Jovem de Santos reprovada em 10 entrevistas de emprego abre clínica após improvisar estúdio em casa

Após passar quase dois anos dormindo no chão, Paolla Barbosa de Lima passou a 'voar alto' e empreende em espaço próprio

Por: Ágata Luz  -  27/07/22  -  08:31
Para Paolla, os esforços diários eram combustíveis para alimentar o sonho da clínica
Para Paolla, os esforços diários eram combustíveis para alimentar o sonho da clínica   Foto: Alexsander Ferraz/AT e Arquivo Pessoal

Após superar as reprovações em mais de 10 entrevistas de emprego e abrir o próprio estúdio de beleza dentro de casa, a santista Paolla Barbosa de Lima, de 21 anos, ‘voou’ ainda mais alto no mundo do empreendedorismo e inaugurou a própria clínica no bairro Encruzilhada, em Santos.


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Hoje, a designer de sobrancelhas atribui o salto na carreira à dedicação de não apenas trabalhar, mas guardar a maior parte do lucro pensando em investir no próprio negócio. “Sempre quis sair de casa. Eu queria ter algo maior e não era nem pelo incômodo de estar em casa, mas por sentir que a empresa precisava”, ressalta a jovem, que começou o negócio em outubro de 2020, quando transformou o quarto em local de trabalho.


“Eu separava um pouco (da renda) para mim e para as contas, mas a maior parte guardava pensando na clínica”, explica. Para isso, portanto, a jovem dormia em um colchão no chão, já que trocou o conforto da cama pelos móveis do estúdio. Durante a noite, ela pegava o colchão que ficava guardado embaixo da cama da mãe e levava para o estúdio/quarto. “Todo dia fazia essa troca”.


Para Paolla, os esforços diários eram combustíveis para alimentar o sonho da clínica. “Em nenhum momento eu me sentia pequena. Toda noite, quando eu transformava o meu estúdio em quarto novamente, deitava naquele colchão e começava a sonhar. Sentia orgulho de estar dando o melhor que eu podia naquele momento”, destaca.


Para Paolla, os esforços diários eram combustíveis para alimentar o sonho da clínica
Para Paolla, os esforços diários eram combustíveis para alimentar o sonho da clínica   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Ela garante que o fato era segredo, inclusive entre os amigos. “Porque acredito que existem lutas que nós só contamos quando elas se tornam testemunho”. Hoje, conta a história com muito orgulho. “Sei que serve de inspiração para quem tem pouco ou quase nada para começar”.


Mudanças

Vivendo em uma realidade totalmente diferente, ela diz que a principal diferença que sente na clínica vem da própria mente. “Pelo conforto de entender que tenho a minha casa e meu trabalho. Eu tinha uma certa dificuldade, pois quando terminava meu expediente, não sentia que podia relaxar 100%. Hoje, quando eu chego em casa, eu durmo”, compara.


Paolla inaugurou a clínica em um prédio comercial no início de maio e, agora, conta até com uma secretária. Isso porque foi necessário outra pessoa para organizar a agenda de cerca de 150 clientes da designer, que além de atuar com procedimentos nas sobrancelhas e cílios, ainda dá cursos de especialização na área.


“Tinha muita demanda no Whatsapp e como eu trabalhava o dia inteiro, acabava deixando as pessoas esperando muito tempo. A Ana foi minha cliente desde o comecinho, ela é tão dedicada que resolvi a chamar”.


Com ajuda de um arquiteto, Paolla personalizou cada canto do espaço para distribuir as atividades que realiza
Com ajuda de um arquiteto, Paolla personalizou cada canto do espaço para distribuir as atividades que realiza   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A sonhada inauguração aconteceu cerca de três meses após a empreendedora assinar o contrato de aluguel na sala comercial, pois o local ainda passou por uma reforma. “Eu arrisquei. Quando procurei um lugar em fevereiro, estava só pesquisando. Mas encontrei. Me apaixonei pela proposta da varanda, mas queria que o espaço passasse a essência da marca. Queria uma nova fase da empresa com uma cara de clínica, mais estruturada, mas também queria sensação de casa”, ressalta.


