Projeto Colibri busca abrir o caminho da escola a crianças

Em um ano, programa realizou 2.440 ações, em Santos, de jovens fora dos estudos. O projeto tem a missão de sair à procura, literalmente, de alunos que estão faltando na escola

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  28/07/19  -  00:43
Membros do Projeto Colibri realizando ação em Santos
Membros do Projeto Colibri realizando ação em Santos   Foto: A Tribuna

"A escola entrou em contato sobre uma criança que não estava indo para as aulas. Eu fui em busca dessa família, na Vila Telma. Encontrei a mãe na casa de uma amiga, com os filhos. A casa ficava bem na beira da maré e ela estava lá porque sofria violência do ex-companheiro. Ela decidiu dar um basta, mas era dependente financeira dele, e ainda procurava emprego. A criança estava dormindo no chão e ficou doente, por isso, faltava na escola. Os irmãos mais velhos também estavam longe da escola porque não havia quem os levasse, já que a mãe tinha que procurar emprego. O pai era usuário de drogas. Eu cheguei lá quase no final da tarde e a alimentação deles naquele dia tinha sido um iogurte".


O relato acima, feito de forma emocionada, é de uma das agentes do Projeto Colibri, mantido pelo Fundo do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Santos. O projeto tem a missão de sair à procura, literalmente, de alunos que estão faltando na escola. 


Quando o colégio identifica que um aluno não está frequentando as aulas há alguns dias e já tentou, sem sucesso, contato com a família, os agentes do Colibri são acionados e vão até a casa do estudante saber o motivo da ausência. O projeto acaba de completar um ano com 2.440 ações de busca ativa, em Santos. 


O grupo calcula 68% de resgate, ou seja, alunos que retomaram os estudos depois do trabalho do Colibri.


“O que percebemos é que a maioria desses alunos que estava faltando há dias, já vinha de um processo de defasagem escolar (tem idade para estar em determinada série, mas está cursando séries anteriores)”, conta Taís Pereira Aguiar, uma das idealizadoras do Colibri.


Vulnerabilidade


Segundo Taís, boa parte desses jovens está em famílias monoparentais e, em alguns casos, os estudantes dizem que estão desmotivados com a escola. E isso é um problema, já que estar longe dos estudos coloca crianças e jovens mais próximos da vulnerabilidade social.


Em 2017, por exemplo, o Institutos de Pesquisas A Tribuna (IPAT) realizou um levantamento com os internos das unidades da Fundação Casa na Baixada Santista e apontou que 53,7% dos internos estavam fora da escola antes da de irem para a fundação. 


Tanto que não são raras as vezes que, em conversa com as mães, fique no ar problemas com trabalho infantil, às vezes no tráfico, e drogas. “Elas não falam abertamente, logo no início, mas deixam entender que estão passando por isso”. 


Vínculos


Para realmente saberem o que está acontecendo, os membros do Colibri precisam criar vínculos com as famílias, explica uma das agentes do projeto, Caroline Cristine de Almeida. Na maioria das vezes, essas famílias não veem na escola um apoio e temem ter problemas com o Conselho Tutelar. 


Por isso, o Colibri cobra o motivo da ausência das crianças e adolescentes nas aulas, mas a outra face da moeda é oferecer apoio. “Muitas famílias não sabem como ajudar os filhos porque elas próprias vivem uma situação de escassez. E não falamos só de escassez material. Muitas vezes, é escassez afetiva. Isso acaba criando lacunas que se transformam, por exemplo, na incapacidade do jovem de valorizar a escola”, avalia a também agente Olinda Rosa Martins da Silva.


Rodas de conversa


Desta forma, uma outra frente do Colibri é realizar rodas de conversa com as famílias dos alunos. Na maioria das vezes esses encontros acontecem em horários alternativos e a equipe vai buscar os parentes, para facilitar e incentivar a participação. “Em um desses encontros, uma mãe disse que ali estava se sentindo acolhida porque a escola só a chamava para apontar os erros que ela cometia”.


Escolas com mais buscas ativas


Membros do Projeto Colibri realizando ação em Santos
Membros do Projeto Colibri realizando ação em Santos   Foto: A Tribuna

Estaduais 


EE Zulmira Campos: 124
EE Canadá: 122
EE Francisco Meira: 118
EE Alzira Martim Lichti: 116
EE Deputado EMílio Justo: 89


Municipais 


UME Cidades de Santos: 99
UME Judoca Ricardo Sampaio: 98
UME Deputado Rubens Lara - 97
UME Oswaldo Justo: 77
UME Esmeraldo Tarquínio: 64


Há vários motivos para deixar os estudos: todos sociais


Na verdade, longe da burocracia e da simples falta de resposta na hora da chamada, o Colibri enxerga, de fato, as barreiras que impedem os alunos de chegar à escola. Às vezes, é a falta de acesso mesmo: estrutura urbana. Outras, é fome ou desmotivação com os métodos de ensino. Há também falta da família ou a necessidade de trabalhar. Às vezes, são as drogas.


“E, às’ vezes, percebemos que, talvez até por sobrecarga, a própria escola que pede apoio não colabora. Por isso, o objetivo do projeto é identificar os cenários, as dificuldades para ajudar as redes (tanto municipal, quanto estadual) em políticas públicas”, afirma Edmir Santos Nascimento, um dos idealizadores do Colibri e membro da Pastoral do Menor. 


O projeto foi renovado por mais um ano e já se prepara para ao final, produzir um relatório que colabore com esse objetivo. 


Unicef


A busca ativa é uma das principais ferramentas de combate à evasão escolar e uma estratégia incentivada, inclusive, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) que mantém uma plataforma que auxilia os municípios e implantar projetos para identificar e localizar alunos que estão fora da escola.


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