Atleta sai às ruas para vender água e pão com o sonho de disputar o Mundial de Jiu-Jitsu

Com uma plaquinha no pescoço e o lema 'da quebrada para o mundo', Ytallo Liborio, de Praia Grande, tenta juntar dinheiro para bancar viagens aos Estados Unidos para competir

Por: Nathalia Perez & De A Tribuna On-line &  -  17/01/20  -  12:37

Por trás de um vendedor ambulante com suas garrafas de água nas mãos na saída do Estação Verão Show, o grande sonho de ser campeão mundial. Lutador de jiu-jitsu, Ytallo Liborio, de Praia Grande, tem aproveitado a movimentação na cidade para ir a rua tentar juntar dinheiro para conseguir embarcar para os Estados Unidos, onde serão realizadas duas competições internacionais para as quais se classificou.


"Da quebrada para o mundo", diz o escrito orgulhoso na plaquinha em que Ytallo carrega no pescoço. Entre uma venda e outra, ele conta sua história no esporte, que começou graças a um projeto social na Vila Sônia chamado Zion Jiu-Jitsu que tem o mestre Sandoval Souza como idealizador.


Ytallo tem vendido garrafas de água na saída do Estação Verão Show, em Praia Grande
Ytallo tem vendido garrafas de água na saída do Estação Verão Show, em Praia Grande   Foto: Reprodução/Instagram

Ytallo corre contra o tempo para poder disputar o Pan-Americano e o Mundial daInternational Brazilian Jiu-Jitsu Federation (IBJJF). O primeiro torneio será em março, em Irving, na Califórnia. O segundo será no mesmo estado americano, só que em maio, em Long Beach. Aos poucos, ele diz estar conseguindo dar passos em busca das primeiras participações em competições fora do Brasil.


Vendendo, também, pão dos mais variados tipos de casa em casa, em seu bairro, a Vila Sônia, ele já conseguiu juntar o montante suficiente para pagar a emissão de um passaporte. Agora, Ytallo espera poder tirar o visto de atleta para lutar nos Estados Unidos, autorização que não é nada barata.


Nas redes sociais, o atleta é apoiado por centenas de pessoas que interagem em suas publicações e o incentivam com seu "corre", como ele chama sua incansável tentativa de conquistar seus objetivos no jiu-jitsu. Em seu perfil pessoal no Facebook, o lutador soma 5 mil amigos. Já na sua página, são mais de 3 mil fãs o seguindo.


Em entrevista a ATribuna.com.br, Ytallo revela que tomou a decisão de viver dos resultados e ensinamentos nos tatames. Ano passado, abandonou o curso de Engenharia Civil na faculdade e deixou o emprego como açougueiro em um supermercado de Praia Grande, e, atualmente, trabalha como motorista de aplicativo. Ele, contudo, vê sua nova função como uma atividade efêmera. Quer mesmo se dedicar ao jiu-jitsu.


Lutador soma 20 medalhas em menos de três anos no jiu-jitsu
Lutador soma 20 medalhas em menos de três anos no jiu-jitsu   Foto: Arquivo pessoal

Vez ou outra, o atleta dá aulas no projeto Zion. "A molecada lá me vê como um espelho. Fico feliz com isso, porque o esporte afasta eles de ir pro caminho ruim", diz. Entre os contemplados pela iniciativa, estão crianças e adolescentes órfãos e de vulnerabilidade social.


Ytallo não está no jiu-jitsu desde pequeno. Faz, aliás, menos de três anos. O desejo de ingressar em uma arte marcial era antigo, mas as oportunidades eram escassas. "As escolinhas eram muito caras. Foi aí que o mestre Sandoval falou pra eu ir lá no projeto e eu fui. Começou nos fundos de uma igreja. Era eu treinando no meio da molecada", conta.


Faixa azul há pouco tempo, Ytallo espera que seu filho, Lorenzo, de quatro anos, possa seguir seu caminho. Enquanto o garoto não chega a uma idade em que irá compreender melhor treinamentos e o esporte, ele disputa competições Brasil afora e orgulha sua família.


De 2018 para cá, são 20 medalhas conquistadas em torneios estaduais e nacionais. Nove delas são ouros. Assíduo nos treinos e perseverante, ele deseja aumentar sua coleção em breve.


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