Músico de rua que levou ovada no Gonzaga ganha trabalhos em Santos: 'Me senti valorizado'
Jovem fez serenata para aniversariante e tocou em pátio onde estava seu carro, guinchado
Depois de ser atacado com um ovo enquanto tocava no Gonzaga, em Santos, o músico de rua Luiz Felipe Salinas Almeida conseguiu as primeiras oportunidades de trabalho para tocar. Almeida foi chamado para se apresentar em uma serenata por um morador da Cidade que queria fazer uma surpresa para a filha, que fazia aniversário. Em entrevista para A Tribuna, ele conta que, após o episódio constrangedor do começo da semana, agora se sente "valorizado" com a ajuda que recebeu de santistas.
A festa de aniversário ocorreu na noite da última quarta-feira (6). O conferente de carga e descarga Milton Nachtajler, que contratou o músico, disse que, após ler a reportagem de A Tribuna, se comoveu com a história do jovem que teve o violoncelo atingido por um ovo atirado do alto de um prédio. "Acordei e vi esta notícia. Fiquei chateado e tive a ideia de contratá-lo para fazer uma surpresa".
A aniversariante, Tamara Nachtajler, completou 29 anos. "Por conta da pandemia, não fiz festa como sempre fiz nos outros anos. Estava com três amigos em casa apenas. Eles já sabiam e esconderam", relata a filha de Milton.
Tamara disse, ainda, que, além de não saber da serenata em si, ficou surpresa com o talento do jovem. "Ele toca muito bem. Eu ouço quase todo tipo de música, principalmente rock e MPB. E as versões que ele fez ficaram lindas".
O repertório de Almeida, indicado pelo pai da jovem, continha canções de bandas como Red Hot Chili Peppers e Linkin Park. Mas as que mais emocionaram o grupo foram "Yesterday", dos Beatles, e "Hallelujah", composta por Leonard Cohen e que ganhou interpretação de Rufus Wainwright para a trilha sonora do filme "Shrek".
Os amigos de Tamara registraram os momentos em vídeo. (veja vídeo abaixo)
"Eu senti que o propósito de eu ter vindo para Santos estava sendo cumprido. Eu amo tocar na rua, mas também é muito bom quando me chamam para um trabalho", conta Almeida. "Me senti valorizado".
Susto no meio do caminho
Contudo, um susto quase acabou com os planos do jovem na noite de quinta-feira (7). O carro de Almeida foi guinchado, enquanto ele se reunia para tentar fechar mais um trabalho. "Foi por descuido meu", admitiu.
Almeida só ficou com o celular e o violoncelo em mãos. "Levaram tudo. Carregador, carteira... Fiquei até sem blusa de frio".
Ao usar as redes sociais para desabafar e relatar o episódio, outros moradores de Santos se sensibilizaram. "Não pedi nada, mas três pessoas fizeram doações por Pix que acabaram cobrindo as despesas no Pátio de Veículos".
Fãs no Pátio
Ao contrário do ocorrido no dia da ovada, o músico agora relata boas experiências com as pessoas da Baixada Santista. "As coisas estão acontecendo aqui na Baixada. Estou sentindo uma energia muito boa, Deus está abençoando demais. O pessoal está me acolhendo muito. E até no pátio pediram para eu tocar. (veja vídeo abaixo) O que começou com drama teve um desfecho muito bom".
A apresentação foi para quatro funcionários do local, na manhã desta sexta-feira (8). À tarde, ele ainda tocou para idosos em um asilo. "Um sonho realizado", conta. No sábado (9), ele deve se apresentar na loja de instrumentos musicais Music Store, cujos funcionários o ajudaram quando o ovo foi atirado.
Relembre o caso
O músico tocava violoncelo em frente a uma loja de música, na tarde de terça-feira (5), na Avenida Floriano Peixoto, no Gonzaga, em Santos, quando um ovo foi atirado do alto de um prédio, atingindo o instrumento musical do artista. "O violoncelo está cheirando a ovo agora, está fedendo", contou o artista, no dia. O instrumento foi presente do bisavô do jovem, há sete anos.
Nascido em Sorocaba, Almeida veio morar em Santos há poucas semanas, em busca de oportunidades de trabalho. Com um filho pequeno e dormindo no próprio carro para conter despesas, ele se abrigou embaixo de um toldo, contou com o apoio de funcionários da loja de música, e continuou tocando. "Preciso pagar minhas contas", disse.
