Felipe Aguilar relembra infância na Colômbia de Pablo Escobar e acidente com avião da Chape

Em entrevista exclusiva a A Tribuna On-line, o zagueiro também fala sobre início da carreira e planos para o futuro

Por: Bruno Lima  -  21/05/19  -  12:58
  Foto: Vanessa Rodrigues

Indicado por Jorge Sampaoli no início do ano, o zagueiro Felipe Aguilar, de 26 anos, foi contratado pelo Santos do Atlético Nacional sob desconfiança. Afinal, poucos o conheciam no Brasil. Porém, com a tranquilidade que lhe é peculiar, o defensor colocou em campo as virtudes que chamaram a atenção do treinador argentino para ganhar o respeito dos torcedores. Em entrevista para A Tribuna On-lie, Aguilar conta como foi o seu início no futebol e o que sonha para a sequência na carreira. Mais: fala sobre Pablo Escobar e como soube da queda do avião da Chapecoense, adversário da sua ex-equipe na final da Copa Sul-Americana de 2016.


Você nasceu em Medellín, em janeiro de 1993. Em dezembro daquele mesmo ano, Pablo Escobar foi morto pela polícia. Como foi crescer vendo a cidade passar por uma profunda reconstrução após todo o terrorismo causado por ele?

Os meus pais falam que Pablo Escobar foi o responsável por muita violência em Medellín. Ele mandou matar muitos policiais e provocou graves atentados. Com a sua morte, a violência na cidade diminuiu, e pouco a pouco Medellín foi crescendo em diferentes sentidos, social e culturalmente. Passou a ser uma cidade mais inovadora e que ainda tem vivido transformações importantes. Existe violência e muitas outras coisas, mas não como foi no período de Escobar. Quando mencionamos, fora da Colômbia, o nome de Medellín ou falamos de onde somos, a primeira coisa que se pensa ainda hoje é em Pablo Escobar. Eu sei que ele e a cidade têm uma relação muito forte, mas Medellín não é mais apenas aquela cidade das drogas e da violência que ele criou. Me incomoda essa associação que fazem. Sei que tudo isso faz parte da história, mas não gostaria que Medellín fosse reconhecida somente pela violência e o narcotráfico de Pablo Escobar. 

Você estava no elenco do Atlético Nacional que enfrentaria a Chapecoense na final da Copa Sul-Americana de 2016, caso o avião da equipe brasileira não tivesse caído. Como vocês receberam a notícia?

Estava em casa e acordei, por volta das 5h30, para me organizar e ir ao primeiro treino do Atlético Nacional para aquela final. Chorando, o meu pai me disse que o avião havia se acidentado. No início, eu não acreditei e me sentei na cama, na frente da TV, para entender, e comecei a assistir aos noticiários. Foi muito triste tudo aquilo que aconteceu. Fui para a sede do clube, estava chovendo, um dia muito escuro e um ambiente pesado. Assim que todos os jogadores chegaram, tivemos uma reunião e a primeira coisa que conversamos foi que a nossa decisão era a de entregar o título à Chapecoense. E assim foi feito, pois eles mereciam – as equipes dividiram o título.

Como foram seus primeiros passos no futebol?

Desde pequeno tive um grande gosto pelo futebol. Meu pai me iniciou numa escolinha em um bairro próximo de casa, aos 7 anos. Foi ali que nasceu o meu desejo de jogar e se divertir com a bola. Aos 11 anos, cheguei às categorias de base do Atlético Nacional e lá permaneci até os 20, quando fui negociado com o Alianza Petrolera. Fui praticamente de presente, pois os dois clubes eram do mesmo dono. Aos 23, depois de disputar a Olimpíada no Brasil, em 2016, já com o Alianza Petrolera pertencendo a outro proprietário, o Atlético Nacional resolveu me comprar e eu voltei ao clube que me revelou e onde era o meu sonho atuar profissionalmente.


