Região central de Santos começa a atrair mais moradores de outros bairros

Variedade de comércio, estabelecimentos e serviços tem sido atrativo para a procura

Por: Redação  -  26/01/22  -  20:11
O arquiteto André Gonçalves Fernandes trocou o apartamento onde vivia em um prédio no bairro da Encruzilhada
O arquiteto André Gonçalves Fernandes trocou o apartamento onde vivia em um prédio no bairro da Encruzilhada   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Por ter uma boa infraestrutura urbana, possuir uma grande variedade de estabelecimentos comerciais e de serviços e concentrar vários serviços públicos, a região central de Santos começou a atrair pessoas de outros bairros.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Há três anos, o arquiteto André Gonçalves Fernandes trocou o apartamento onde vivia em um prédio na esquina das avenidas Conselheiro Nébias e Rodrigues Alves, no bairro da Encruzilhada, por um casarão de 260 metros quadrados, de 1906, na Rua do Comércio, no bairro do Valongo.


“A primeira vez que eu entrei aqui foi para fazer um laudo. O proprietário não queria investir. Depois de um tempo, eu mesmo fiz essa proposta para restaurá-lo e ela foi aceita”, lembra.


Fernandes explica que metade do tempo empregado em sua profissão é em visitas à Prefeitura e ao Poupatempo. O trajeto a esses locais é feito a pé.


"Tudo aqui é muito próximo, até mesmo a igreja que eu frequento (Primeira Igreja Batista de Santos, na Praça José Bonifácio). Acho muito importante essas recentes ações culturais no Centro por trazer mais pessoas para cá e por dar uma opção de lazer gratuito às famílias de baixa renda que vivem nos cortiços”.


Responsável pela restauração do prédio da Alfândega, em 2001, Fernandes diz que desde aquele ano tinha a convicção que o Centro poderia receber moradias, devido ao grande número de imóveis ociosos e uma instituição de ensino superior (a Universidade Federal de São Paulo - Unifesp), que vai transferir alguns cursos para um edifício da Rua XV de Novembro.


“Se você não inserir os moradores aqui, o Centro não vai ser recuperado. Não é museu ou balada que vai fazer isso. Temos milhares de metros quadrados vazios aqui e que poderiam ser melhor aproveitados para a instalação de moradias".


Casarão anos 40
Quem também decidiu trocar a região da orla pelo Centro foi o professor e ex-vereador Fábio Alexandre de Araújo Nunes, o Professor Fabião. Ele vive desde o ano passado em uma construção da década de 1940.


"O meu momento pessoal me permite morar lá e tem sido uma experiência muito interessante. A zeladoria do Centro está muito boa e a presença de viaturas da Polícia Militar é constante, mas não sei se é suficiente para a sensação de segurança que a população quer", destaca.


Outra vantagem citada por Fabião é a variedade de estabelecimentos comerciais no entorno. Na avaliação do professor, a recuperação de alguns imóveis antigos para abrigar novas moradias é uma medida acertada do poder público. "Os projetos mais audaciosos virão de acordo com essa nova ocupação".


Segurança falha
Já a estudante Gabrielly Barbosa Silva, de 19 anos, critica a falta de segurança no bairro do Paquetá, onde mora há cerca de dez anos. Por causa dessa situação, ela procura não sair de casa no período da noite.


"Sempre tive muita dificuldade com o transporte público. Já fui assaltada por ter ficado muito tempo no ponto de ônibus no período da noite", afirma.


Ela acredita que a Prefeitura deveria ter um olhar mais atencioso para essa região da Cidade, embora reconheça que alguns projetos estão sendo realizados, mas em uma velocidade ainda tímida diante das necessidades locais.


"Vejo que há muitos locais abandonados que poderiam receber investimentos para abrigar centros culturais voltados para os jovens e até mesmo mais moradias. Por aqui tem muita casa sem gente e muita gente sem casa".


Glaucus Farinello, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano
Glaucus Farinello, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Desafio para construtores
O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Glaucus Farinello, diz que a Prefeitura já fez um pacote de revisão de leis urbanística e criou alguns incentivos para a construção de moradias na região central.


Por outro lado, ele admite que o processo de convencimento para o setor privado investir nesses bairros faz parte de uma estratégia de longo prazo e passa por obras e medidas pontuais que serão feitas pela Administração Municipal.


"É preciso demonstrar para a sociedade o potencial do Centro. Além da realização de uma agenda de eventos, é preciso fazer intervenções pontuais para atrair os empreendedores e eles acreditarem na nossa proposta".


Conforme o secretário, a nova minuta da Lei de Uso e Ocupação do Solo que será enviada à Câmara traz algumas adequações do que se exige para fazer a modernização de imóveis na região central.


Além disso, diz, a Prefeitura está dando o exemplo ao anunciar os projetos habitacionais Santos I, na Avenida São Francisco, que terá 50 apartamentos, e Santos AD, que ficará no antigo prédio do Ambulatório de Especialidades (Ambesp), na Rua Gonçalves Dias, no Valongo. O edifício será recuperado e abrigará 36 moradias.


Menos deslocamentos
Para a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Cecília, Clarissa Duarte de Castro Souza, para a cidade ser mais eficiente e sustentável é preciso diminuir os deslocamentos. Por esse motivo, é importante fixar mais famílias na região central, que tem uma boa infraestrutura.


"Algumas pessoas que já trabalham nesses bairros podem ter a chance de morar ali, o que vai estimular a instalação de novos comércios e serviços, inclusive aos finais de semana e nos horários noturnos. Vai ser criada uma nova dinâmica".


Na sua avaliação, a chegada do VLT à região central será mais um motivo para atrair novos empreendimentos ao longo das vias do entorno desse meio de transporte.


"O empreendedor imobiliário quer saber o potencial construtivo do Centro. Hoje é muito mais lucrativo fazer um projeto na região da Orla do que na área central. E isso pode mudar se a legislação urbanística assim o fizer, mas vejo que o poder público perde a oportunidade de regular o solo".


Tudo sobre:
Logo A Tribuna