Motoboy de Santos trabalha até 16h por dia e vive 'pior momento' da profissão em dez anos

Covid-19, preço dos combustíveis e imprudências no trânsito preocupam Michael da Hora durante as mais de 30 entregas que faz por dia

Por: Daniel Gois  -  17/03/21  -  10:22
Motoboy Michael da Hora afirma estar vivendo ano mais difícil na profissão
Motoboy Michael da Hora afirma estar vivendo ano mais difícil na profissão   Foto: Arquivo pessoal

"Tem sido o ano mais difícil. Pandemia, desemprego, aumento de motoboys na rua. Em dez anos de profissão, nunca passei por um momento tão difícil". O desabafo é do motoboy Michael da Hora, de 33 anos, morador do Macuco, em Santos. O medo da Covid-19, as imprudências no trânsito e o aumento no preço dos combustíveis fazem parte da rotina de quase 16 horas de trabalho em um único dia.


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Michael iniciou as entregas em meados de 2012, tendo praticamente uma década de profissão. Atualmente, ele estima fazer de 35 a 50 entregas por dia, sendo uma média de duas por hora.


A cada novo destino, Michael tem a mesma preocupação: o medo de contágio pela Covid-19. Não só pela própria saúde. Mas também pela vida da esposa, dos quatro filhos e da sogra, já que todos moram na mesma residência.


“Tenho contato com muitas pessoas durante o dia. Tenho pessoas do grupo de risco que moram comigo. A preocupação não é só por mim, mas também pelos meus familiares. Existem moradores que a gente vai entregar e eles estão pouco se importando com o colapso que vivemos. Atendem sem máscaras, não pedem pra você passa álcool, e você não sabe como é a vida da pessoa. A segurança quanto a Covid está muito precária”, lamenta.


Os aumentos consecutivos nos preços dos combustíveis têm impactado diretamente no dia a dia de Michael. Com o aumento na demanda por entregas, o motoboy precisa gastar até 45% a mais para encher o tanque da motocicleta e manter o ritmo de viagens.


"Com R$ 45 eu enxia o tanque da minha moto. Agora, preciso de R$ 65. Com um tanque, eu trabalhava de três a quatro dias. A demanda tem aumentado, e conforme mais corridas, mais gastos eu tenho. Tem sido muito difícil. Fico indignado com isso", desabafa.


Aumento no preço dos combustíveis tem sido um desafio para o motoboy Michael da Hora, em Santos
Aumento no preço dos combustíveis tem sido um desafio para o motoboy Michael da Hora, em Santos   Foto: Arquivo pessoal

Em meio ao aumento nos custos, Michael chega a trabalhar até duas vezes mais do que em anos anteriores. O motoboy estima fazer de 14 a 16 horas diariamente, voltando para casa de madrugada.


"Se você trabalhava 8 horas direto, hoje, pra voltar com dinheiro pra casa, você tem que trabalhar de 14 a 16 horas por dia. Tenho que sair de casa às 7h e voltar 1h para conseguir trazer algo para a casa. De todos os anos, posso classificar esse como pior. As contas não param de chegar", relata.


Por fim, o motoboy de Santos ainda encara imprudência constante por parte de outros condutores. "São veículos que não respeitam motociclista, que trocam de faixa e viram sem dar seta. Param no semáforo, pegam celular e esquecem quando o semáforo abre. É uma falta de atenção muito grande”, afirma Michael.


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