Antes de chegar ao Santos, Aguilar havia defendido duas equipes na Colômbia: Atlético Nacional e Alianza Petrolera
Antes de chegar ao Santos, Aguilar havia defendido duas equipes na Colômbia: Atlético Nacional e Alianza Petrolera   Foto: Vanessa Rodrigues/A Tribuna

Após as primeiras partidas no Santos, você se disse impressionado com a intensidade dos times brasileiros. Cinco meses depois as impressões são as mesmas?

Sigo pensando como quando cheguei. A intensidade do futebol brasileiro e a competitividade das equipes no Brasil são muito diferentes do que há na Colômbia. Penso também que as seguidas partidas fazem, muitas vezes, com que os jogadores não se sintam 100% para atuar, por causa do desgaste. 

Você sabe sair jogando muito bem e tem bom passe. Se for o caso, aceitaria atuar, por exemplo, como lateral ou volante?

Nunca fui escalado assim, mas durante as partidas já atuei nessas funções, pois preciso me mover em campo para encontrar espaços. São posições com funções parecidas com as quais tenho no meu lugar de origem. Se fosse preciso, jogaria sim. Logicamente que precisaria treinar. Mas, pela minha forma de ver, as diferenças entre essas posições são a pressão dos adversários e a velocidade. No meio-campo, há muito mais pressão do que na defesa, e na lateral muito mais velocidade. 

Alguns jogadores se incomodam com o fato de não atuar em todos os jogos. O Sampaoli é um treinador que gosta de fazer rodízios. Incomoda ficar fora de algumas partidas do Santos?

Somos jogadores e sempre queremos jogar. Queremos ter a continuidade no time e estar sempre competindo. Mas a decisão é do treinador e nós respeitamos. 

Como está sendo trabalhar com Jorge Sampaoli? De quais maneiras ele tem sido importante para o seu crescimento profissional?

Todos os treinadores com quem trabalhei têm um estilo particular, e com Sampaoli não é diferente. A verdade é que sempre tive a oportunidade de estar com grandes treinadores (Reinaldo Rueda, José Pekermann e Carlos Osório). E com todos tenho aprendido. O Sampaoli, que é o atual, tem ensinado muito a todos. Penso que todos nós estamos evoluindo.


Aguilar comemora o fato de ter trabalhado com Rueda, Pekermann, Osório e agora com Sampaoli
Aguilar comemora o fato de ter trabalhado com Rueda, Pekermann, Osório e agora com Sampaoli   Foto: Vanessa Rodrigues/A Tribuna

O Sampaoli tem corrigido você em algum fundamento específico?
Ele me corrige todos os dias. Se erro um passe, se faço um passe para um jogador que não está bem posicionado ou se faço um passe lento ele me corrige. Sampaoli ressalta que tenho que melhorar sempre e aponta onde estamos errando. 

O Sampaoli tem aproveitado a Cidade de diferentes formas. O que você tem feito em Santos nos dias de folga?

Depende. Quando a minha família estava aqui, costumava ir à praia ou ao Guarujá. Mas agora que estou sozinho, fico em casa descansando. Faço as compras no mercado que são necessárias e tenho o hábito de sair para comer com Matheus Ribeiro (lateral-direito) e Copete (atacante). Sou muito tranquilo. Como os meus pais e a minha namorada estão bem em Medellín, ficarei sozinho aqui por enquanto. 

Você tem feito aulas de português para se comunicar melhor?

Falo um pouco de português, mas às vezes não acho a palavra certa para me expressar. Mas consigo me comunicar bem com todos os jogadores. Quando não entendo, eles repetem. E quando eles não me entendem, falo devagar e eles compreendem bem.

Você chegou ao Santos com 26 anos. Quais são os próximos passos da sua carreira? Sonha com o futebol europeu, pensa em retornar à Colômbia ou quer permanecer no Santos?

O meu objetivo é jogar no futebol internacional e me fixar na seleção da Colômbia. Temos a Copa América agora (no Brasil), as Eliminatórias para a Copa do Mundo (no Catar) e a Copa América do ano que vem. Então, quero me estabelecer na seleção. Além disso, quero aproveitar que o Santos tem uma visibilidade muito grande para seguir à Europa.


Logo A Tribuna