Santos vira a capital da tatuagem neste fim de semana

Cerca de 20 mil pessoas devem participar do 1º Tattoo Festival Internacional, no Mendes Convention Center

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  22/06/19  -  14:01
Mendes Convention Center recebe tatuadores para celebrar os 60 anos da arte no País
Mendes Convention Center recebe tatuadores para celebrar os 60 anos da arte no País   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Pioneira na tatuagem no Brasil, Santos se torna, neste final de semana, a capital da milenar arte de pintar a pele. Até domingo (23), cerca de 20 mil pessoas devem participar do 1º Tattoo Festival Internacional, no Mendes Convention Center. O evento presta homenagem aos 60 anos da chegada da técnica ao País, com o desembarque do dinamarquês Knud Harald Lykke Gregersen (1928-1983), no Porto.


Mais conhecido como Lucky Tattoo, ele trouxe na bagagem a primeira máquina elétrica de tatuagem. O histórico maquinário está em exposição no evento, junto com alguns de seus quadros retratando a então ‘boca do lixo’ – na área central da Cidade, onde floresceu a boêmia de muitas décadas.


“Ele era um pintor excepcional. Com uma visão particular e com uso técnica expressionista, Lucky conseguia representar a boca do lixo de uma maneira nada convencional. As obras não tinham valor no Brasil, e ele as vendia para a Europa por meio dos navios mercantes. Aliás, eram eles (navios) a porta de entrada para as tintas e materiais que usava para tatuar”, afirma o organizador do evento, Celso Bernardo.


Ele conta que a história da tatuagem na America do Sul está ligada a uma pequena loja na Rua João Octávio, 2. Foi ali que o dinamarquês passou a tatuar os estrangeiros de passagem pelo cais santista. Mas em outro local, na Rua General Câmara, que o pioneiro cunhou a frase “It’s not a sailor if he hasn’t a tattoo” – ou em português: ‘não é marinheiro, se não tiver uma tatuagem’. A inscrição, gravada numa placa de maneira, tornou-se marco da área portuária.


“Lucky tinha como clientes estivadores, prostitutas, ex-presidiários, marinheiros. Foram eles os responsáveis pelo início da cultura da tatuagem no Brasil”, diz o tatuador Adão Rosa, idealizador do estúdio Náutica.


Mudança cultural


Vista no passado como marginal, a prática de marcar o corpo com tinta ganhou novo status e chegou às classes sociais mais elevadas. Melhoras nas técnicas e aperfeiçoamento de profissionais são os motivos da transformação da tatuagem como forma de expressão artística e estética.


“As pessoas se tatuam para contar uma história por meio da pele. A arte encontrou na tatuagem formas para poder contar narrativas individuais, sem utilizar palavras”, comenta o tatuador Alexandre Dallier. Ele explica que a mudança ocorreu com a migração de profissionais de áreas como desenho, arquitetura, design, moda para os estúdios. “São profissionais com bagagem cultural e estudo de história da arte, que saem da faculdade com teorias e práticas”, diz.


Contudo, foi a exposição midiática por meio de artistas, celebridades e esportistas a maior vitrine. “Quando a alta sociedade começou a adquirir (a tatuagem), influenciou muito o mercado. As pessoas passaram a ver que são profissionais que fazem a tatuagem, não qualquer um”, continua Dallier.


Rosa acrescenta que novas técnicas fomentaram o segmento. “Com a evolução de material e abordagem, houve mudanças no traço, como realismo em três dimensões. A tatuagem se dividiu em categorias e estilos, semelhante à medicina em que há especialização, os tatuadores também se dedicam para estudar e desenvolver técnicas distintas”.


Técnicas auxiliam pacientes de câncer


Recentes técnicas de pintura sobre a pele têm auxiliado no resgate da autoestima de mulheres que passaram pelo trauma do câncer de mama. A dermopigmentação está ganhando cada vez mais espaço na reconstrução do mamilo, em mulheres que passaram pela mastectomia (extração da mama).


Estúdios da região oferecem o procedimento gratuito a pacientes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Depois de ganhar a luta contra o câncer de mama, muitas mulheres precisam conviver diariamente com outro problema: as cicatrizes deixadas pela doença (e não apenas as metafóricas.


“A maioria não se reconhece com tantas mudanças. Chegam ao ponto de não irem mais à praia por vergonha do corpo, apesar de nada ficar aparente. Mas é algo que machuca no íntimo dessas mulheres. Elas perdem maridos, namorados e passam por depressão”, diz a especializada nessa técnica, Regiane Lapetina.


Ela explica que a tatuagem ajuda a disfarçar as marcas deixadas com a retirada dos seios, dando um novo significado ao corpo. O resultado é similar ao natural. “Por mais que se coloque uma prótese e existam técnicas cirurgias de reconstrução de aréolo-mamilar, há o risco de rejeição e também o preço alto (da cirurgia)”.


Mais barata


A técnica de dermopigmentação custa, em média, R$ 800,00. Equivale a uma fração da cirurgia, que custa acima de R$ 6 mil. “Sem contar o risco de rejeição do corpo”. Regiane diz que mais do que o efeito estético, a arte ajuda as mulheres a se sentirem novamente bonitas. “O lance de fazer correções tem por objetivo incentivá-las a elevar a autoestima”, continua Adão Rosa, que também abre seu estúdio para reconstrução dessa parte do corpo feminino.


Confira as atrações


A programação reúne mais de 400 artistas de países comoCanadá, Estados Unidos, México, Argentina, Chile, Uruguai e Colômbia, distribuídos em 200 estandes. Também ocorre uma competição dividida em19 categorias. A melhor arte feita no evento ganhará o troféu Tattoo Lucky.


Outras atrações serãoas apresentações ao vivo, com destaques para Fernandinho Beat Box, Dead Fish, Garage Fuzz, Big Blues Band e a integrantes do grupo humorístico Hermes e Renato. Ainda há espaço geek, feira mix, exposições, workshops, salas de debate e grafite ao vivo. A entrada custa R$ 20,00. O evento acontece no Mendes Convention Center, na Avenida Francisco Glicério, 206, no Gonzaga, das 11h às 22h.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna