Queda de elevador que matou 4 da mesma família completa 1 ano sem punição aos responsáveis
Em 365 dias, Edifício Tiffany está com dois novos elevadores, um deles em funcionamento, e contratou uma nova empresa para manutenção do equipamento
Esta quarta-feira (30) marca um ano da tragédia em que quatro pessoas da mesma família morreram após o elevador de serviço do edifício Tiffany, em Santos, despencar sete andares. O caso ganhou repercussão nacional e alertou para a segurança de elevadores em prédios.
365 dias depois, a Marinha do Brasil, responsável pelo edifício, trocou os elevadores. A empresa que presta serviço de manutenção indicou que o equipamento caiu devido a problemas de fabricação. O caso segue em aberto, com os responsáveis ainda a serem punidos.
Até então, a última notificação a respeito da investigação da queda do elevador ocorreu no mês de maio. Laudos periciais da Polícia Civil indicaram que houve rompimento da placa metálica, presa à cabine, que compõe o sistema de amortecimento do elevador. Nela, são fixados, por exemplo, os cabos de movimentação do elevador.
O edifício Tiffany, localizado na Rua Guararapes, número 33, na Vila Belmiro, é de responsabilidade da Marinha do Brasil, e abriga oficiais e funcionários da Capitania dos Portos do Estado de São Paulo (CPSP). Além do inquérito policial, instaurado pela Polícia Civil, a própria Capitania abriu um inquérito Policial Militar (IPM) para também apurar as circunstâncias da terrível tragédia às vésperas do último dia de 2019.
Após a finalização de laudos periciais no local do acidente, o documento foi encaminhado ao juízo, através de solicitação do Ministério Público Militar. Seguindo o resultado dos laudos, foram evidenciados indícios de equívocos nos procedimentos de fabricação do elevador e falhas de manutenção. A capitania não detalhou quais problemas foram encontrados.
O inquérito da Polícia Civil, que esteve sob investigação por policiais do 2º DP de Santos, delegacia responsável pela área do edifício, segue em juízo. Já o IPM foi distribuído para a 1ª Auditoria da 2ª Circunscrição Judiciária Militar que, no momento, encontra-se em fase de instrução.
Elevadores
Desde a queda do elevador de serviço, o segundo elevador, o social, seguiu inoperante durante todo o ano. Moradores do prédio que possuíam restrições de deslocamento ou condições especiais, como gestantes e deficientes físicos, receberam ofertas para serem transferidos para andares inferiores ou imóveis em outros locais. Duas famílias com gestantes foram transferidas e nenhuma outra família solicitou mudança em razão do acidente.
Somente em 28 de maio deste ano, segundo informado pela Marinha, houve assinatura de contrato para substituição de ambos elevadores do Edifício Tiffany. A substituição do primeiro elevador se deu em 5 de novembro, sendo liberado para uso imediato. No entanto, o segundo elevador foi entregue recentemente, em 23 de dezembro, mas ainda não está em funcionamento devido a pendências contratuais de acabamento.
Para estes novos elevadores no edifício, a Marinha contratou uma nova empresa para serviços de manutenção. Anteriormente, a empresa Villarta era quem prestava os trabalhos de manutenção para os equipamentos. Agora, o contrato foi firmado com a Otis Elevadores.
Queda
O elevador caiu por volta das 20h. Jucelina Santos, de 47 anos, era esposa de um suboficial da Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP). Ela desceu do seu apartamento, no 9º andar, até o térreo para buscar três familiares de Santo André, que iriam passar o Réveillon em Santos. Estavam no elevador o casal Lucineide de Souza Goes e Edilson Donizete, irmã e cunhado de Jucelina, e o filho deles, o jogador de futebol Eric Miguel, de 19 anos.
Na subida para o apartamento, o elevador começou a apresentar problemas. Inicialmente, houve uma primeira queda até o sétimo andar, quando o sistema de segurança foi acionado. Depois disso, o elevador despencou até o poço.
Imagens exclusivas obtidas por ATribuna.com.br mostraram o estado do elevador horas depois do acidente. Pelas imagens, é possível ver que o impacto da queda foi tão forte que a mola pesada de segurança, usada para absorver o impacto dos elevadores, que costuma ficar a aproximadamente 1,5m de distância do último nível do elevador, destruiu o piso da cabine, que é feito de ferro, enquanto as vítimas estavam dentro do equipamento.
Nas duas imagens feitas de dentro da cabine, é possível ver alguns pertences das vítimas, como sacolas, chinelos, peças de roupa e até um boné.
Moradores do Edifício Tiffany afirmaram ter ouvido dois estrondos. A suspeita inicial era de que os dois elevadores do prédio, o de serviço e o social, teriam despencado. No entanto, somente o de serviço caiu. O primeiro estrondo foi a queda do nono para o sétimo andar e, posteriormente, a queda até o solo.
O Edifício Tiffany foi erguido em 1998 e feito para abrigar militares que atuam na Capitania dos Portos de São Paulo (CPSP). Ao todo, são 54 apartamentos distribuídos em nove andares, com dois elevadores em funcionamento, um social e outro de serviço. Na época do acidente, moradores do prédio afirmaram, em entrevista para A Tribuna, que o equipamento estava apresentando falhas antes da tragédia.
Vítimas
ATribuna.com.br entrou em contato com a irmã de Jucelina e Lucineide. Em poucas palavras, ela afirmou que é um momento muito difícil para a família, e que a perda ainda é bastante sentida por todos.
Jucelina foi sepultada em Guarujá, enquanto seus familiares foram enterrados em um cemitério na cidade de Santo André, no ABC Paulista.
A Marinha afirmou que foi prestado todo o apoio para o suboficial e seus familiares. Foi disponibilizado para ele um novo imóvel fora do condomínio Tiffany. Sem dar muitos detalhes, a Marinha afirmou que o suboficial não é mais morador do edifício.