Motorista de app é roubado durante corrida em São Vicente e passageiros mobilizam web para ajudá-lo
Corrente do bem surgiu após idoso ser roubado no mesmo local em que arrastão ocorreu na última semana
Ao aceitar uma corrida com destino ao bairro Itararé, em São Vicente, o motorista de aplicativo Antonio Dantas Neto, de 63 anos, mal sabia o que estava por vir. Ele teve o celular roubado durante a viagem, mas a surpresa, inicialmente negativa, acabou se transformando em uma rede do bem. Isso porque ele ganhou outro aparelho após ter a história viralizada nas redes sociais.
A passageira que pediu a corrida e presenciou o roubo, Amanda de Oliveira dos Santos, de 23 anos, foi a responsável por escrever a história na internet. Ela conta que o crime aconteceu enquanto eles passavam pela orla da Praia da Biquinha, mesmo local onde aconteceu um arrastão na última semana.
“Eu moro no Japuí e pedi a corrida para ir ao Itararé”, diz a jovem, que estava acompanhada do marido. Ela enfatiza que o casal estava conversando com Antonio e no semáforo na orla da praia, todos pararam para observar um festival de pipa que acontecia no local.
“Do nada vieram dois homens, puxaram o celular do motorista e tentaram puxar do meu marido também, mas não conseguiram. O Sr. Antonio ficou sem reação, paralisado”, relembra.
Indignados com o ocorrido, Amanda e o marido desceram do carro para procurar os criminosos. Porém, devido à movimentação no local, não encontram. “Meu marido observou que meu celular estava com o aplicativo ligado e dava para ver a localização (do celular furtado)”, relata, dizendo que o último registro foi na base do Corpo de Bombeiros.
Amanda também garante que eles procuraram ajuda policial, mas nada foi suficiente para encontrar os suspeitos. “O Sr. Antonio falou que foi a terceira vez que ele foi roubado e que da última vez, ficou parado porque ficou sem celular e era a única fonte de renda dele. Eu perguntei a marca, ele falou que era Motorola, mas não sabia o modelo. Vi a simplicidade, para ele, era só um celular”.
Ajuda
Segundo a jovem, além do nervosismo com a situação, ela se sentiu culpada pelo ocorrido. “Foi muito devastador para mim e meu marido. Eu fiquei me sentindo um pouco culpada porque eu pedi a corrida. Se não tivesse pedido, ele não teria perdido o celular e não estaria passando por isso de novo”.
Desta forma, no dia seguinte o casal decidiu usar as economias para comprar um novo celular para o motorista. “Mas não sabia como localizá-lo, então eu vi que no aplicativo tinha foto dele e postei a história (no Facebook)”. A repercussão foi muito além do esperado por Amanda, pois, além de encontrar Antonio por meio da rede social da filha dele, ela ainda recebeu ajuda de outros internautas.
Enquanto algumas pessoas ajudaram com quantias via Pix para a compra do celular, um amigo da jovem disse que poderia dar o aparelho ao motorista de aplicativo. "Ele trabalha em uma loja que vende e conserta aparelhos celulares. Então ele se disponibilizou em dar um aparelho que eles tinham lá", explica.
"Meu marido buscou o Sr. Antonio e eles foram buscar o aparelho. Então foi a união de todo mundo. Eu publiquei, diversas pessoas se juntaram para achar ele e o Douglas deu o aparelho", afirma, dizendo que deu o dinheiro arrecadado para o motorista usar como ele quiser.
Gratidão
Motorista de aplicativo há cerca de dois anos, Antonio já chegou a ficar sem trabalhar por conta de outros roubos. Em entrevista para A Tribuna, o idoso conta que nesta ocasião, foi pego de surpresa com o crime, mas ainda mais com a boa ação dos passageiros.
“Eu estava distraído com o festival de pipa e, de repente, o cidadão ‘deu o bote’ no meu celular. Eu fiquei completamente sem reação, sem saber o que pensar ou fazer na hora. Foi tudo muito rápido”.
Ele relembra que o casal de passageiros foi muito prestativo. “Me deram todo apoio, eu nem esperava tanto. Ficaram mais ou menos uma hora me dando apoio no carro", explica.
Com o transporte por aplicativo como sua única fonte de renda, o idoso não sabia como trabalharia novamente após o crime. "Fiquei aguardando o que ia acontecer, mas nem esperava que eles (passageiros) ainda fossem estar querendo me auxiliar”.
Então, o idoso soube da publicação nas redes sociais por meio da filha. “Realmente fiquei surpreso. Quando eu vi, fiquei até emocionado, muito mesmo. Foi inédito e emocionante saber que tinham pessoas tão dispostas a ajudar em uma hora bastante difícil. Estou imensamente grato”, explica.
Apesar da família ter receio de Antonio ser vítima de mais algum crime, o motorista diz que já configurou o aparelho para trabalhar a todo vapor. "Estamos na batalha diária. Eu tenho que ganhar meu pão".