Com ajuda de um arquiteto, Paolla personalizou cada canto do espaço para distribuir as atividades que realiza e também chamar atenção das pessoas. “Quis que as pessoas tivessem vontade de tirar foto e estar dentro. Minha proposta é essa. Não quero atender em grande quantidade, quero atender as clientes que estão dispostas a pagar pelo meu serviço, mas para que elas vivam uma experiência aqui dentro”.


Superação

Segundo a designer, a chave para superar as rejeições das entrevistas de emprego e investir em si própria foi passar a se observar de outra forma. “Sempre falo que começar pequeno é diferente de se enxergar assim. Quando comecei no meu espaço em casa, já me enxergava grande como empresa porque acreditava no propósito que queria oferecer. Então o que me fez crescer, além da força de vontade, foi não passar para o mundo a imagem de que era pequena só por causa da condição que estava naquele momento”.


Ela conta que a cada reprovação nas entrevistas de emprego, procurava focar na vida que queria ter dali para frente. “No Instagram, eu falava com autoridade, mesmo com poucas clientes na agenda. A forma que eu me posicionava fazia as pessoas enxergarem em mim quem eu queria me tornar”.


A faculdade de Marketing também foi um diferencial para uma boa comunicação. “A maioria das minhas clientes vem de redes sociais e indicações”. Agora, ela sonha ainda mais alto. “O meu sonho final é ter uma casa de estética com várias profissionais trabalhando”, finaliza.


Paolla apostou em uma sala comercial com varanda para proporcionar um ambiente aconchegante às clientes
Paolla apostou em uma sala comercial com varanda para proporcionar um ambiente aconchegante às clientes   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Visão geral

O exemplo de Paolla é o da maioria dos microempreendedores, segundo a consultora de negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que atua em Santos, Michele Divino. “Não é certo ou errado, mas pela ordem natural, as pessoas começam o pequeno negócio trabalhando em casa. Isso é muito comum”.


No entanto, a consultora relata que para se destacar no mercado é necessário um diferencial. “Não é por estar em casa que não precisa ter a organização de uma empresa. Não é proibido atuar em casa, é proibido não ter planejamento ou organização”.


Em uma visão geral, Michele explica que antes de abrir o próprio negócio, a pessoa precisa estar bem orientada, bem como no momento de dar um passo para frente e sair de casa, por exemplo.


“Para abrir sua empresa, é importante identificar a oportunidade de negócio, que seria tentar resolver o problema de alguém ou entender que as pessoas possuem certas necessidades que não conseguem resolver sozinhas. Desvendada a oportunidade de negócio, é necessário fazer o planejamento para tentar entender o mercado”.


Em seguida, a pessoa precisa analisar se há público para o seu negócio. “Às vezes as pessoas se traem abrindo empresas a partir das suas próprias necessidades, sem entender se o mercado configura essa necessidade e há volume para manter o negócio de pé”, ressalta.


Isso tudo, segundo a consultora, faz parte de planejamento. “O Sebrae tem cursos sobre isso. Tendo respaldo do plano de negócios, é hora de calcular o custo e o gasto, focar no público, divulgação e as possibilidades de faturamento e volume de venda”, explica Michele. Em resumo, para abrir a própria empresa com segurança é preciso ter um plano de negócios e entender qual a utilidade da ideia para a região ou o público.


Já com a empresa estruturada, Michele diz que os empreendedores precisam estar atentos antes de fazer um grande investimento, como alugar um ponto fixo. “É necessário ter controles financeiros da atividade na mão. A partir do momento em que há um fluxo de caixa claro e objetivo em que a pessoa percebe que está lucrando, esse valor deveria ser reinvestido no próprio negócio. O aumento de vendas também é indício para crescer”.


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