Motoboy de Santos trabalha até 16h por dia e vive 'pior momento' da profissão em dez anos
Covid-19, preço dos combustíveis e imprudências no trânsito preocupam Michael da Hora durante as mais de 30 entregas que faz por dia
"Tem sido o ano mais difícil. Pandemia, desemprego, aumento de motoboys na rua. Em dez anos de profissão, nunca passei por um momento tão difícil". O desabafo é do motoboy Michael da Hora, de 33 anos, morador do Macuco, em Santos. O medo da Covid-19, as imprudências no trânsito e o aumento no preço dos combustíveis fazem parte da rotina de quase 16 horas de trabalho em um único dia.
Michael iniciou as entregas em meados de 2012, tendo praticamente uma década de profissão. Atualmente, ele estima fazer de 35 a 50 entregas por dia, sendo uma média de duas por hora.
A cada novo destino, Michael tem a mesma preocupação: o medo de contágio pela Covid-19. Não só pela própria saúde. Mas também pela vida da esposa, dos quatro filhos e da sogra, já que todos moram na mesma residência.
“Tenho contato com muitas pessoas durante o dia. Tenho pessoas do grupo de risco que moram comigo. A preocupação não é só por mim, mas também pelos meus familiares. Existem moradores que a gente vai entregar e eles estão pouco se importando com o colapso que vivemos. Atendem sem máscaras, não pedem pra você passa álcool, e você não sabe como é a vida da pessoa. A segurança quanto a Covid está muito precária”, lamenta.
Os aumentos consecutivos nos preços dos combustíveis têm impactado diretamente no dia a dia de Michael. Com o aumento na demanda por entregas, o motoboy precisa gastar até 45% a mais para encher o tanque da motocicleta e manter o ritmo de viagens.
"Com R$ 45 eu enxia o tanque da minha moto. Agora, preciso de R$ 65. Com um tanque, eu trabalhava de três a quatro dias. A demanda tem aumentado, e conforme mais corridas, mais gastos eu tenho. Tem sido muito difícil. Fico indignado com isso", desabafa.
Em meio ao aumento nos custos, Michael chega a trabalhar até duas vezes mais do que em anos anteriores. O motoboy estima fazer de 14 a 16 horas diariamente, voltando para casa de madrugada.
"Se você trabalhava 8 horas direto, hoje, pra voltar com dinheiro pra casa, você tem que trabalhar de 14 a 16 horas por dia. Tenho que sair de casa às 7h e voltar 1h para conseguir trazer algo para a casa. De todos os anos, posso classificar esse como pior. As contas não param de chegar", relata.
Por fim, o motoboy de Santos ainda encara imprudência constante por parte de outros condutores. "São veículos que não respeitam motociclista, que trocam de faixa e viram sem dar seta. Param no semáforo, pegam celular e esquecem quando o semáforo abre. É uma falta de atenção muito grande”, afirma Michael.