Projeto em escolas públicas de Santos ajuda alunos a entender universo da internet

Estudantes participam de oficinas de escrita criativa, fotografia, rádio, vídeo e mídias sociais

Por: Arminda Augusto  -  27/03/22  -  19:14
Salas ficam cheias; alunos aprendem sobre uso de forma responsável
Salas ficam cheias; alunos aprendem sobre uso de forma responsável   Foto: Divulgação

No lugar da lousa e do giz, um monitor de tela plana em uma sala com cadeiras dispostas em semicírculo. Na tela, fotos, vídeos, áudios, posts das redes sociais, memes do TikTok e muita, muita conversa.


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Essa é a descrição básica de uma atividade que vem ganhando espaço em escolas da rede pública de Santos: a educação midiática, um conjunto de oficinas, aulas e conversas em roda que têm por objetivo mostrar aos adolescentes das últimas séries do Ensino Fundamental (sétimo, oitavo e nono anos) o universo da internet, com todas as suas virtudes e riscos.


“Nessa idade, eles ainda não têm maturidade suficiente para entender toda essa oferta de mídia, de informação”, diz a jornalista e professora Andressa Luzirão, presidente do Instituto Devir Educom, que há quatro anos, por meio de parceria com a Secretaria de Educação (Seduc), desenvolve o projeto Memórias em Rede. Os recursos para a iniciativa vêm da Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino, Tecnologia e Cultura (Fapetec), instituição com 18 anos de atuação em Santos e outras cidades brasileiras.


Consumo consciente
A proposta tem por objetivo conscientizar os alunos quanto ao consumo consciente e ao uso responsável das diferentes plataformas de mídia, com toda a abundância de informação, desinformação e das chamadas fake news. Outra missão do projeto é contribuir com a reversão da maior problemática enfrentada por escolas públicas e famílias em vulnerabilidade social: a evasão escolar e a violação de direitos de crianças e adolescentes, reflexo da crise provocada pela covid-19.


Ao todo, são cerca de 80 estudantes dos ensinos Fundamental e Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) participantes, das escolas municipais Vinte e Oito de Fevereiro (Bairro Saboó), Avelino da Paz Vieira e José Bonifácio (ambas no Bairro Vila Nova) e Escola Estadual Zulmira Campos (no Castelo).


Os estudantes participam de oficinas de escrita criativa, fotografia, rádio, vídeo e mídias sociais, que servem de canais de expressão e exercício de cidadania.


A foto por trás da foto
A Tribuna
acompanhou uma dessas oficinas de educação midiática na escola Avelino da Paz Vieira, na esquina das ruas Sete de Setembro e Braz Cubas, que atende adolescentes moradores dos cortiços, região central e morros.


Na tela, fotos de cenas comuns do dia a dia são usadas como estímulo para que os meninos e meninas discorram sobre o que estão vendo e em qual contexto aquelas imagens podem ter sido feitas, e se pode ter havido manipulação ou edição da foto com outros propósitos. “Queremos que eles enxerguem mais do que a foto, mas o que ela representa, os detalhes, o cenário”, diz Andressa.


A oficina também apresentou o áudio vazado há duas semanas do deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei, em que ele fala das refugiadas ucranianas “pobres e fáceis”. Fazer os jovens ouvirem a gravação desperta a discussão sobre a guerra, a história do conflito e distorções presentes na sociedade, como machismo, misoginia e exploração sexual.


As atividades do Memórias em Rede são voluntárias, ou seja, nenhum aluno é obrigado a participar, mas as salas, em geral, ficam cheias. “Essa é uma forma de promover a expressão de cada um, a comunicação entre eles e a escola, a interação”, avalia Andressa.


Um dos objetivos é aumentar a autoestima dos alunos
Um dos objetivos é aumentar a autoestima dos alunos   Foto: Divulgação

Comunidade
Um dos objetivos complementares do Memórias em Rede é aumentar a autoestima dos alunos que vivem em áreas de vulnerabilidade social e mostrar a eles a riqueza da região onde vivem, a importância das pessoas que moram ali e dar a eles a “sensação de pertencimento”, nas palavras da secretária de Educação de Santos, Cristina Barletta.


Ela era diretora da Avelino da Paz Vieira quando o projeto começou na rede municipal, em 2018. Uma das atividades do programa é fazer com que os alunos percorram o entorno da escola e façam o papel de repórteres, entrevistando pessoas da comunidade e trazendo de volta esses relatos. “Há uma riqueza não contada fora dos muros da escola. E, quando eles conversam com essas pessoas, se sentem parte das histórias, têm orgulho de viver ali”, diz a secretária, que acompanhou de perto a evolução de alunos antes considerados “difíceis”.


Além dessa função mais ligada à relação da escola com sua comunidade, Cristina destaca a importância dos laboratórios de educação midiática. “Os alunos trazem para dentro da escola um conteúdo que já faz parte do dia a dia deles. Não há como tirar dessa geração o interesse por esse universo da internet. O que precisamos é alfabetizá-los também nessa área”.


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