Morre aos 102 anos Edith Pires, a Dama de Santos

Ela morreu em casa, na manhã desta quarta-feira

Por: Matheus Müller  -  17/03/22  -  13:19
Atualizado em 17/03/22 - 21:11
Segundo o neto, Edith morreu em casa de causas naturais aos 102 anos
Segundo o neto, Edith morreu em casa de causas naturais aos 102 anos   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Morreu aos 102 anos, por volta das 10h desta quinta-feira (17), Edith Pires, conhecida por muitos como a Dama de Santos, a mulher que quando menina encantou o médico e poeta Martins Fontes com seus olhos azuis e, mais tarde, já adulta, atraiu a atenção como escritora, em suas histórias contadas em livros, além é claro da luta em defesa das mulheres. Ela deixa dois filhos, quatro netos e quatro bisnetos.


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A partida, segundo o neto Marcelo Montero, com que morava, aconteceu em casa e por causas naturais. O velório foi marcado para esta sexta-feira, às 14h, e a cerimônia de cremação ocorrerá às 18h. Edith completaria 103 anos no dia 6 de julho deste ano.


Em março de 2021, em entrevista à A Tribuna sobre o Dia Internacional da Mulher, Edith contribuiu com a Reportagem. Por intermédio do próprio Marcelo, contou que a idade só lhe trouxe experiência, sobre o período de sua juventude em que morou no Casarão Branco – hoje a Pinacoteca Benedito Calixto, a família e a importância de ser e defender as mulheres.


A Dama de Santos lembrou, por exemplo, que no passado a mulher tinha dificuldade de se encaixar na sociedade.


“Muitas profissões não eram reconhecidas para as mulheres, achavam que eram apenas para homens. E tinha muita mulher preparada. A sociedade era mais machista e havia restrição. No tempo em que eu era moça, raramente se encontrava uma mulher advogada ou engenheira”, disse à época.


Uma luta que persiste até hoje, de outra forma, e com o acúmulo de outras funções. Sobre a família, Edith demonstrava imenso prazer e orgulho em ter tido dois filhos, que depois lhe deram quatro netos e quatro bisnetos. “Eu acho que não errei em nada como mulher. Procurei cumprir minhas missões como dona de casa, como mãe, como avó e me tornei uma pessoa assim, embevecida (encantada) pelos descendentes que eu deixei.”


Vida no casarão

Edith nasceu em São Paulo, em 6 de julho de 1919. Era a caçula dos 12 filhos do corretor de café Francisco da Costa Pires e Zulmira Barros. O casal teve os 10 primeiros em Santos, cidade para onde voltou dois anos depois, em 1921. Primeiro foram morar em um sobrado na esquina da Avenida Vicente de Carvalho com a Rua da Paz e, depois, comprou o imóvel onde já haviam residido, o Casarão Branco.


Francisco precisou vender a casa em 1935, após os negócios terem sido muito afetados pela quebra da Bolsa de Nova Iorque, nos EUA, em 1929.


Mulher engajada e escritora

A escritora passou a vida ao lado do marido Ciro, que era fiscal de rendas da Delegacia Regional Tributária do Estado de São Paulo. Em casa, cuidou dos dois filhos do casal e, por isso, não pôde exercer o magistério – profissão para qual se preparou.


Durante esse tempo, ela foi voluntária da Associação Espírita Beneficente Anjo da Guarda, considerada a segunda instituição espírita mais antiga do Brasil; escreveu um livro sobre a história da entidade e não parou mais de escrever, principalmente as próprias histórias.


A Dama de Santos também atuou em várias instituições culturais e sociais, uma delas o Movimento de Arregimentação Feminina (MAF), onde foi diretora de 1999 a 2014. Além disso também participou do Clube XV, no Museu de Arte Sacra, Academia Santista de Letras, na Academia Feminina de Letras, entre outros.


Martins Fontes

Essa marcante passagem envolvendo o médico e poeta Martins Fontes aconteceu em 1921, quando este esteve na casa da família de Edith para atender a mãe dela, Zulmira, que havia levado um tombo. Naquele dia, consta que ele ficou paralisado diante dos olhos azuis da menina de 2 anos, em pé, no berço, e pediu um tempo para escrever um poema.


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