Prédio comercial 'vira' residencial no centro de Santos após 37 anos

Iniciativa é a primeira no município e local terá 27 apartamentos

Por: Arminda Augusto  -  19/04/22  -  07:24
Edifício é estreito e fica colado ao da OAB-Santos. No térreo, há um saguão que pode virar academia
Edifício é estreito e fica colado ao da OAB-Santos. No térreo, há um saguão que pode virar academia   Foto: Alexsander Ferraz/AT

De um perfil mais formal, com pessoas engravatadas circulando pelo entorno do Fórum de Santos, Catedral e comércios próximos, a Praça José Bonifácio vai ganhar novos ares a partir do próximo ano. O edifício mais alto daquela praça, com nove andares e construído em 1985, deixará de ser corporativo e passará a ser residencial.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


O prédio é estreito e fica bem ao lado da OAB-Santos, no número 53 da Praça José Bonifácio, e quase passa despercebido pelo pedestre, que nem imagina o canteiro de obras montado no interior. Lá dentro, pedreiros, azulejistas, encanadores, eletricistas e gesseiros cuidam para transformar dois escritórios por andar em três residências.


O edifício foi sede do Ministério do Trabalho até o final do ano passado. Com a desocupação, o proprietário o vendeu para a Bechara Imóveis, uma imobiliária também instalada no Centro. De janeiro para cá, as mudanças continuam intensas dentro dos antigos escritórios.


Três tipos
Cada um dos nove andares terá três apartamentos: de 31, 41 e 48 metros quadrados (m2), totalizando 27 moradias. Os que dão frente para a Praça José Bonifácio são os intermediários, de 41 m2. O espaço foi dividido em dois quartos, pequena sala, banheiro, área de serviço e cozinha. Na parte que faz fundos para a Avenida São Francisco havia um único e espaçoso espaço corporativo, que foi dividido em dois tipos de moradias.


No menor (31 m2), sala, quarto e cozinha ocupam um mesmo ambiente, tipo estúdio, e há, ainda, área de serviço e banheiro. O apartamento que fica mais ao fundo é o maior, de 48 m2, também com dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço.


Universitários
Heloísa Yanagisaka, assistente da Bechara Imóveis, explica que a intenção da empresa, ao final das obras, é fazer locação, mas há a possibilidade de venda também, a depender da reciprocidade do mercado.


Outra expectativa, segundo diz, é atender um novo público, o de estudantes universitários, já que parte dos cursos e atividades acadêmicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Baixada Santista foi transferida para o prédio do Banco do Brasil, na Praça Barão do Rio Branco, há duas semanas.


Pelo andamento das obras, a Bechara Imóveis calcula que a conclusão seja em junho do próximo ano, e a ocupação vai depender dos trâmites burocráticos na Prefeitura e da emissão do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).


“Quando há mudança de perfil do imóvel, é preciso fazer nova matrícula e passar por todos os processos de vistoria e adequação, porque as exigências para (imóveis) comercial e residencial são diferentes”, explica Heloísa.


Academia e salão
O mais novo prédio residencial do Centro poderá ter, ainda, salão de festas e academia, porque já havia espaços adequados mesmo quando o edifício era ocupado pelo Ministério do Trabalho.


O salão de festas, no décimo andar, já conta com churrasqueira e banheiros. No térreo, onde era feito o atendimento ao público, há um saguão espaçoso, que poderá servir como academia do próprio prédio ou terceirizada pelo futuro condomínio.


Heloísa prevê que toda a obra de adaptação custará cerca de R$ 500 mil, mas ainda não tem ideia de quanto poderá ser o aluguel dos apartamentos ou o valor para venda.


Corredores dos escritórios antigos foram transformados em cozinhas, que terão gás encanado
Corredores dos escritórios antigos foram transformados em cozinhas, que terão gás encanado   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Aposta da prefeitura
O processo de transformação pelo qual passa o prédio número 53 da Praça José Bonifácio é a aposta da Prefeitura para trazer público e movimento à região central de Santos. Revitalizar antigos espaços, modernizá-los e dar novos usos a imóveis antigos tem nome: retrofit.


Esse processo foi possível com mudanças feitas na Lei de Uso e Ocupação do Solo e no Plano Diretor de Santos de 2018, que desobrigaram empreendimentos de alguns bairros a ter garagens e áreas de lazer.


As leis estão mudando novamente, mas devem ficar ainda mais favoráveis ao empreendedor que quiser mudar o perfil do imóvel de corporativo para residencial: se a ideia é deixá-lo misto, por exemplo, o projeto em apreciação na Câmara prevê que o acesso de pessoas pode ser único, diferentemente do texto anterior, que previa entradas diferentes.


“Há um receio por parte de alguns construtores sobre se é viável ou não esse tipo de mudança. Estamos ouvindo o setor e dando todo o suporte necessário”, diz Glaucus Farinello, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano.


Glaucus diz, também, que há incentivos fiscais ao empreendedor que investe na região central, como isenção de IPTU por cinco anos, de ISS para o período de obras e desconto no ITBI sobre a compra do imóvel.


Moradia
“A moradia tem papel fundamental nesse processo de revitalização da região central, pois possibilita a maior circulação de pessoas durante todo o dia e não só durante o expediente comercial”, diz o prefeito de Santos, Rogério Santos (PSDB).


Ele cita outros fatores que devem impulsionar o movimento, como a passagem do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) pelos bairros da região e a vinda de outros serviços públicos para imóveis antigos, como a Diretoria de Ensino de Santos, que vai se mudar para a Rua General Câmara.


Logo A Tribuna