Santos vira a capital da tatuagem neste fim de semana
Cerca de 20 mil pessoas devem participar do 1º Tattoo Festival Internacional, no Mendes Convention Center
Pioneira na tatuagem no Brasil, Santos se torna, neste final de semana, a capital da milenar arte de pintar a pele. Até domingo (23), cerca de 20 mil pessoas devem participar do 1º Tattoo Festival Internacional, no Mendes Convention Center. O evento presta homenagem aos 60 anos da chegada da técnica ao País, com o desembarque do dinamarquês Knud Harald Lykke Gregersen (1928-1983), no Porto.
Mais conhecido como Lucky Tattoo, ele trouxe na bagagem a primeira máquina elétrica de tatuagem. O histórico maquinário está em exposição no evento, junto com alguns de seus quadros retratando a então ‘boca do lixo’ – na área central da Cidade, onde floresceu a boêmia de muitas décadas.
“Ele era um pintor excepcional. Com uma visão particular e com uso técnica expressionista, Lucky conseguia representar a boca do lixo de uma maneira nada convencional. As obras não tinham valor no Brasil, e ele as vendia para a Europa por meio dos navios mercantes. Aliás, eram eles (navios) a porta de entrada para as tintas e materiais que usava para tatuar”, afirma o organizador do evento, Celso Bernardo.
Ele conta que a história da tatuagem na America do Sul está ligada a uma pequena loja na Rua João Octávio, 2. Foi ali que o dinamarquês passou a tatuar os estrangeiros de passagem pelo cais santista. Mas em outro local, na Rua General Câmara, que o pioneiro cunhou a frase “It’s not a sailor if he hasn’t a tattoo” – ou em português: ‘não é marinheiro, se não tiver uma tatuagem’. A inscrição, gravada numa placa de maneira, tornou-se marco da área portuária.
“Lucky tinha como clientes estivadores, prostitutas, ex-presidiários, marinheiros. Foram eles os responsáveis pelo início da cultura da tatuagem no Brasil”, diz o tatuador Adão Rosa, idealizador do estúdio Náutica.
Mudança cultural
Vista no passado como marginal, a prática de marcar o corpo com tinta ganhou novo status e chegou às classes sociais mais elevadas. Melhoras nas técnicas e aperfeiçoamento de profissionais são os motivos da transformação da tatuagem como forma de expressão artística e estética.
“As pessoas se tatuam para contar uma história por meio da pele. A arte encontrou na tatuagem formas para poder contar narrativas individuais, sem utilizar palavras”, comenta o tatuador Alexandre Dallier. Ele explica que a mudança ocorreu com a migração de profissionais de áreas como desenho, arquitetura, design, moda para os estúdios. “São profissionais com bagagem cultural e estudo de história da arte, que saem da faculdade com teorias e práticas”, diz.
Contudo, foi a exposição midiática por meio de artistas, celebridades e esportistas a maior vitrine. “Quando a alta sociedade começou a adquirir (a tatuagem), influenciou muito o mercado. As pessoas passaram a ver que são profissionais que fazem a tatuagem, não qualquer um”, continua Dallier.
Rosa acrescenta que novas técnicas fomentaram o segmento. “Com a evolução de material e abordagem, houve mudanças no traço, como realismo em três dimensões. A tatuagem se dividiu em categorias e estilos, semelhante à medicina em que há especialização, os tatuadores também se dedicam para estudar e desenvolver técnicas distintas”.
Técnicas auxiliam pacientes de câncer
Recentes técnicas de pintura sobre a pele têm auxiliado no resgate da autoestima de mulheres que passaram pelo trauma do câncer de mama. A dermopigmentação está ganhando cada vez mais espaço na reconstrução do mamilo, em mulheres que passaram pela mastectomia (extração da mama).
Estúdios da região oferecem o procedimento gratuito a pacientes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Depois de ganhar a luta contra o câncer de mama, muitas mulheres precisam conviver diariamente com outro problema: as cicatrizes deixadas pela doença (e não apenas as metafóricas.
“A maioria não se reconhece com tantas mudanças. Chegam ao ponto de não irem mais à praia por vergonha do corpo, apesar de nada ficar aparente. Mas é algo que machuca no íntimo dessas mulheres. Elas perdem maridos, namorados e passam por depressão”, diz a especializada nessa técnica, Regiane Lapetina.
Ela explica que a tatuagem ajuda a disfarçar as marcas deixadas com a retirada dos seios, dando um novo significado ao corpo. O resultado é similar ao natural. “Por mais que se coloque uma prótese e existam técnicas cirurgias de reconstrução de aréolo-mamilar, há o risco de rejeição e também o preço alto (da cirurgia)”.
Mais barata
A técnica de dermopigmentação custa, em média, R$ 800,00. Equivale a uma fração da cirurgia, que custa acima de R$ 6 mil. “Sem contar o risco de rejeição do corpo”. Regiane diz que mais do que o efeito estético, a arte ajuda as mulheres a se sentirem novamente bonitas. “O lance de fazer correções tem por objetivo incentivá-las a elevar a autoestima”, continua Adão Rosa, que também abre seu estúdio para reconstrução dessa parte do corpo feminino.
Confira as atrações
A programação reúne mais de 400 artistas de países comoCanadá, Estados Unidos, México, Argentina, Chile, Uruguai e Colômbia, distribuídos em 200 estandes. Também ocorre uma competição dividida em19 categorias. A melhor arte feita no evento ganhará o troféu Tattoo Lucky.
Outras atrações serãoas apresentações ao vivo, com destaques para Fernandinho Beat Box, Dead Fish, Garage Fuzz, Big Blues Band e a integrantes do grupo humorístico Hermes e Renato. Ainda há espaço geek, feira mix, exposições, workshops, salas de debate e grafite ao vivo. A entrada custa R$ 20,00. O evento acontece no Mendes Convention Center, na Avenida Francisco Glicério, 206, no Gonzaga, das 11h às 22h.