Zito, eterno capitão do Santos e da Seleção Brasileira, completaria 90 anos nesta segunda

Zito faleceu há sete anos, mas até hoje é lembrado com muita emoção por ex-companheiros e torcedores

Por: Eduardo Silva  -  07/08/22  -  07:48
Em 16 de maio de 1967, na reta final de carreira, Zito entrou em campo pelo Santos para mais um clássico contra o Corinthians, no Estádio do Pacaembu, à frente de Carlos Alberto Torres, do goleiro Cláudio e do Rei Pelé
Em 16 de maio de 1967, na reta final de carreira, Zito entrou em campo pelo Santos para mais um clássico contra o Corinthians, no Estádio do Pacaembu, à frente de Carlos Alberto Torres, do goleiro Cláudio e do Rei Pelé   Foto: Arquivo/AT

José Ely Miranda, o Zito, nasceu no dia 8 de agosto de 1932, e se estivesse vivo ia comemorar amanhã os 90 anos de vida. Zito faleceu há sete anos, mas até hoje é lembrado com muita emoção por ex-companheiros e torcedores. Foi contratado pelo Santos junto ao Taubaté e estreou em 29 de junho de 1952, na vitória de 3 a 1 contra o Madureira. Daí em diante, virou um símbolo de raça e amor ao Peixe. Uma lenda para os santistas. Lembrar de Zito é recordar a época de ouro do futebol brasileiro. Vestindo a camisa 5, ele foi o comandante do grande time do Santos, bicampeão da Libertadores e do mundial em 1962 e 1963, e terceiro atleta com mais jogos (733), só atrás de Pepe (741) e Pelé (1.116).


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Com aquele futebol e muita paixão, ele chegou até a Seleção Brasileira. E Zito não veio ao mundo apenas para ser coadjuvante. Começou a Copa de 1958, na Suécia, como reserva e assumiu a condição de titular. Quatro anos depois, no Chile, fez até gol na final contra a Tchecoslováquia, na vitória de 3 a 1 que garantiu o bicampeonato mundial para a Seleção Brasileira. Era uma liderança nata, uma referência para todos.


Cena rotineira: Zito recebeu o troféu do Torneio Internacional de Nova Iorque de 1966, vencido pelo Santos após goleada de 4 a 1 sobre a Inter de Milão, em 5 de setembro, no Yankee Stadium
Cena rotineira: Zito recebeu o troféu do Torneio Internacional de Nova Iorque de 1966, vencido pelo Santos após goleada de 4 a 1 sobre a Inter de Milão, em 5 de setembro, no Yankee Stadium   Foto: Arquivo/A Tribuna

Um de seus melhores amigos foi José Macia, o Pepe, que marcou 405 gols com a camisa do Santos. “Grande comandante. Grande capitão. A voz dele era forte. Era um volante que também chegava na frente. Era um sexto atacante, sem exagero, tanto que fez 57 gols, um número expressivo para um volante”. Outro com ótimas recordações é o ex-dirigente Florival Amado Barletta, que ocupou inúmeros cargos no clube e conviveu com o capitão. “O Zito era realmente um guerreiro. Foi um jogador maravilhoso, com uma personalidade marcante que ajudou muito o Santos a se tornar uma equipe invencível”.


Roberto Diz Torres, que foi diretor de futebol do Peixe, também tem orgulho de ter visto o camisa 5 nos tempos de ouro do Santos. “Um jogador fantástico. Foi o grande comandante que o Santos teve. O maestro responsável pela grande equipe”. Um dos maiores admiradores de Zito, o jornalista José Carlos Gomes, o Passarinho, é um pesquisador da história santista que guarda muitas entrevistas de jornais, revistas e rádios. Tem um tesouro em termos de gravações. “O Zito era um grande cara. Eu adorava encontrá-lo para um bate-papo. Era uma honra falar com aquele craque que sempre tinha boas histórias”.


