Calma!

Trata-se de um controle do padrão emocional exaltado por uma ação externa, violenta, ameaçadora ou agressiva em relação ao nível de irritabilidade. Nada tenho a ver com inércia ou atitude passiva

Por: Luiz Alca  -  20/09/20  -  10:40
  Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

As pessoas adoram ser qualificadas de calmas e tanto quanto se orgulham de enfatizar esse tipo de comportamento. É cultural, chega a fazer parte da educação, da urbanidade. Essa afirmativa supera longe a avaliação serena dos resultados. Eis porque ela é um exercício e não uma maneira de ser ou viver. Ninguém é sempre calmo, embora consiga mais vezes manter o controle. Um exercício da mais alta competência e que pede muita tenacidade.


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As frases comuns pronunciadas aqui e ali, tais como: “perdi a calma”, “ hoje consegui manter a calma” , “sou uma pessoa sempre calma”, ou “a calma é uma das minhas características” ditas pelas pessoas, com toda a ênfase, não correspondem à verdade sobre o que ela são, realmente. E autores como Carl Honoré em seu livro “Devagar” e Roberto Holford, em “Um importante movimento, a calma” , deixam isso bem claro em suas definições precisas sobre esse importante exercício a ser feito na cotidianidade.


Trata-se de um controle do padrão emocional exaltado por uma ação externa, violenta, ameaçadora ou agressiva em relação ao nível de irritabilidade. Nada tendo a ver com inércia ou atitude passiva.


Logo, ninguém a perde ou a mantém e muito menos pode definir-se por ela. Conseguimos a calma ao administrar o processo afetivo nervoso para baixar a aceleração mental e assim resolver o problema, encontrar a solução, decidir sobre o que fazer num momento que exige uma resposta. O que não implica, de jeito nenhum que a irritação tenha passado.


Fingir isso faz mal, é engolir sapo, já que estar irritado é uma conseqüência da raiva, uma emoção de desprazer como o medo, a má surpresa e ao contrário das emoções de prazer, como a alegria, o contentamento, o positivo surpreendente. A irritação só passa quando o fato se resolve de uma maneira ou de outra ou quando entendemos que uma situação não merece a tensão provocada. Nem o desgaste a que estamos submetidos.


Deu para perceber? A calma é mais imediata, necessária para que o raciocínio não se distancie e a emocionalidade provoque reações precipitadas e perigosas. Mais a mais, é preciso baixar o padrão nervoso antes que o fato se solucione. Não podemos esperar um resultado positivo da circunstância para nos acalmar. Do contrario, explodimos.


Primeiro, porque as mudanças são demoradas e parciais; segundo, porque pode nem haver uma mudança e ficar nessa angústia é péssimo para a nossa saúde física e mental. E ainda, de nada adianta, uma aflição tensa e exaltada para que as coisas se resolvam.


O que nem sempre se consegue, principalmente no ardor da juventude, quando os ímpetos não permitem e a necessidade de autoafirmação é muito grande. Senão, caímos na inércia e na passividade, naqueles estados neutros que anulam as reações não automáticas, as defesas e a conseqüente possibilidade de um raciocínio equilibrado à emoção.


Treinar a calma é, portanto, um mecanismo de defesa importante, que nos torna mais disponíveis para as escolhas, para perceber qual o tempo da resposta de cada um e principalmente para não confundir as estações ou responder ao mundo, antes ou depois, dos sinais que ajudam a encontrar a lucidez e a autoestima, elementos preciosos para se manter o eixo e se preservar o prazer de viver.


*Texto publicado em 29/8/2015, na revista Luiz Alca Crônicas, página 24


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