Mandato coletivo busca maior pluralidade na representação populacional

Entenda como funciona as candidaturas coletivas, que unem diversos representantes em torno de uma cadeira

Por: Rafael Henrique  -  12/11/20  -  22:58
Valores devolvidos aos cofres públicos pela Casa neste ano superaram os números de 2017
Valores devolvidos aos cofres públicos pela Casa neste ano superaram os números de 2017   Foto: Divulgação

Fenômeno na corrida eleitoral passada, os mandatos coletivos aparecem como novidade no cenário político nas cidades da Baixada Santista. Ao menos nove candidaturas aos legislativos se apresentam com mais de um integrante. Batizados de co-vereadores, o movimento popular surge como nova forma de garantir maior representatividade de segmentos da população na vida pública. 


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Também chamado de mandato compartilhado, o formato é uma forma de exercício de cargo eletivo legislativo, em que o representante se compromete a dividir o poder com um grupo de cidadãos. Na composição das legendas, nada muda: um dos integrantes tem o nome gravado nas urnas. Já na execução dos atos, todas as deliberações são tomadas de forma colegiada.  


Isso porque as candidaturas são segmentadas em setores, como educação, saúde, cultural, políticas para mulheres. O objetivo é garantir uma maior identidade e pluralidade de ideias para representar a sociedade nas câmaras municipais.  


O cientista político Rafael Moreira explica o movimento como uma expansão nas candidaturas. Ele afirma que, historicamente, as campanhas tendem a ser construídas de maneira coletiva, mas sem se utilizar desse rótulo.  


“Acho importante apontar que o formato e o rótulo é uma novidade, mas a prática política de campanha não”, afirma. Ele explica que parte do eleitorado ainda tem dificuldade de entender o conceito, já que se constrói a imagem de único representante por cadeira. 


“As pessoas estão acostumadas com personalismo, uma pessoa sendo a referência. Por ter mais pessoas, não necessariamente haverá mais votos, depende muito da base eleitoral que cada um tem”, conclui o cientista político. 


O economista e cientista político Fernando Chagas acrescenta que o formato foi criado pelas mesmas mecânicas das redes sociais. A ideia é reunir pessoas afins que defendem uma causa específica. Modelo, aliás, que seria impensável num passado recente, já que seria difícil unificar um grupo político que defenda a mesma tese e áreas de atuação. 


“A internet facilita a junção de pensamentos. Então esses grupos querem participar independente dos instrumentos institucionais partidários”, explica Fernando Chagas.  


Ele garante que há uma identidade de pensamentos dessas pessoas que querem fazer parte da política o que mostra a falência do sistema partidário. “Esse fenômeno começou com os evangélicos em 2013 e foi crescendo. Não há forma de participar sem ter o partido, então esses grupos acabam utilizando esses partidos como barriga de aluguel”. 


Membros dos coletivos 


Para a educadora física Aline Cabral, 23 anos, integrante de um dos coletivos de Santos, o modelo serve para representar a pluralidade do que é a juventude e o movimento estudantil. Para montar a candidatura, houve um debate de formulação de ideias e propostas definidas coletivamente. 


“Nossa campanha é construída por lideranças estudantis, nosso mandato se eleito terá um estatuto com as diretrizes onde vamos realizar as etapas do plenário nas universidades e escolas”, afirma.  


Ele acredita que o modelo é “mais democrático e participativo”, levando em conta que o papel do vereador é representar a sua base mais pluralmente possível.  


“No consenso, conseguimos construir uma ideia mais adequada para a população. Nossa percepção tem sido muito positiva, estamos apresentando durante a campanha que a política pode ser diferente, plural e divertida, com jovens querendo realizar mudanças”, resume. 


O publicitário Bruno Macena, 31 anos, também faz parte de um coletivo composto por oito representantes. “Propomos uma candidatura que aproxima na prática as pessoas da política. A ideia do coletivo é tirar a concepção de políticas que atendam interesses pessoas, precisamos escancarar as portas e discutir orçamento com a população”. 


Caso eleito, Macena espera poder inspirar novos coletivos e abrir portas para novas práticas políticas. Em relação a remuneração ele afirmar que a candidatura não custará nada a mais do que já é assegurado para vereadores e que haverá uma divisão de todos os ganhos entre os oito representantes da candidatura.  


Já estudante Arthur Ribeiro espera poder destinar parte do subsídio, caso eleito, para financiar um centro de cidadania e acolhimento social para pessoas LGBTs. A ideia é unir forças com as organizações de Santos e acolher jovens em situações de vulnerabilidade. 


“Nosso coletivismo, nossa representatividade e nossa verdade de quem conhece os problemas de Santos de vivê-los e não só ouvir falar, nos faz saber que é possível disputar com a velha forma de fazer política”. 


Ele acredita que essa é uma nova forma de fazer política e tende a se crescer nas próximas eleições. “A velha política e os velhos políticos são incapazes de pensar para a frente e formar estratégias para o bem do povo. Por isso temos essa conexão com as pessoas em prol de um futuro melhor para toda a sociedade”, finaliza. 


Antirracista


Um grupo de mulheres trabalhadoras e estudantes faz parte de outro mandato coletivo que defende a bandeira "Feminista Antirracista". Consideramos que um mandato de esquerda, feminista e antirracista tem como tarefa principal ajudar na organização e mobilização da população. "Por isso vamos participar do processo eleitoral, porque somos mulheres trabalhadoras e já estamos em todos os lugares e atuamos em diversos segmentos", afirma a jornalista Cidinha Santos.


Ela explica que a forma coletiva de legislar foi escolhidas "para debater e buscar soluções para tudo o que nos atinge: utilizando as redes sociais e fazendo pressão pelas nossas pautas, em atividades organizadas e construídas com as mulheres, as negras e os negros, trabalhadoras e trabalhadores periféricos".


Cidinha complementa que a pauta do colegiado "é a mobilização e o combate a todas as formas de opressão que atingem homens e mulheres. Entendemos que o machismo e o racismo estão enraizados na sociedade e, por isso, defendemos o feminismo que garante direitos iguais para todos, debatendo sobre o porquê do preconceito racial e outros".


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