Já aposentado dos campos, o eterno capitão do Peixe vibrava do lado de fora em um clássico contra o Palmeiras, disputado no Parque Antártica, em 25 de maio de 1968
Já aposentado dos campos, o eterno capitão do Peixe vibrava do lado de fora em um clássico contra o Palmeiras, disputado no Parque Antártica, em 25 de maio de 1968   Foto: Arquivo/A Tribuna

Para o historiador Guilherme Guarche, Zito foi o melhor médio-volante do futebol brasileiro. “Ele jamais será esquecido por tudo de bom que fez pelo clube entre 1952 a 1967. Zito era um líder, tanto é que ganhou o apelido de Gerente. Pena que não existam novos Zitos no futebol brasileiro. Ele era correto, era honesto, não queria perder uma partida. Ele doou sua vida ao Santos Futebol Clube”. Pepe ressaltou que o capitão “não deixava ninguém se acomodar em campo". "Quando estava tudo bem, me chamava de Pepito, mas se me visse mais lento já gritava 'ô pouca pena (porque eu já estava ficando calvo), não vai ajudar a marcar?. Vamos lá!' Eu fazia um sinal de positivo e fazia o possível para obedecer. Era um cara extraordinário".


Gratidão


Quem nunca esquece de José Ely Miranda é Neymar da Silva Santos, pai do craque Neymar, principal jogador do futebol brasileiro na atualidade. “Saudade que a gente tem do momento que a gente teve, junto ao Santos Futebol Clube, e principalmente durante a carreira do meu filho, nas categorias de base. Eu me recordo muito da presença dele, porque o Zito interagia não apenas com os atletas, mas na família. Ele sempre foi importante porque conseguia detectar não só o talento, como também a possibilidade deste talento chegar ao profissional. Ele sabia entender o momento certo de profissionalizar qualquer garoto, mesmo que ele tivesse a idade prematura para a época".


Ao atender A Tribuna no Memorial das Conquistas da Vila Belmiro, José Ely Miranda Júnior se tornou atração, tirou fotos e posou com a faixa de capitão que carrega o Z de Zito
Ao atender A Tribuna no Memorial das Conquistas da Vila Belmiro, José Ely Miranda Júnior se tornou atração, tirou fotos e posou com a faixa de capitão que carrega o Z de Zito   Foto: Matheus Tagé/AT

O pai do camisa 10 da Seleção Brasileira relembra importantes conversas com o capitão. "Eu tive muitas conversas com o Zito durante nossa passagem pelo Santos. O Neymar chegou ao Peixe muito cedo, com 12 anos. Era complicado permanecer naquela época, pois era muito difícil você federar o garoto muito cedo. O Santos não tinha essas categorias ainda e o Zito foi um cara que inovou. A possibilidade que tinha era trazer o Neymar para o Santos para evitar o assédio dos clubes da Capital. E ele conseguiu isso. O Zito foi muito importante. Conseguiu fazer um trabalho muito bem feito e a gente aprendeu com isso”.


Em meio a tantas lembranças e recordações positivas de todos os entrevistados, a sensação é de que, passe o tempo que passar, vai ser impossível não se lembrar de Zito e de suas histórias maravilhosas.


Emoção do filho


Na homenagem aos 90 anos do Zito, o filho dele, José Ely Miranda Júnior, conversou com A Tribuna no Memorial das Conquistas na Vila Belmiro. Hoje, aos 59 anos, ele vive em Santos e mora com a mãe, Cecília Ramos de Miranda, de 90 anos. José Ely tem duas irmãs: Eliane Miranda Utescher e Elizabeth Miranda.


No bate-papo, ele revelou um detalhe que muita gente não sabe. O nome certo do pai é José Ely Miranda. Isso mesmo, sem o “de”. “Ele ficava bravo e me perguntava quem inventou esse ‘de’ que o acompanhou a vida inteira”, conta.


Feito o esclarecimento, preparamos uma surpresa para o herdeiro do líder do Santos mais famoso da história. Pedimos uma braçadeira de capitão, que no Santos tem a letra Z, em homenagem ao número 5 da era Pelé. A Reportagem perguntou se ele gostou de colocar a braçadeira. “Ficou bem. Uma homenagem muito bacana ao Zito”.


