmara Alta (Senado), assim como no Brasil. Mas por ser um regime parlamentarista, não há a escolha de um presidente.


Os eleitores votam para eleger 150 membros para a Câmara dos Representantes e 76 para o Senado. É um número bem menor que os cerca de 600 parlamentares do Brasil. Por aqui, na Câmara de Representantes, cada membro eleito representa um eleitorado, das 150 regiões espalhadas pela Austrália.


E como se chega à escolha do primeiro-ministro (o líder do governo australiano e da nação)? Tudo é feito na base do apoio político, o que no Brasil, ultimamente, tem sido considerado algo quase ilegal. Mas por aqui – e em todas as democracias pelo mundo – é a base de sustentação do sistema. E isso nada tem a ver com corrupção, mas sim com influência, poder, convencimento, argumentação e táticas políticas.


O primeiro-ministro é mais um membro da Câmara dos Representantes e é escolhido pelo voto dos membros do governo. Ele apenas permanece no poder enquanto tiver apoio da maioria dos parlamentares. E não há um limite de tempo para o cargo. Enquanto ele for eleito nas eleições e mantiver o apoio dos demais membros, é ele quem estará à frente da nação.


Para esta eleição – e por toda a história recente da Austrália –, há dois partidos preferenciais: os liberais, legenda mais alinhada à direita e liderada pelo atual primeiro-ministro Scott Morrison; e o Partido dos Trabalhadores, liderado pelo parlamentar Bill Shorten, que obviamente faz a oposição. Há ainda três partidos menores, que elegem representantes para o parlamento, mas não têm votos ou influência suficiente para eleger um primeiro-ministro. A disputa, então, fica entre os dois grandes partidos que, de acordo com as recentes pesquisas de opinião, estão praticamente empatados. 


Para entender melhor quais são os principais temas de preocupação por aqui, o mais recente debate na TV dos principais candidatos pode dar algumas pistas. O debate envolveu os dois líderes dos partidos – que, apesar de estarem apenas concorrendo para uma cadeira no Parlamento, já começam desde já a briga pela posição de primeiro-ministro. Dentre os tópicos de discussão, apareceram as mudanças climáticas e o que a Austrália fará para reduzir as emissões de carbono e implantar fontes energéticas alternativas (eu sei que, para muita gente, aquecimento global é invenção, mas aqui o tema pode fazer a diferença de votos).


Outra tema relevante foi o desaquecimento da economia local, principalmente por causa da queda nas vendas de imóveis e a dificuldade dos australianos para pagar as dívidas, principalmente as imobiliárias. As ideias de cada candidato quanto aos investimentos em saúde e educação também são levados em conta por aqui na hora do voto.


As eleições na Austrália devem ser realizadas pelo menos a cada três anos, mas a data é decidida pelo primeiro-ministro no poder. O voto também é obrigatório para maiores de 18 anos e os resultados são conhecidos dias após a eleição, já que o voto é no papel. Agora, é esperar pelo menos mais uma quinzena para saber quem vai liderar o país pelos próximos três anos. 


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