Torcedor do Santos, Kaiky realiza sonho e desponta como grande promessa : 'Nasceu para o futebol'
Em entrevista exclusiva para A Tribuna, Jadson e Ivanilda - pais do zagueiro titular do Peixe - contam detalhes da vida do filho, que entrou no futebol para superar uma bronquite
O início da atual temporada fez o torcedor do Santos conhecer jogadores que começam a receber as primeiras oportunidades no time profissional. E um que tem chamado a atenção é o zagueiro Kaiky, de apenas 17 anos. Filho da manicure Ivanilda de Melo Santos, de 44 anos, e do motorista de ônibus Jadson Fernandes dos Santos, de 48, o garoto escolheu o futebol para tratar das crises de bronquite que o incomodavam desde muito cedo. Porém, além de colocar fim no problema de saúde, a bola viu nascer um promissor e precoce jogador.
Nascidos em Major Isidoro e Arapiraca, cidades de Alagoas, Jadson e Ivanilda, respectivamente, se conheceram e se casaram no nordeste brasileiro e vieram para Santos em busca de mais oportunidades. Passados alguns anos e morando no morro do São Bento, eles, em 2004, tiveram o pequeno Kaiky.
Apaixonado por futebol, onde se atrevia a atuar como lateral-esquerdo em competições de várzea, Jadson começou a desconfiar do futuro do filho quando o menino ainda estava para nascer.
"Quando o Kaiky estava na barriga da mãe, eu já brincava que ele seria jogador de futebol, porque ele chutava muito. A partir dos 3 anos de idade dele, comecei a levá-lo para assistir aos meus jogos na várzea. Mas quando não podia, tinha que sair de casa de fininho, porque ele chorava muito", relembra o pai, que até hoje segue na sua profissão de motorista de ônibus.
Jadson, aliás, foi o primeiro 'treinador' de Kaiky. E ele usava o quintal da casa no morro para ensinar o filho a cabecear e chutar com a perna esquerda, uma vez que o menino já demonstrava mais facilidade com a perna direita. Mas esses treinamentos em casa, às vezes, derramavam mais lágrimas do zagueiro santista.
"Ele sempre gostou de bola. Achava curioso o fato de ele chutar com as duas pernas, mas com mais facilidade para direcionar o chute com a direita. Então forçava ele a chutar com a esquerda. Ensinava cabeceio. E ele tinha um tempo de bola incrível. O Kaiky não parava quieto. O problema era quando perdia a bola, porque o muro de casa era pequeno e ela caía no mato próximo. Era uma choradeira danada, que só parava depois de me enfiar no meio das bananeiras do morro e recuperar a bola", fala o pai com bom-humor.
Chute na bronquite
Quando Kaiky estava com 6 anos, Jadson e Ivanilda foram orientados por um pediatra a matricular o filho em alguma atividade esportiva, com o objetivo de solucionar as crises de bronquite. À época, os pais pediram para o garoto escolher entre natação e futebol. Sem titubear, Kaiky escolheu o futebol.
A primeira experiência foi em uma escolinha Meninos da Vila. Ivanilda conta que já nos primeiros meses o professor deu indício de que ela tinha gerado um garoto promissor e precoce.
"Ele viu que o Kaiky tinha algum talento e depois de um treino me sugeriu de levá-lo para o futsal dos Portuários para ganhar mais agilidade. Nós fizemos isso. O Kaiky, já com 7 anos, ficou um mês na escolinha e foi federado pelo clube", diz a mãe.
Na equipe sub-9 do Portuários, Kaiky foi inscrito em uma competição que já estava em andamento, e em uma das partidas desse campeonato marcou três gols. "Nesse dia, havia um treinador do futsal do Santos assistindo. Ele gostou da atuação do meu filho e o convidou para fazer um teste. O Kaiky foi, passou e iniciou a história dele no clube".
Santista de coração
A chegada ao Santos era a primeira realização de um sonho. Kaiky já era torcedor do clube e fã de Neymar. A ponto de copiar o cabelo moicano do atacante revelado na base alvinegra.
"Ele sempre foi apaixonado pelo Santos. Na época do Neymar, ele chorava com as derrotas e comemorava muito os títulos. Lembro de uma disputa de pênaltis em que ele deitou no chão com as mãos no rosto sem olhar para a televisão". fala Ivanilda.
Tudo muito rápido
Na Vila Belmiro, Kaiky iniciou a sua experiência nos gramados com 10 anos. E, como sempre, numa categoria acima. "Isso é algo que me chama muito a atenção. Tudo na vida dele foi muito rápido, sempre jogando com meninos mais velhos e sempre de titular. Nem agora nos profissionais ele foi reserva. Já subiu sendo titular e marcando gol. Eu não consigo nem descrever", diz a mãe.
Apesar de não esconder a emoção de ver o filho alcançar a titularidade na equipe profissional do Santos e marcar o gol da vitória em uma partida de Libertadores, por 2 a 1 contra o Deportivo Lara, da Venezuela, Ivanilda ainda tem uma outra partida como a mais marcante.
"Foi a final do Campeonato Sul-Americanao Sub-15, em 2019, no Paraguai, contra a Argentina. Ele era o capitão do time e converteu o pênalti que deu a vitória para o Brasil. Foi o primeiro título dele. Aquele dia foi inesquecível".
Jadson concorda com a mulher, mas não esquece o gol contra o Deportivo Lara. "Na hora eu não acreditei. Ficamos em êxtase. Só pedíamos para não errar e ele foi e fez o gol. Foram três dias para assimilar o que tinha acontecido".
Cobiçado
Com o primeiro contrato profissional assinado no final do ano passado, Kaiky está vinculado ao Peixe até novembro de 2023.
Antes dessa assinatura, porém, Kaiky foi bastante cobiçado por outros clubes do país. "Houve times do Brasil querendo levar ele. Mas nós abrimos mão, porque sempre entendemos que o melhor para ele é aqui. Tudo que o Kaiky conseguiu foi no Santos. E somos todos torcedores. Não tínhamos motivo nenhum para pensar numa troca. Ele ainda tem muito a evoluir, e isso será aqui", afirma Ivanilda.