Ao relembrar da importância do pai, José Ely Miranda Júnior, o filho, se emocionou. “Nossa... Uma marca, né? Uma marca de um grande líder. De uma pessoa espetacular, de um pai amoroso, cuidadoso. De um amigo fiel. De um líder. Uma referência. A gente sente muita falta. Uma saudade enorme, mas ele está em todo lugar. A gente anda na rua. A gente vai ao supermercado, ao Interior, e as pessoas fazem questão de lembrá-lo sempre. Isso para nós é uma recompensa muito grande”.


Na conversa descontraída, na frente da foto do Zito, Zé Ely vai atendendo aos pedidos do repórter-fotográfico de A Tribuna Matheus Tagé. Foi contando histórias e tirando fotos com torcedores que passavam pelo local. Afinal, quem procura o Memorial do Santos quer levar uma recordação. E uma lembrança do filho do “capitão do Santos” vale muito para mostrar aos amigos, santistas ou não.


Zé Ely conta que chegou a ser mascote e conviveu com os grandes craques dos tempos do pai e de outras gerações. Depois, trabalharam juntos e ficou a curiosidade de como era o tratamento entre eles. “Eu o chamava mais de pai, mas também de chefe. Dos meus 25 anos, 30 anos para frente, ficamos muito juntos. Depois, o acompanhei em muitos compromissos. Estava sempre ali na retaguarda, e essa relação só foi se fortalecendo. Muitas viagens, muitas experiências”.


O filho recorda com orgulho a dedicação de Zito às categorias de base. Ele trabalhava no Santos em 1978 e foi um dos responsáveis pela primeira geração dos Meninos da Vila, com Nilton Batata, Juary, Pita e João Paulo. E estava na segunda, com Robinho, Diego, Elano e Renato. “Costumo dizer que ele foi o pai dos primeiros meninos e o avô da segunda geração”. E o Neymar? “Ah, meu pai ouviu o Alemão, torcedor tradicional do Santos, e muitos outros amigos e foi vê-no no futsal. Gostou tanto que pediu ao Marcelo Teixeira para criar uma categoria para receber o garoto. Deu tudo certo e ele ficou feliz da vida. Ele enxergava longe e não via só o talento, mas também a fome de bola e a vontade de vencer. Isso tudo ele via no Neymar desde garoto”.


São muitas histórias e recordações que só trazem emoção de ter um pai com uma trajetória tão linda. De exemplo para os craques daquele time de ouro do Santos. E como não se orgulhar de um homem com a história do capitão? “Nossa, a gente sente muita falta. Super companheiro. Um caso de amor com o Santos. Uma vida inteira de entrega e dedicação”.


Depoimentos


“O Zito no Santos é um capítulo à parte. Ele mandava em tudo. Mandava como dono, como xerife, como se aquele pedaço de campo fosse dele. Na Seleção Brasileira era a mesma coisa. Mandava com responsabilidade. Com caráter. Com dignidade. Com confiança. Não é mandar por mandar. Tinha moral para fazer isso"

Gerson


“Um capitão excepcional. Extraordinário. Um jogador maravilhoso. Jogava muito. Quando ele dava uma bronca, era até no Pelé. A camisa do Santos fazia um bem danado para ele. Jogava muito, muito, muito. José Ely Miranda, que saudade. Era um grande líder. Dentro e fora de campo"

Pepe


"A lembrança que eu tenho do Zito é muito positiva. Era muito próximo da minha família na formação do Neymar. O que a gente tem é saudade. Saudade do homem que ele era. Da postura que ele tinha, não só com as pessoas próximas, mas com todo o trabalho que envolvia o Santos Futebol Clube, e que deixa uma saudade muito grande".

Neymar Pai


“O Zito trouxe todo mundo. Diego, Robinho, eu, Renato, Léo. Se alguém viesse cobrar a gente, os mais novos, ele tomava as dores, não deixava. Seo Zito, além de ter um olho clínico, uma sabedoria absurda de escolher os atletas, tinha esse lado humano. Ele é amigo, ídolo. É referência para todo mundo"

Elano, em entrevista ao Flow Sport Cast


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