Número de eleitores adolescentes cresce nas cidades do Litoral de São Paulo

Aumento nos últimos 4 anos supera as médias do Estado e do País

Por: Sandro Thadeu  -  24/07/22  -  18:06
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o Brasil tem cerca de 150 milhões de eleitores aptos a votar
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o Brasil tem cerca de 150 milhões de eleitores aptos a votar   Foto: Divulgação

O número de adolescentes de 16 e 17 anos, idades em que o alistamento eleitoral e o voto são facultativos, teve um crescimento de 163,35% na Baixada Santista em quatro anos, passando de 5.774 pessoas dessa faixa etária, em 2018, para 15.206.


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Essa evolução na região, proporcionalmente, é maior do que a registrada no País (51,04%) e em São Paulo (107,86%), segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


Com exceção de Bertioga, os demais municípios locais mais do que dobraram a quantidade de jovens de 16 e 17 anos que estão aptos a ir às urnas no 1º turno das eleições, marcado para o dia 2 de outubro – ver mais detalhes no quadro.


A necessidade de se envolver mais diante dos problemas enfrentados pelo País, a mobilização de lideranças jovens e do movimento estudantil e as campanhas de incentivo ao alistamento de adolescentes lançadas pela Justiça Eleitoral, inclusive com a participação de artistas, atletas e influenciadores digitais, estão entre os motivos que ajudam a explicar os números atuais, segundo apurado por A Tribuna.


Análises


O presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes) de Santos, Matheus Martins Café Santana, explicou que, nos primeiros meses deste ano, foram feitas visitas em algumas escolas e comunidades para incentivar os jovens a tirar o título de eleitor. Essa iniciativa teve a adesão de 293 adolescentes.


Ele entende que as manifestações de artistas também contribuíram para conscientizar aqueles com 16 e 17 anos a participar do processo eleitoral.


“Há o entendimento que conseguiremos mudar a realidade das pessoas através das urnas. A juventude é a mais afetada pelo que vem ocorrendo no nosso País. A evasão escolar está muito elevada. Muitos não conseguem acessar a universidade e ter um emprego”, afirmou.


A cientista política e diretora do Movimento Voto Consciente, Joyce Luz, entende que, nos últimos anos, os jovens não foram incentivados a aprender e a pensar sobre o que é a política de fato. Por esse motivo, muitos consideram um assunto “chato”.


“Muitos entendem aquilo que é transmitido pela mídia, mas ela passa apenas acontecimentos e fatos que são consequência de uma estrutura política. Ao ler o noticiário, eles se deparam com a polarização política e escândalos de corrupção. Isso os desmotiva, principalmente por não entender a importância da democracia e do voto.”.


Mestre e doutoranda em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Joyce acredita que é preciso realizar dinâmicas e ofertar um conteúdo com uma linguagem mais acessível e didática sobre a temática para tentar despertar o interesse dos mais jovens.


Na avaliação do cientista político Marcio Black, os mais novos fazem política de uma forma diferente em comparação às últimas décadas. Porém, as lideranças ainda olham isso com uma lente muito antiga.


“Isso ocorria no movimento estudantil e nos sindicatos, mas isso acabou. Muitos partidos nem têm juventude. Hoje, a renovação partidária ocorre de uma pessoa pulando de uma legenda para a outra. Eles estão fazendo política dentro de seus territórios e a partir de plataformas culturais”.


Jovens têm percepção de problemas sociais


O cientista político Marcio Black acredita que o principal fator que motivou os jovens a tirarem o título de eleitor neste ano é a percepção em relação aos problemas do País, como a grande desigualdade social, desemprego, combate à corrupção e enfrentamento aos preconceitos.


“Muitas pessoas acreditam que esse público vive em uma bolha, como se estivesse à parte da realidade que todo mundo vive e não percebesse os problemas que estão no seu entorno”, afirmou.


Em setembro do ano passado, ele participou de uma pesquisa feita pelo Ipec e encomendada pela Avaaz/Fundação Tide Setubal sobre Democracia e Eleições. Foram entrevistados 1.008 pessoas de 16 a 34 anos.


A maioria dos consultados (62%) informou que tem como principal valor social o combate à fome e à pobreza. Na sequência, apareceram os seguintes itens: combate à corrupção (35%); um país com economia forte e que gere empregos (33%); combate ao preconceito (33%); e preservação da Amazônia e do meio ambiente. Cada pessoa poderia citar três preocupações.


“Falta uma percepção das pessoas que estão em tomadas de decisão de que eles irão sofrer as consequências das decisões equivocadas. O jovem está tirando o título eleitoral agora por entender qual é a instância onde as decisões são tomadas. Eles não querem e não perder tempo e se excluir dessas situações”, afirmou.


Medo do cancelamento


Essa pesquisa também identificou que seis em cada dez participantes desse levantamento não discutem sobre política nas redes sociais por medo de ser julgados, cancelados ou tratados de forma agressiva.


Do total de participantes dessa pesquisa, 42% se apresentam como de centro, mas em uma perspectiva de neutralidade, porque enxergam que pessoas de direita e de esquerda são intolerantes e agressivas com quem pensa diferente.


“Há o entendimento que debate é sempre muito violento nas redes sociais. Por esse motivo, eles preferem falar sobre esse tema com a família e amigos. Os principais agentes influenciadores da opinião política dos jovens de 16 e 17 anos são a família, os professores, amigos e jornalistas”, explicou o cientista político.


Algumas jovens ouvidos por A Tribuna acreditam que esse público não tem falta de interesse na política. O problema é que muitos não se identificam com questões relacionadas aos partidos. Além disso, a família não os incentiva a participar das eleições.


“Esse é o principal desafio nesse diálogo. Enquanto eles não se envolverem, de fato, nessas questões, não ocorrerão mudanças em nosso País”, afirmou Raíssa Costa Lemes Duarte, que vive em Cubatão.


Ela faz parte do clube da Baixada Santista do projeto Girl Up, que foi criado pela Fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2010. O Girl Up Caiçara - nome do projeto local - fez uma campanha chamada “Seu Voto Importa”, que buscou incentivar os adolescentes de 16 e 17 anos das escolas públicas da região a tirarem o título de eleitor.


Moradora de Praia Grande, Lissandra Hellena Gonçalves da Silva Galdino, de 17 anos, disse que representantes de grêmios estudantis também fizeram um mutirão nas escolas da cidade para que os jovens tirassem o título de eleitor. “Muitos colegas entendem que é bobagem votar agora, que é muito cedo”. Durante as conversas, a gente explica que esse é um direto que temos assegurado pela Constituição Federal de escolher os melhores nomes para governar o nosso país, Estado e município. É fundamental exercer esse ato de cidadania”.


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