Teste rápido para coronavírus não é confiável, diz médico

Patologista Flavio Alcantara afirma que esses exames dão muitos resultados errados e precisam de validação

Por: Maurício Martins  -  23/04/20  -  01:50
Exames de PCR-RT exigem estrutura laboratorial diferenciada
Exames de PCR-RT exigem estrutura laboratorial diferenciada   Foto: Matheus Tagé/AT

O teste rápido para detectar o novo coronavírus não é confiável e costuma dar resultados errados, afirma o médico patologista Flavio Alcantara. Ele é chefe da seção de Biologia Molecular do Laboratório Central do Hospital das Clínicas de São Paulo e diretor do Instituto de Análises Clínicas de Santos (IACS).


“Estamos testando várias marcas e não gostamos da qualidade. Temos visto inconsistências nos resultados. Outros médicos com os quais trabalho testaram 15 soros [com coronavírus] em testes rápidos e tiveram apenas um resultado positivo”, diz o especialista.


>>> Veja as diferenças entre os testes para o coronavírus


Segundo ele, é importante uma avaliação rigorosa na validação dos testes por parte dos laboratórios que querem utilizá-lo. “Não é só comprar e colocá-los para rodar. Isso não pode ser feito. Boa parte desses testes não é nem pré-aprovada. Quem deve avaliar a qualidade é o laboratório”.


Esse tipo de exame usa uma pequena quantidade de sangue em um reagente que dá positivo ou negativo para anticorpos do vírus.


O patologista afirma que o melhor atualmente é o exame molecular, RT-PCR, que detecta a presença do vírus em pacientes com sintomas. É feito pela coleta de secreção da nasofaringe (nariz e garganta) por meio de um cotonete que vai para análise. 


“O vírus está presente em grandes concentrações no primeiro dia de sintomas até o sétimo, com pico no quinto dia. Depois, começa a cair progressivamente. Pode até ser detectado até o 12º dia, mas com eficiência menor”, diz o médico.


Laboratório habilitado 


O IACS é um dos 38 laboratórios do país e um dos setes do estado habilitados pelo Instituto Adolfo Lutz (referência estadual) para realizar exames de RT-PCR, sem precisar de contraprova. Ou seja, faz exames para o poder público. Há cerca de um mês, a demanda era em torno de 10 por dia, hoje já passam de 100.


“A maior parte dos que testam positivo é de profissionais de saúde, nossa maior demanda. A procura maior é pelos sintomáticos. Já tivemos uma família com cinco membros afetados e também gêmeas de 3 anos”, diz o patologista.  


Teste quantitativo 


Existe outro exame sorológico (sangue) que detecta anticorpos contra o coronavírus. Ele é diferente do teste rápido e consegue verificar a quantidade desses anticorpos produzidos pelo corpo.


“Ter anticorpos sinaliza que a pessoa está imune a uma nova infecção? Essa é a pergunta que o mundo está fazendo. Provavelmente, a quantidade de anticorpos tem um papel na resposta imune. Se a pessoa produz muito, ela será mais favorável. Essa informação vai ser útil em breve”.


Logo A Tribuna